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janeiro 11, 2021

NUNCA HOUVE PALAVRAS



NUNCA HOUVE PALAVRAS

Nunca houve palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.

E não havia um nome para a tua ausência.

Mas tu vieste.

Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?

Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.

Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.

Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.
Como se estivesses triste

Joaquim Pessoa




De súbito cessou a vida.


De súbito cessou a vida.

De súbito cessou a vida.
Foram simples palavras breves.
Tudo continuou como estava.

O mesmo teto, o mesmo vento,
o mesmo espaço, os mesmos gestos,
Porém como que eternizados.

Unção, calor, surpresa, risos
tudo eram chapas fotográficas
há muito tempo reveladas.

Todas as cousas tinham sido
e se mantinham sem reserva
numa sucessão automática.

Passos caminhavam no assoalho,
talheres batiam nos dentes,
janelas se abriam, fechavam.

Vinham noites e vinham luas,
madrugadas com sino e chuva.
Sapatos iam na enxurrada.

Meninas chegavam gritando.
Nasciam flores de esmeralda
no asfalto! mas sem esperança.

Jornais prometiam com zelo
em grandes tópicos vermelhos
o fim de uma guerra. Guerra?...

Os que não sabiam falavam.
Quem não sentia tinha o pranto.
(O pranto era ainda o recurso
de velhas cousas coniventes.)

Nem o menor sinal de vida.
Tão-só no fundo espelho a face
lívida, a face lívida.

Henriqueta Lisboa
Publicado: A Face Lívida (1945)

JANELA


JANELA

Quem é você que se esconde por traz da janela!
Pela vidraça, vejo o seu rosto quieto.
Em silêncio eu arrisco ler seus pensamentos
Fixados na janela do seu quarto
Só um leve sorriso alcançou os meus olhos..
Seu olhar nada expressa, menos mal!
O tom não definido, mas pintei...
Com a cor da minha imaginação

Glória Dantas

SAUDADE


SAUDADE

Nesses versos sem rimas
extravaso a dor da tua saudade... 
E a certeza de não mais te ver
faz os meus dias sombrios e sem crença,
pois levastes contigo a alegria do meu viver.

Como te procurar... Para que te procurar, 
se já senti o gosto da solidão
mesmo estando em teus braços? 
Triste lembrar o teu olhar perdido...
E eu, iludida, não percebia
Que com outra tu vivias a sonhar.

Glória Dantas

MARCAS


MARCAS

O tempo esmaga, devora..
Mas não mata nossa sensibilidade.
E quando passa, acumulamos experiências
e deixam no rosto marcas
que nem sempre percebemos.
O coração criança
respira ainda os delírios da juventude
e dos anos vividos.
Já não choro o tempo que passou, 
pois faço dele meu presente...
Mas meus passos cansados, 
a mente dispersa..
No entanto, sigo a minha estrada,
contemplando a vida,
que a cada instante me chama para o momento.
Já não olho para trás, 
Pois há muito o passado se perdeu
Nas curvas, nas esquinas, 
Que já nem lembro mais...

Glória Dantas

NOS BRAÇOS DO TEMPO


NOS BRAÇOS DO TEMPO

Sinto cada gota de lágrima 
que banha meu rosto, 
mas que suaviza a fadiga da face sofrida. 
Alma aflita, que procura liberdade para fugir... 
Já não importa em que direção... 
Só quero sumir entre vendavais, 
tempestades, qualquer lugar 
onde eu possa adormecer, 
nos braços do tempo, em pleno Céu aberto. 
Ânsia louca, desespero completo
que me tira a noção do adequado...
Abreviar seria prudente... 
Pois sinto o peso que castiga meus dias.

Glória Dantas

Saudade


Saudade

A saudade sempre vai existir em mim...
Às vezes me dá as costas, por alguns minutos,
e quando retorna, caprichosa e fagueira,
vem achando que tudo pode...
Pretensiosa e arrogante, não pede licença...
Nem pergunta se pode ficar!

Glória Dantas

A vida é...


A vida é enchente de surpresas
que exibe suas marcas, sem compaixão
deixando ausente 
os raros momentos de outrora....
devolvendo lembranças amargas.

Um verdadeiro vendaval de aflição...
condenando a viver na legítima solidão.
Face cansada, olhos brilhantes
que refletem pura saudade!
O sorriso, adereço raro, abrigado
no mais profundo silêncio da alma

Glória Dantas

Liberdade


LIBERDADE...

Você me deixou livre,
mas eu não queria essa liberdade imatura.
Queria sua mão, segurando a minha...
Apertando delicadamente.
Ao caminhar na estrada..
Medir qual o maior passo e
comparar se as pegadas no solo
faziam diferenças das minhas. 
Não quis! Sem Magoas!
Assunto concluído, sem emoções.
Sem as quatro estações!

Glória Dantas .

Colhendo


COLHENDO

Quando não temos um motivo para sorrir
O melhor é colher flores.
Somente elas entendem..
O porque do silêncio
Abrace sua dor com sabedoria,
colhendo flores no campo..


Glória Dantas

Palhaço


PALHAÇO

Escondido dentro de cada criatura
Há o encanto de um palhaço.
Busque nos olhos, não no sorriso!
Busque na sensibilidade da alma
e encontrará sonhos e emoções.
Desejos desesperados
de esquecer os golpes da vida.
Por isso que o palhaço
“Pinta o rosto Pra chorar”

Glória Dantas

Viver é correr atrás dos sonhos


VIVER...

Viver é correr atrás dos sonhos
Buscar entendimento das coisas
Ser da paz
Agradecer às dádivas recebidas
Buscar e fazer o bem
Estar sempre jovem.

Glória Dantas

Não quero...


Não quero que me idolatre, apenas que me entenda.
Que me escute quando eu pedir atenção.
Que compartilhe os momentos de tortura.
Quando meu coração clamar piedade, certamente...
Já ultrapassou os limites e chora silenciosamente.

Glória Dantas