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dezembro 18, 2012

ILUSÃO



O meu navegar é puro
Pleno de saudades...

Solidão de afeto vai comigo

Queria tanto que entendesses
E perdoasses minhas ilusões pueris.


Anna Carlini
de ''Fadado ao esquecimento''

ASA



Esse alçar vôo
no compasso da emoção,
como se os pés
e os braços
fossem asas
ao sabor do som,
a música que embala
e impulsiona,
enlevo e encanto...

Dançam meus olhos,
bailarinos trôpegos,
ávidos de movimento,
de beleza e luz,
de eternizar a arte
divina e imortal
na ponta desses pés...

Luiz Carlos Amorim 
In Blog Crônicas do Dia 

QUERO SENTIR



Quero sentir tua mão amiga,
junto da minha no prazer, na dor.
Assim, mesmo entoada a última cantiga,
um som há de restar do nosso amor.


Carlos Drummond de Andrade
In ‘Poesia Errante’

dezembro 13, 2012

MEMÓRIA



Na longíqua tarde
ledas conversas de seda
saudades saudades...

Delores Pires,
in O Livro dos Haicais

dezembro 07, 2012

AZUL DE TI



Pensar em ti é azul, como ir vagando
por um bosque dourado ao meio dia:
nascem jardins na fala minha
e com minhas nuvens, por teus sonhos, ando.

Nos une e nos separa um ar brando,
uma distância de melancolia;
eu alço os braços de minha poesia,
azul de ti, dorido e esperando.

É como um horizonte de violinos
ou um tépido sofrimento de jasmins
pensar em ti, de azul temperamento.

O mundo torna-se cristalino,
e te vejo, entre lâmpadas de trino,
azul domingo de meu pensamento.

Eduardo Carranza
In Antologia Poética

dezembro 04, 2012

GUSTAVE FLAUBERT


"O amor é um modo de viver e de sentir.
 É um ponto de vista um pouco mais elevado,
 um pouco mais largo; nele descobrimos o 
 infinito e horizontes sem limites."

Gustave Flaubert 

novembro 28, 2012

ESTA SAUDADE ÉS TU



Esta saudade és tu... E é toda feita
de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dos anseios de amor, coagulados.

Esta saudade és tu... É esse teu jeito
de pomba mansa nos meus braços quieta;
é a tua voz tecida de silêncio
nas palavras de amor que ainda sussurram...

Esta saudade são teus seios brancos;
tuas carícias que ainda estão comigo
deixando insones todos os sentidos.

Esta saudade és tu... é a tua falta
viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
... enquanto eu morro no meu pensamento.

J. G. de Araujo Jorge

novembro 27, 2012

Ando muito só



''Ando muito só, um tanto assustado,
 e com a esquisita sensação de que 
tudo acabou. Ou pelo menos está se 
transformando — e radicalmente — 
em outra coisa. E tão vago, não sei
 sequer dizer do que se trata. [...]''

Caio Fernando Abreu

OLHAR DE SOMBRA



Saudades que avultais dia por dia;
Mágoas solenes, mágoas funerárias,
De esborcinadas ruínas solitárias
Que são os templos da Melancolia.

Arabescos de musgo, flores de era;
Tons de nevrose, tons finos e belos,
Desde brancura rútila dos gelos
À ardente floração da Primavera.

Ouvi a lenda desse olhar de sombra,
Onde acordaram vossas revoadas
Toda volúpia de uma estranha alfombra:

Vago, ele tinha, em longas penitências,
O silêncio das praias desoladas,
E esse vago martírio das ausências.

 Silveira Neto,
in 'Luar de Inverno' 

novembro 26, 2012

REGRESSO AO LAR



Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!
Foi há vinte?... Há trinta? Nem eu sei já quando!
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida.
Só achei enganos, decepções, pesar.
Oh, a ingênua alma tão desiludida!.
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!

Trago de amargura o coração desfeito
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar.
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!
Minha velha ama, sou um pobrezinho
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado! 
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!

Canta-me cantigas manso, muito manso
Tristes, muito tristes, como à noite o mar.
Canta-me cantigas para ver se alcanço 
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro,
in Os Simples

ALBA



Orvalho da manhã, pranto da noite,
Luz que só tinha sombra e clareou.
Como um poema que se derramou
Sobre o corpo da vida
Mal acordada,
Assim és tu, pura emoção vertida,
Voz do silencio, solidão molhada.


Miguel Torga
In: Antologia Poética

novembro 25, 2012

PONTA SECA



Remendo o coração, como a andorinha
Remenda o ninho onde foi feliz.
Artes que o instinto sabe ou adivinha...
Mas fico a olhar depois a cicatriz. 


Miguel Torga
In: Antologia Poética

FRUSTAÇÃO



Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.


Miguel Torga,
in 'Diário XV'

novembro 23, 2012

NÃO FALES


Toca-me. Não fales. Eu invento
as palavras que os deuses não merecem.

Joaquim Pessoa,
in Os Olhos de Isa

O SOL DE NOSSAS VIDAS



Cada minuto é apenas um momento musical,
sem memória.. E a saudade não vem de
longe, é como uma cor outonal na paisagem
e muda como um poente...Não há futuro.
Tudo é paisagem para os nossos olhos
calmos e líricos.
Sentimos a intimidade das coisas
impossíveis.

Cristovam Pavia

novembro 22, 2012

RELÓGIO



Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não-ser, e não do ser.

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer. 

Cassiano Ricardo

novembro 21, 2012

Saudades o que são?



Saudades o que são? São cinzas frias
Que foram fogo e luz no coração;
Mas cinzas tristes, pálidas e frias
Sepultadas no fundo dum vulcão.

Que são saudades? Sombras fugidias
Que em vão tentamos alcançar, em vão;
Sombras errantes pelas noites frias
Nos caminhos sem luz do coração.

Saudade é fumo que uma brisa ondeia,
Vento triste que chora por alguém;
Ondas mortas rojando-se na areia,

Sombras que vindas de outro mundo, além,
Formam a névoa que hoje me rodeia,
Sombras perdidas, sombras sem ninguém ...


Anrique Paço D'Arcos

novembro 19, 2012

QUE É SIMPATIA



Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!

Casimiro de Abreu

MESSÍDORO



Por que chorar? Exulta, satisfeita! 
És, quando a mocidade te abandona, 
Mais que bela mulher, mulher perfeita, 
Do completo fulgor senhora e dona. 

As derradeiras messes aproveita, 
E goza! A antevelhice é uma Pomona, 
Que, se esmerando na final colheita 
Dos frutos áureos, a paixão sazona. 

Ama! e frui o delírio, a febre, o ciúme, 
E todo o amor! E morre como um dia 
Em fogo, como um dia que resume 

Toda a vida, em anseios, em poesia, 
Em glória, em luz, em música, em perfume, 
Em beijos, numa esplêndida agonia! 


OLAVO BILAC 
In Tarde

QUE DIFERENÇA!



Quando passas a meu lado, 
E que olhas para mim, 
Tornas-te da cor da rosa, 
E eu da cor do jasmim. 

Vê tu que expressões dif’rentes 
Da nossa mesma ansiedade: 
A cor da rosa é despeito, 
A palidez é saudade! 


FLORBELA ESPANCA ,
In Trocando olhares

QUASE NADA



Passo e amo e ardo. 
Água? Brisa? Luz? 
Não sei. E tenho pressa: 
levo comigo uma criança 
que nunca viu o mar. 


EUGéNIO DE ANDRADE 
In Mar de Setembro,

novembro 13, 2012

MANUEL BANDEIRA



E a vida
vai tecendo laços
quase impossíveis
de romper.
Tudo que amamos
são pedaços vivos
do nosso próprio ser.

Manuel Bandeira

novembro 12, 2012

ME ENCANTE




Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar…
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser…
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos…
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar…

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar…

Me encante com suas palavras…
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade…
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o seu primeiro namorado…
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva….

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre…
Mas, me encante de verdade, com vontade…

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias…
Pelo resto das nossas vidas!!!


PABLO NERUDA

novembro 11, 2012

ARGILA



Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...

Raul de Leoni

SONETO DA SAUDADE



Em minh’alma chove tanto
que não há como esconder
entre os olhos tanto pranto
que meu pranto faz chover...

Por encanto ou desencanto
em minh’alma é anoitecer
com saudade do teu canto
no encanto do amanhecer...

Num jardim sem claridade
mora em mim tua saudade
com o meu modo de viver...

E a saudade não consegue
esquecer que me persegue
para eu nunca te esquecer...


Afonso Estebanez



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

novembro 10, 2012

CITAÇÃO



'A verdadeira riqueza de um homem 
é o bem que ele faz neste mundo.'

Maomé

VOLTAIRE



Um dos méritos da poesia, que muita gente
 não percebe, é que ela diz mais, e em menos
 palavras, que a prosa. 

Voltaire

CAIO FERNANDO ABREU



Num deserto de almas também
 desertas, uma alma especial 
reconhece de imediato a outra.

(Caio F. Abreu)

novembro 05, 2012

SAUDADE



Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noite quando em funda soledade
Minh'alma se recolhe tristemente,
P'ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

Augusto dos Anjos

novembro 04, 2012

NOITE DE SAUDADE



A Noite vem pousando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a benção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
... A sua dor que é cheia de tortura...
E eu ouço a Noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
é que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!


Florbela Espanca

O APAIXONADO


O APAIXONADO

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dürer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.

Fingir que no passado aconteceram
Persópolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.

Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Luís Borges



novembro 01, 2012

Minha alma...



"Minha alma tem o peso da luz. 
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
 Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar. 
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou. 
Tem o imaterial peso da
solidão no meio dos outros."

Clarice Lispector

PRESENÇA




É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, 
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento 
das horas ponha um frêmito em teus cabelos… 

É preciso que a tua ausência trescale 
sutilmente, no ar, a trevo machucado, 
as folhas de alecrim desde há muito guardadas 
não se sabe por quem nalgum móvel antigo… 

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela 
e respirar-te, azul e luminosa, no ar. 
É preciso a saudade para eu sentir 

como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida… 
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista 
que nunca te pareces com o teu retrato… 
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana

outubro 31, 2012

UMA PAIXÃO


Em minha pátria há um monte.
Corre em minha pátria um rio.
Vem comigo.
A noite sobe ao monte.
A fome desce o rio.
Vem comigo.
Quem são os que padecem?
Não sei, sei que são meus:
Vem comigo.
Não sei, porém me chamam e me dizem: "Sofremos".
Vem comigo.
E me dizem: "Teu povo, teu povo deserdado, entre o monte e o rio,
com fome e com dores, não quer lutar sozinho,
te está esperando, amigo."

Oh tu, a que amo, pequena, grão vermelho de trigo,
a luta será dura,
a vida será dura,
mas tu virás comigo.

PABLO NERUDA

ME ENCANTE




Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar...

Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser...
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar...

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar...

Me encante com suas palavras...
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade...
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o seu primeiro namorado...
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva....

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre...
Mas, me encante de verdade, com vontade...

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias...
Pelo resto das nossas vidas!!!

PABLO NERUDA

outubro 30, 2012

POEMINHA AMOROSO



Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

outubro 29, 2012

HÁ EM TEUS OLHOS...


***

Há em teus olhos, dados ao momento,
uma tristeza de água reprimida,
que é como o pressentimento
duma próxima despedida.
Tristeza que faz lembrar
dias perdidos de outono
com luz pálida a incidir
nas folhas mortas de sono.
Deixa que a esperança os molhe,
os inunde de alegria.
Cada noite passa e colhe
o gosto dum novo dia.

Albano Martins



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

DÊEM-ME




um arco e recriarei a infância,
os tordos sob a neve,
o rio sob as tábuas.
Dêem-me
a chuva e a gávea
duma figueira,
a flor dos eucaliptos,
um agapanto de água.


Albano Martins
in:Vertical


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

CUIDADO



Ó namorados que passais, sonhando, 
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo... E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando...

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem nunca ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!


Guilherme de Almeida

outubro 28, 2012

outubro 25, 2012

HILDA HILST


Naquele momento
o riso acabou
e veio o espanto
e do meu choro
o desentendimento
e das mãos unidas
veio o tremor dos dedos
e da vontade de vida
veio o medo.

Naquele momento
veio de ti o silêncio
e o pranto de todos os homens
brotou nos teus olhos translúcidos
e os meus se afastaram dos teus
e dos braços compridos
veio o curto adeus.

Naquele momento
o mundo parou
e das distâncias
vieram águas
e o barulho do mar.
E do amor
veio o grande sofrimento.

E nada restou
das infinitas coisas pressentidas
das promessas em chama.
Nada.

Hilda Hilst,
in Baladas

outubro 23, 2012

ALDOUS HUXLEY



“Depois do silêncio, o que mais se aproxima
 de expressar o inexprimível é a música.”
 
―Aldous Huxley




Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

FREUD



“Quando a dor de não estar vivendo for maior que 
o medo da mudança, a pessoa muda.” 

―Sigmund Freud

CAIO FERNANDO ABREU



“Quero estar perto de pessoas que sabem colocar 
palavras maduras nas minhas frases verdes.” 

―Caio Fernando Abreu



MARGUERITE YOURCENAR



“As outras pessoas vêm a nossa presença,
 os nossos gestos, a maneira pela qual
 as palavras se formam nos nossos lábios,
 mas somente nós vemos a nossa vida.”
 
―Marguerite Yourcenar

outubro 22, 2012

SAUDADES




Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de magoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.

Então - Proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
Saudades - Dos meus amores
Saudades - Da minha terra!


Casimiro de Abreu

A CANÇÃO DA SAUDADE



Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas... Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.

Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!

Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!

Nunca mais te verei... Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!


Olegário Mariano

PASSAGENS



Poderia ter sentido
o perfume da vida
passando entre as flores
que se encantam,
dissimulando asperezas
nas pétalas umedecidas

Prenderia tua imagem
no acústico de uma sonata,
no calor do sol ressacado
de um verão

O vento em suas rajadas afiadas,
cortará a saudade insuportável,
falando do amor
como quem fala da sede,
da fome, da dor.

Conceição Bentes

CANÇÃO EM CAMPO VASTO



Deixa-me amar-te com ternura, tanto
que nossas solidões se unam,
e cada um falando em sua margem
possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura, ambos
cavalgando mares impossíveis
em frágeis barcos e insuficientes velas,
pois disso se fará a nossa voz.

Ajuda-me a amar-te sem receio:
a solidão é um campo muito vasto
que não se deve atravessar a sós.

Lya Luft

outubro 21, 2012

A SOLIDÃO E SUA PORTA




Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha,
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


Carlos Pena Filho