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junho 18, 2012

SAUDADE




A saudade é uma andorinha,
mas uma andorinha estranha:
quando, num peito se aninha,
as outras não acompanha…

Saudade – coisa que a gente
não explica nem traduz;
faz do passado, presente,
e traz sombras, sendo luz…

Saudade – febre que a gente
sem querer, pode apanhar,
nunca mata de repente,
vai matando, devagar…

Saudade – a princípio é pena
que nos deixa uma partida;
depois é dor que condena
a morrer dentro da vida…

se é triste sentir saudade,
muita saudade de alguém,
maior infelicidade
é não tê-la de ninguém.


Yde Schloenbach Blumenschein 

MAIS UM DIA PERDIDO



Há dias e que tudo é sem remédio,
em que tudo começa e acaba torto.
Uma folha caiu:
era um pásaro morto.

Neblina. Fim de tarde. Fim de Outono.
Nada nos fala, nos atrai, nos chama.
Choveu, parou a chuva,
ficou, porém, a lama.

Um banco no jardim. Árvores nuas,
um cisne velho, um tanque, água limosa,
nem a relva ficou,
quanto mais uma rosa.

Há barcos, há gaivotas sobre o rio,
e nas ruas há gente, há muitas casas.
Mais um dia perdido:
arrancaram-lhe as asas."


Fernanda de Castro
In Urgente» 

CREPUSCULAR



Crepúsculo da tarde, esta agonia
de cores meigas e de luz magoada
não a compreende a mente rude e fria,
onde a ilusão e a dor não têm pousada.

Mas à alma sonhadora e amargurada
bem familiar é a tua nostalgia:
- Efêmera saudade eternizada
na velhice infantil de cada dia ...

Cada dia a morrer eternamente,
é como o sol que agora já não arde
esta minha alegria descontente.

Ante o cair da noite muda e calma,
é como tu, crepúsculo da tarde,
sempre triste gêmeo de minha alma ...

José Lannes
in Candeia