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março 10, 2021

LONGE UMA PÁLIDA ESTRELA




Longe uma pálida Estrela
Sua luz alçou –
A Lua o chapéu de prata
Lívida soltou –
Clara iluminou-se a Noite
No Salão Astral –
Meu Pai, ao Céu me dirijo,
Tu és pontual –

Emily Dickinson

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CHOVE DENTRO DA MINHA ALMA



CHOVE DENTRO DA MINHA ALMA

Ouço bem a chuva que dentro da minha alma cai.
Debruço-me num tempo erguido pela nostalgia
e a chuva é mais fria.
Procuro em meu coração uma tristeza qualquer;
talvez assim encontre aquecimento
e mude o ritmo da chuva
por algum momento.
Busca em vão.
A chuva continua em compasso firme e lento
desacompanhada de vento.
Procuro em meu coração
um segundo de descanso
e talvez de exultação;
novamente recorri em vão.
Chove dentro da minha alma
o pranto das noites frias
e das inumeráveis tristezas sem razão.

Adalgisa Nery


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CHOVE. HÁ SILÊNCIO...


CHOVE. HÁ SILÊNCIO...

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa,
 in "Cancioneiro"


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RESQUÍCIO



RESQUÍCIO

Às vezes
a dor de chuvas passadas
cai em mim tão fina,
reelaborada,
a ponto de não ser eu
assim mais que uma bolha
na espuma da tarde
molhada.
 
Fernando Campanella


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VÉSPER



Os poetas praticam
a jardinagem do Universo
Colhem estrelas maduras
no frontispício da tarde
A noite convoca suas doçuras
o alaúde de jasmineiros
a Via Láctea


Hélio Pellegrino
In Minérios Domados


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POEMA DIALÉTICO



caminho para o dia
_ para o centro
deste dia
_ para a noite
deste dia
_ caminho para a noite
para o centro
_ desta noite
para o dia
_ desta noite "


Hélio Pellegrino


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TODAS AS ÁGUAS DORMEM




Há uma hora certa,
No meio da noite, uma hora morta,
Em que a água dorme. Todas as águas dormem:
No rio, na lagoa,
No açude, no brejão, nos olhos d’água,
Nos grotões fundos.
E quem ficar acordado
Na barranca, a noite inteira,
Há de ouvir a cachoeira
Parar a queda e o choro,
Que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
Todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
Fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
Nas placas da folhagem.
E adormece
Até a água fervida,
Nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
De torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
E chorando, a noite toda,
Porque a água dos olhos
Nunca tem sono...

Guimarães Rosa


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