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janeiro 26, 2021

CANÇÃO DE UM CREPÚSCULO CARICIOSO



CANÇÃO DE UM CREPÚSCULO CARICIOSO

 A tarde expira, serena... 
Adormece em minha mão 
a pena suave, a pena 
com que, na tarde serena,
 vou compondo esta canção. 

 Um casinholo da vila,
 na sombra do entardecer, 
iluminado cintila. 
O movimento da vila 
começa agora a morrer. 

 Vem de longe, dos carreiros,
 a mágoa sentimental 
da canção dos boiadeiros. 
Que doçura nos carreiros, 
ocultos no matagal! 

 Num recôncavo da praia, 
soturno soluça o mar. 
Soluça... A tarde desmaia... 
E o mar no lenço da praia 
limpa os olhos, a chorar... 

 Muito à distância, navios 
que o crepúsculo esfumou,
 vão partindo, fugidios...
 A voz triste dos navios 
diz adeus a quem ficou...

 E a tarde expira, serena... 
Adormece em minha mão 
a pena suave, a pena 
com que, a tarde serena, 
vou compondo esta canção...
 
Ribeiro Couto

2 comentários:

  1. Este poema é lindo. Foi usado por Villa-Lobos no seu ciclo de Serestas. É a Seresta nº 8, com o título de "Canção do carreiro". Ele usou o título original do poema como sub-título na canção.
    Aqui, uma das gravações que mais gosto de Aldo Baldin:
    https://youtu.be/aGdDGjCkUNY

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