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março 21, 2013

JÁ NÃO HÁ DOMINGOS



Todas as vidas gastei
para morrer contigo.

E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.

Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.

Todas as mortes gastei
para viver contigo.

Mia Couto

RUBEM ALVES



"Cartas de amor são escritas não para dar notícias,
 não para contar nada, mas para que mãos separadas
 se toquem ao tocarem a mesma folha de papel."

RUBEM ALVES

A LEMBRANÇA



A lembrança dos teus beijos
inda na minh’alma existe,
como um perfume perdido,
nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
e de tal suavidade,
que mesmo desaparecido
... revive numa saudade!

Florbela Espanca