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março 20, 2009

BOLAS DE GUDE



BOLAS DE GUDE
(Genaura Tormin)

Quero gravar
Todas as agonias.
Quero chorar
O pranto da saudade
E a tristeza dos momentos.

Quero ser os acordes
E um violino
E na fantasia
Jogar a tristeza fora.
Quero alçar meu vôo,
Cultuar a liberdade dos meus cantos,
Do meu pranto.

Quero que as lágrimas
Sejam bolas de gude,
E com elas sorrir e cantar,
Sem ter que chorar por dentro.

Quero fazer um brinde,
Enaltecer a verdade,
Sem ver que ela nunca existiu.

Mas,
Se tudo fosse verdadeiro,
O cometa perderia o espanto
E a alma,
Esgueirada em gargalhadas,
Rasgar-se-ia em bandeirolas
Para enfeitar a vida.

PIROMANIA


PIROMANIA
(Genaura Tormin)

Quero gritar
E me completar no silêncio
Dos meus medos.
Fazer uma torre
Dos nervos rotos,
Calcinados, sangrados de desejos.

Contorcer as angústias
Nos rodopios de bailados mortos,
Na loucura estridente,
Tão inclemente,
Desta piromania
Que me embala,
Me cala,
Mas me faz viver.

Quero mostrar
A úlcera do meu ventre,
O vazio do meu útero!
Quero ser fêmea presente,
Incendiária de amor.

MINHA MÃE



MINHA MÃE
(Genaura Tormin)

Minha mãe!
Quanta saudade!
Brado o seu nome
E tenho o eco por resposta.

O telefone do céu está mudo.
Há muito tempo vivo órfã!
Preciso de um colo
Para descansar meu corpo,
Preciso de um ombro
Para chorar.

Mãe,
Preciso de você para me guiar!
Queria dar-lhe o carinho que guardei.
Dizer da vida,
Das dores, dos amores
E das quedas que levei.
Estou indefesa,
Uma criança outra vez.
São tantas as queixas...

Mãe,
Sua presença me devolve a paz.
A silhueta etérea me acompanha
E sob as suas asas sou amada.
Mas é sempre em sonho
E você me deixa quando alguém me toca.
A claridade quebra o encanto.
E ainda por um instante, deixa-me fitar
Os olhos azuis de quem eu amo tanto!

LAMENTO



LAMENTO
(Genaura Tormin)

Serei o grito do vento
E a tristeza dos que se foram.
Desafinadas as cordas,
Esquecerei a melodia,
Queimarei os versos,
Cultuarei as cinzas
Restos de alegria.

No outono,
Com um sopro quente,
Afinarei as cordas
E outros versos farei.

Cantarei o desalento do tempo,
E vestirei máscara de palhaço
Para gargalhar a vida.

E os desejos
Alcançarão o infinito,
Colados nas asas das pandorgas,
Protótipo de uma nova liberdade.

ENTREGA



ENTREGA
(Genaura Tormin>

É noite
Nos meus cantos e recantos.
Muita nostalgia,
Muita agonia....
Descubro-me sozinha.

Apenas as mariposas,
Fazem-me companhia.
A dança frenética,
Em doce melodia,
Adorna a pouca claridade.

Lá fora,
A sutileza do vento,
As intempéries do tempo
Numa fúnebre ventania.

Cartas na mesa,
Jogo no chão.

RELÓGIO MALVADO


RELÓGIO MALVADO
(Genaura Tormin)

Ontem
Te fiz a última poesia.
Falei tanto do meu amor!

Ontem
Ouvi tua música preferida
E tua imagem se fez profunda em mim.

Mergulhei
Em cada canto do teu corpo
E me deixei ficar,
Embriagada
Na ternura dos teus braços.

Ontem
Tive o prazer de ter-te ao meu lado,
No tapete verde de um gramado,
No êxtase sem fim
De beijos e abraços,
Onde éramos as vítimas
De um amor cumpliciado,
Astuto,
Rebelde
E ouriçado.

Quando explodia em mim o coração,
E o sentimento
Sem amarras me vencia,
Eis que o despertar do relógio no criado
Devolve-me à realidade,
Quando pude perceber,
Que apenas,
Havia eu SONHADO.

ADVERTÊNCIA



ADVERTÊNCIA
(Genaura Tormin)

Fale aos que passarem,
Diga aos que vierem
Que o vento levou o amor.
Era uma pandorga de papel,
E no céu, desapareceu.

O amor existiu, e foi lindo,
Matizado de fragrâncias,
Colorido de ternura.
Tinha sabor de festa...
Mas perdeu-se por ínvios caminhos,
Destruindo a fé,
Esfacelando a vida.

Diga das poesias,
Das flores que enganaram a alma
E dos lamentos
Que se misturaram no ar.

Diga da dor
Aos mendigos que passam,
Aos seresteiros da madrugada,
Aos pássaros que cantam...
Diga dos olhos marejados,
Da ferida aberta que nunca sara!

Diga que a dúvida matou o querer
E a essência exala,
Ficando em tudo
A saudade de uma pandorga perdida.

ESQUECIMENTO



ESQUECIMENTO
(Genaura Tormin)

O mundo desaba
Sem piedade,
Sem compaixão.

O tempo diminui,
A distância cresce,
O amor esquece
Tantas confidências,
Tantos momentos
De felicidade.

Nada faço.
Nada resta.
Imagem apagada,
Final de festa.

SOBRA



SOBRA
(Genaura Tormin)

Os desejos não latejam,
Não queimam,
Não ouriçam fantasias mortas.

Apenas uma
Parede branca,
Um elo solto,
Um laço roto
E uma lembrança gasta.

ISSO E VIDA!


ISSO E VIDA!
(Genaura Tormin)

Vida
Cheia de percalços,
Versos e reversos,
Muitos obstáculos.

Muitos desafios
Fazem-nos guerreiros,
Equilibristas de um circo
Chamado destino.

Estamos sempre a cozer,
Remendar falhas,
Cerzir buracos.

Vida
É uma colcha de retalhos.
Às vezes de um colorido vivo...
Outras, matizados,
Desbotados,
Envelhecidos.

Momentos
Sonhados, queridos,
Mas também sofridos,
Engastados no frio silêncio
Que arqueja mórbido, cansado...

EVIDÊNCIA



EVIDÊNCIA
(Genaura Tormin)

No silêncio,
Lamentos tardios
E escusas do que se foi.

O cérebro confunde
Os desejos esquecidos.
O tempo está parado,
O vento não encanta,
Como outrora,
Porque as flores
Já não exalam perfumes.

Não há espera...
Ela não é necessária.
Os dias são normais.
O querer se foi
Com o entardecer
Nas chuvas de março.

Mesmo assim,
Eu sinto frio.
Tudo está tão só.
No silêncio,
As respostas de perguntas
Feitas ao nada.

COMEÇO DO FIM


COMEÇO DO FIM
(Genaura Tormin)

O tempo está inerte,
O sorriso não vem
E pulsa descontrolado
O coração cansado.

Não há vida no ar,
Nem espera,
Porque é o limite da hora,
O começo do fim.

O querer morreu.
Esfacelado está o sentimento
No vazio do nada.
No silêncio,
Apenas
Uma lágrima de mulher.

POETA


POETA
(Genaura Tormin)

Ser poeta,
É viver todos os momentos,
Cantar sentimentos,
Ter sempre “olhos de primeira vez”.

É voar
Nas caudas dos cometas.
É ser dono das estrelas,
Da natureza,
Do infinito,
E ao mesmo tempo,
Não ser dono de nada.

Ser poeta,
É ser METAcoração,
Sentir gosto no sofrer,
Amar a solidão.

Ser poeta,
É conversar com a chuva.
É ser louco ou lúcido
Quando precisar.

É não ter limites,
Driblar barreiras,
Ultrapassar divisas,
Alar o mundo feito borboletas.

Ser poeta,
É deixar rolar o sonho
Maior do que a estrela.

AGONIA MUDA



AGONIA MUDA
(Genaura Tormin)

Um tédio ambulante caminha pelo quarto,
Impregna o ar que circula,
Escorre pelas paredes solitárias.

Em tudo,
Um gosto amargo de dor.
Pasmada, permaneço imóvel.
Em cacos,
Desfaz-se o sentimento.
Indômita, ainda tento resistir.

Na tela indolor do tempo,
Não há bolo de despedida,
Apenas lágrimas que molham
Meu rosto assombrado,
Desenhado na mente fragilizada.

O silêncio se faz
Em súplicas inaudíveis.
E o cutelo da morte
Ameaça golpear-me a alma,
Matar o que restou de mim.

Perdidos,
Estarão os decretos do amor,
As confidências do que sou,
Do que fui...
Tudo,
Tão precoce!

Não há clemência,
Para tão dura sentença.
Agonizam em mim
Os estertores do fim.
Nem mais sei quem sou.

SEM SOLUÇÃO


SEM SOLUÇÃO
(Genaura Tormin)

Brinquedo quebrado,
Imagem esquecida,
No céu,
Ao léu,
Na estrada dolorida
Desta ingrata vida.

Momentos roubados,
Acalentados
No peito da agonia.

Fim da estrada,
Porta fechada,
Noite perdida,
Sem saída,
Sem prospectos,
Só solidão.

Eis-me de novo
A esperar sempre,
Sem solução.

POEMA TRISTE


POEMA TRISTE
(Genaura Tormin)

Quero fazer um poema triste.
Que não fale de amor,
Nem de festa,
Nem de flores.

Quero falar de mim.
Desta solidão,
Jeito único,
De postura estática,
Interminável,
Irreversível.
Deste calafrio
De ossos em desuso.

Quero falar
Deste sufoco no peito,
Sorriso sem jeito,
Impotência que cerceia,
Feito peias
Ou sereias.

Amarras
Que escravizam,
Matam
Ou sublimam,
Fazendo incursões ao infinito,
Melhorando este meu espírito,
Para bailar
Noutras fantasias.

REFÉM DE MIM MESMA


REFÉM DE MIM MESMA
(Genaura Tormin)

Encolhidos em mim,
Jazem as tristezas,
Os amores todos,
Os restos de afeto,
De aconchego, de ternura...

No meu casulo,
Minhas saudades
Abrandam e abrasam
Os desejos refreados,
Ainda molhados de sonhos.

As pedras feriram-me os pés!
Os laços foram desfeitos.
A caminhada revela
A fotografia singela
De um corpo mutilado,
Um coração machucado
E uma bandeira a defender.

Agiganta-se a fé
Nos credos que professo.
De aço me revisto inteira.
Sou refém de mim mesma.
Um soldado aguerrido
À frente da trincheira.

NESGAS DE SAUDADE


NESGAS DE SAUDADE
(Genaura Tormin)

Quanta saudade daquele tempo!
Dos verdes anos lá na fazenda...
Do sol nascendo na serra,
Qual bola de fogo,
Dissipando a escuridão.
O mugido do gado,
O copo de leite no curral...
Ah, quanta saudade!

E o dia da pamonhada,
Dos mutirões...
Todos ouriçados,
Parentes e vizinhos,
Amigos aos punhados.

Verdes campos.
Natureza em festa,
Onde as gotas de orvalho tremulavam
Nas cores do arco-íris,
Aos albores da aurora,
Orquestrada pela passarinhada.

As espigas de milho,
Feito bonecas de cabelos ruivos,
Ao açoite do vento,
Dançavam no verde salão do milharal,
Regidas pelo alarido das maritacas.
Era uma tela pintada nas cores da esperança,
Por isso era tanta bonança...

Laboriosos,
Todos compartilhavam alegres, festivos,
Cantando modas de viola,
Enquanto preparavam as roliças pamonhas,
De doce, de sal,
À moda, com lingüiça, pimenta e queijo...
O paladar aflorava o apetite,
Com o cafezinho quente,
Torrado na roça e moído na hora,
Do jeito lá do sertão.

Quanta simplicidade,
Quanta vida!
Quanta solidariedade
Capaz de aumentar afeto,
Enflorar corações
No laço gostoso da amizade.

COLORAÇÃO



COLORAÇÃO
(Genaura Tormin)

O dia chegara colorido,
E foi tão bonito!
O sol brincava de esconder-se nas colinas.
Tudo era de “faz-de-conta”.

Vi chegar a luz,
Chegarem as nuvens
Com embrulhos tamanhos,
Pendurando-os nas paredes do dia.

A alegria viera junto.
Gritei tão alto,
Tão alto,
Que me tornei em eco.

O céu partira-se
Em pedacinhos curtos,
Que aos poucos formara um todo
A que chamei de AMOR.

Em festa,
Os pensamentos dançavam,
E, na fantasia,
O mundo era fraterno.

Brinquei com a roupagem da tarde,
Esmaecida em belo arco-íris.
Descobri caminhos pintados,
Sorrisos escancarados,
E vi que o pássaro molhado
Cantou feliz,
Quando a noite chegou.

MEDITANDO



MEDITANDO
(Genaura Tormin)

Dia comprido,
Sem sol,
Sem flores,
Sem amores.

Frio no tempo,
Cansaço,
Loucura,
E na alma,
O muito que apavora.

Em tudo,
A saudade que queima,
A lâmina que fere,
O frio que aumenta,
A lágrima que cai
E a dor do irreversível.