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março 11, 2009

CRISTAL QUEBRADO


CRISTAL QUEBRADO
(Genaura Tormin)

Náufraga de sonhos,
Tenho saudades de mim mesma.
Guardiã estática
De uma performance em cacos,
Já não sei quem sou.

Quebrou-se o cristal!
Incendeiam-se restos de esperanças,
Multiplicando a inércia dos instantes.
A solidão se faz...
Sonho frustrado.
Permito-me o impossível
Porque as portas me fascinam.

Vivo emoções do tempo que se foi.
Das derrotas,
Guardo o aprendizado.
Não fujo de nada!
Nada em mim petrificado está.
Há muito sentimento,
Ainda.

Mergulho nos meus cantos,
Escudo-me na coragem,
Pois inteira sou
Para esta viagem seguir..

AO RIO ARAGUAIA


AO RIO ARAGUAIA
(Genaura Tormin)

Você, que corre sereno,
e a natureza floresce,
formando ilhotas tão lindas,
que a nossa alma enaltece,
oh! querido Araguaia,
você parece uma prece.

Os nossos olhos vagueiam
nas águas desse gigante,
envolto em orquestra mil
e gorjeios delirantes
de revoadas de pássaros
e por-do-sol ofegante.

É a tela mais bonita
feita pelo Criador,
com desnudo matizado
mesclado de aroma e cor,
que se banha em suas águas
num espetáculo de amor.

Oh! meu querido Araguaia!
Pedaço de coração,
regaço de leite e mel,
berço de emoção,
orgulho do chão goiano,
versos de minha canção!

Delírio



Pensei, houvera a nuvem da incerteza,

toldado o brilho claro das estrelas;

mas, no rolar da lágrima, a crueza:

é a dor – e dói de um tanto... – a enublecê-las.



É a dor que se mantém no céu acesa,

tal contas de cristal; como não vê-las?

Ou céu é minha dor, numa ardileza

das lágrimas – buscando ser estrelas?



Mas pode haver no céu tamanho inferno?

Teu nome são os anjos que murmuram,

quando mais a saudade me lacera?



Ou há de ser, no meu loucor eterno,

o céu, um paraíso onde amarguram

os sonhos, de quem vive em vã espera?





- Patrícia Neme -

VERDES ANOS, DOCE PRIMAVERA



VERDES ANOS, DOCE PRIMAVERA
(Genaura Tormin)

Encontrei entre guardados,
Uma fotografia antiga, amarelada,
Testemunha solitária que ainda me restou.
De saudades, extravasei-me em lira,
Fechei os olhos e viajei no tempo,
Senti-me criança no pensamento:
Pés descalços, subindo às árvores,
Colhendo flores...

Quantas brincadeiras, quantas gargalhadas,
No vozerio estridente da meninada.
Inocência da infância risonha e bela!
Fase tão bonita de minha vida!
Verdes anos, doce primavera!

O grupo escolar, a professora,
A capelinha da Serra,
A festa de São João,
A fogueira acesa na noite sem véu,
Sob a lua faceira,
Que se exibia no alto do meu céu.

Como era feliz e não sabia!
O mundo era todo meu.
Cabelos soltos, vestido de chita,
Na gostosura de saber-me bonita.

A vida era colorida, um jardim florido!
Regado pelo tamborilar da chuva fria,
O cantar do galo, da passarinhada,
Em lindos concertos para alegrar o dia.

O aroma da brisa nas tardes sombrias,
Em que o sol vazava as folhagens dos arvoredos,
Para rendilhar o chão batido,
Bordando imagens, nossos folguedos,
Reacendem-me queixumes doloridos,
Aprisionados no coração, em total degredo.

Foi-se aquele tempo...
Retratos desbotados no sacrário das lembranças.

ABRACE-ME!


ABRACE-ME!
(Genaura Tormin)

É agora,
Quando menos mereço,
Que preciso desse silêncio,
Desse querer cumpliciado
Para secar-me o pranto,
Abrandar-me as falhas.

Silêncio é prece,
É carinho dividido.
É o amor que exalta,
Que perdoa no gesto do sorriso,
Nos braços que amparam...
É disso que preciso.

Significa grandeza,
Espírito evoluído.
Não me deixe sangrar,
Não me deixe sofrer!
Tenho tantas feridas!
Muitas, ainda exangues
Ao escárnio da vida.

QUEIRA-ME COMO SOU



QUEIRA-ME COMO SOU
(Genaura Tormin)

Chega de exigências!
Embora saiba
Que faz parte do amor.
Não me retalie,
Não me recrimine.
Já tenho marcas
Que o tempo me legou.

Estou carente,
Não fique a me ofender,
Pois não sou perfeita.
Deixe-me ser idiota.
Sou gente!
Tente entender.
Veja a essência,
O esforço que faço
Para vencer.

Tenho muitos defeitos,
Mas tenho coragem, valentia,
E um coração
Que é só poesia.
Queira-me como sou!

FAUNA DE SONHOS


FAUNA DE SONHOS
(Genaura Tormin)

O tempo levou-me os sonhos,
Tantas esperanças,
Retratados em desejos mil,
Na fértil imaginação de criança.
Como era feliz e não sabia!
Sem máscaras, sem disfarces...
Apenas eu mesma: sorriso escancarado,
Correndo ao vento,
Aos píncaros dos folguedos do meu tempo.

No céu talhado de nuvens,
Bordava as fantasias
Com os flocos dançarinos de algodão.
E as mágicas aconteciam,
Em carruagens, reis e rainhas,
Príncipes e lagos encantados.

Foram-se os anos, tão rápidos, tão velozes,
Até que me descobri adulta.
Vi, com tristeza,
Que o sol havia mutilado as nuvens,
Os flocos de espuma, a fauna de sonhos,
Esconderijo dos meus desejos.

Em troca, restaram-me meras coisas,
Sem formas, vazias,
Dispersas em fumaça, em dores,
Que poluíram o azul de minha vida.
O horizonte, nem sei se existe mais.
Quisera ter impedido o sopro do vento.
Quisera ter retido as nuvens do meu tempo.


SOLIDÃO




E tanta a dor que arranha e me lacera,
e tanto o amor que em mim, hoje extertora...
Senhor, eu enlouqueço nessa espera...
O peito se desfaz... Minh'alma chora.

Eu sonho, busco, tento.. E só quimera
encontro no soar de hora por hora;
e a solidão repica, é cruel fera
que rasga corpo e a mente, em dor, penhora.

Saudade, solidão... O que é a vida?
Por quê esta existência é tão sofrida?
Por quê não há resposta, não há paz?

A paz de ter um colo, um aconchego...
Por quê só hei de ter, enfim, sossego,
quando alguém escrever: Ela aqui jaz!

- Patrícia Neme -