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abril 20, 2012

PEQUENA LÁGRIMA ATENTA



Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, os braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.

Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.

Idéias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado? Por devota,

solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.


Cecilia Meirelles

Ó PESO DO CORAÇÃO


Ó peso do coração!
Na grande noite da vida,
teus pesares que serão?

A sorte amadurecida
resplandece em minha mão:
lúcida, clara, polida.

Nem saudade nem paixão
nem morte nem despedida
seu brilho escurecerão.

Na grande noite da vida
brilha a sorte. O coração,
porém, é a dor desmedida.

Maior que a sorte e que a vida...

Cecília Meireles


De quem é a culpa?


Nasci em 1950. Claro que esperava o ano 2000 cheio de coisas impensadas, mas nem vi tanta diferença. Na década de 60, na minha cidadezinha de interior, lembro-me que havia uma senhora separado por adultério. Era de família importante, rica, tinha dois filhos. Um dia, tentou entrar no clube da cidade, pela manhã, para os filhos verem a festinha de carnaval, e foi barrada!
Comum também era que, se uma garota perdesse a virgindade o pai arranjava um casamento, com o “autor” ou qualquer outro, pois ela corria o risco de terminar “fichada” como prostituta.
Eram coisas que me surpreendiam já naquela época.
E hoje me choca profundamente ver mulheres sendo apedrejadas, ou enroladas até aos pés em longas roupas, as vezes sem mostrar os olhos sequer.
Não me cabe julgar religião ou aspectos culturais, mas me choca. E não entendo porque elas não lutam!
Aqui no Ceará, nordeste do Brasil, todo dia morrem mulheres assassinadas por quererem a separação. Verdadeiras tragédias.
E ainda existem sociedades que não aceitam mulheres. Em pleno século XXI, literalmente fechadas. E, a exemplo do antigo templo dos judeus, tem o lugar dos homens e o lugar separado para as mulheres se reunirem.
Por que elas aceitam isso? Por que ficam por lá, fazendo um papel ridículo, trabalhando por uma causa que nem sabem qual é?
Jesus, quando morreu, o véu do santuário se rasgou, “de cima para baixo”, uma tarefa impossível a homens, e com isso, ele deu acesso ao Santo dos Santos à todas as pessoas, homens e mulheres e não só ao sacerdote.
Somos todos livres na presença de Deus, então por que aceitar essa separação de homens?
De quem é a culpa de existir ainda isso? Nem preciso responder!

regina helena