Afinal o que eu sinto
é o sofrimento atroz
de muito tarde descobrir que nunca
falaremos em nós...
Eu, serei eu; - tu, serás tu,
e eternamente assim
nem nunca me terás como queres que eu seja
nem serás como eu quero que sejas pra mim...
Muito tarde... muito tarde...
-depois que assim te quero, e preciso de ti
como os pulmões de ar
ou os olhos de luz,
é que vou descobrir que se ficarmos juntos,
eu poderei te odiar, tu poderás me odiar!
- Quem diria afinal, ao que o amor se reduz?!
Estraguei tua vida e desgraçaste a minha
e fomos acordar, os dois, tarde demais...
Agora, eu sigo só,
tu, seguirás sozinha,
eu, fugindo, - covarde!...
a este amor que me espinha!
tu, querendo, - medrosa!...
inutilmente a paz!
E o que é estranho afinal, é que nós nos amamos,
e sentimos no entanto que nos separamos,
cada um com a sua sombra dolorosa a sós...
-conformados, na dor cruel nos convencemos.
de que nunca na vida, eu e tu... seremos nós
J.G.de Araujo Jorge
in "Eterno Motivo"