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junho 10, 2013

DA SAUDADE



Flor - cristal
a derramar-se dentro das horas
a dar-se em pólen
nos momentos brancos do existir

Recados de muito longe
acordando gestos dormidos!

Espera lenta
com sinal de regresso
Pedaço do sol
abrasando os minutos
Mulher-criança
brincando nos muros do Tempo

no rastro do Tempo
no tempo do Tempo


Lia Corrêa
In Uma Rosa no Tempo



junho 04, 2013

SAUDADE


Saudade

Saudade! É o rio cheio transbordante
Que lembra nossos tempos de criança
É o arvoredo verde, farfalhante
Misturando-se ao verde da Esperança.

Saudade! É o doce canto delirante
Do pássaro que no galho se balança
É a lua cheia vagarosa, andante
Espargindo a luz branca da bonança.

É repassar na mente, do passado
Doces recordações adormecidas
Que não se pode descartar, jamais...

Sentir dentro do peito apaixonado
Um “não sei” que transportam nossas vidas
A tempos idos que não voltam mais.


Bernardina Vilar
de 'Bom dia Saudades'

BOM-DIA, SAUDADE !




Bom dia, meu amor! Tudo desperta
Para um dia de novas esperanças!
E eu vejo o sol pela janela aberta
Do infinito, no início das andanças.

Mas eis que nuvem turva lhe acoberta
E fixa em meu olhar tristes lembranças
Foge o sol, foge a luz, e a a dor me aperta
O coração, que esta tristeza alcança.

Bom, minhas flores que murcharam!
Meus pássaros que tristes se calaram
Envoltos por um véu de soledade.

Bom dia, então, minha tristeza triste
Que dentro de mim, em me magoar persiste...
Bom dia, meu amor, minha saudade!


Bernardina Vilar
de "Bom-dia Saudade"

A MEDIA LUZ



Sempre reneguei o tango
e os entusiastas de Gardel,
(longe de mim a passional postura
eivada de desolação e dor),
o amor sempre em mim um campo
de mais alvos lírios onde não choveu.
Cerrei as tendas, afastei o bruxo,
mas na contrapartida
adiei o fruto, me ceguei à cor.

Violinos eternos , bandoneón ,
toquem-me hoje um tango crepuscular
e tardio, toquem, que desaprendi
o me bastar e o meu cismar sozinho,
à meia-luz meu coração são girassóis
que dançam - todo chama, e torvelinho.


Fernando Campanella


NÃO SEI SE DIGA



Não sei se diga ou não diga,
Nem se o dizer é direito:
Trago-te dentro do peito
Sem nunca sentir fadiga

Emilio Kemp
in Cantos de Amor ao Céu e à Terra

OS DEGRAUS DA VIDA



É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos, nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.


David Mourão-Ferreira,
in Antologia Poética