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fevereiro 28, 2013

DESENCANTO



Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

Eu faço versos como quem morre.


- Manuel Bandeira,
em "A cinza das horas"

VOLTA



Enfim te vejo. Enfim no teu 
Repousa o meu olhar cansado. 
Quanto o turvou e escureceu 
O pranto amargo que correu 
Sem apagar teu vulto amado. 

Porém já tudo se perdeu 
No olvido imenso do passado: 
Pois que és feliz, feliz sou eu. 
Enfim te vejo! 

Embora morra incontentado, 
Bendigo o amor que Deus me deu. 
Bendigo-o como um dom sagrado. 
Como o só bem que há confortado 
Um coração que a dor venceu! 
Enfim te vejo! 

- Manuel Bandeira,
em "A cinza das horas",