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abril 29, 2021

Como a noite é longa!



Como a noite é longa!

Como a noite é longa!
Toda a noite é assim...
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto.
Vem p’r’ao pé de mim...

Amei tanta coisa...
Hoje nada existe.
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste.

Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...

Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,

Dormir a sorrir
E seja isto o fim.

Fernando Pessoa,
De: "Cancioneiro"


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abril 25, 2021

Escrevo diante da janela aberta

I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando.

Mario Quintana, 
De: A rua dos Cataventos


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abril 24, 2021

Hora lilás...



Hora lilás...

Hora lilás, da cor desta saudade
Que não me deixa mais o coração,
Hora em que a alma toda se me invade
Só de tristeza e de desolação ...

Hora em que eu lembro a minha pouca idade
E a minha tão cruel desilusão ...
Tudo se esvai na bruma da saudade,
Essa tão doce e triste cerração ...

Hora lilás, da cor que me entristece,
Desta saudade que jamais esquece
Meu coração cansado de sofrer;

Hora em que eu vivo a vida já vivida,
Hora lilás, da cor da minha vida,
Pois é saudade só o meu viver.

Anrique Paço D’Arcos
in Poesias Completas




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abril 21, 2021

Biografia




Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas
- e não serei eu.

Repetirás o que me ouviste
o que leste de mim e mostrarás meu retrato
- e nada disso serei eu.

Dirás coisas imaginárias,
Invenções sutis, engenhosas teorias,
- e continuarei ausente.

Somos uma difícil unidade,
De muitos instantes mínimos,
- isso serei eu.

Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente.
- como me poderão encontrar?

Novos e antigos todos os dias
transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos procuramos.

E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.
- Que mortal nos poderia prender?”

Cecília Meireles
Em “Poesia Completa – Dispersos (Volume 1)



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abril 20, 2021

Na insônia da madrugada...



Na insônia da madrugada
eu com nada mais me espanto.
Mesmo em idade avançada
jamais encontrei um canto
em que se possa escolher
entre o grito que dia cada,
e o silêncio que diz tanto.

Jenario de Fátima






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abril 17, 2021

A beleza não está...



“A beleza não está na cara; 
a beleza é uma luz no coração.” 

Khalil Gibran


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abril 16, 2021

Não podemos atingir...


Não podemos atingir a
aurora sem passar pela noite.

Kahlil Gibran





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abril 12, 2021

Chuva



Chuva

A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria, 
Continua a cair pela tarde, lá fora.

Da saleta fechada em que estamos os dois, 
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
se um de nós vai falar e recua depois.

Dentro de nós existe uma tarde mais fria...

Ah! Para que falar? Como é suave, branda,
O tormento de adivinhar — quem o faria? —
As palavras que estão dentro de nós chorando...

Somos como os rosais que, sob a chuva fria, 
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
Chove dentro de nós... Chove melancolia...

Ribeiro Couto 


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abril 03, 2021

Solidão



Solidão
(Juan Ramón Jiménez)

Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!

Juan Ramón Jiménez,
in "Diario de Un Poeta Reciencasado"



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abril 01, 2021

A esperança não é a última...



A esperança não é a última 
que morre: é a primeira 
a nascer quando julgamos que 
está tudo perdido.

(Hayede)


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