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agosto 23, 2012

É MELANCOLIA



Te chamarás silêncio doravante.
E o lugar que ocupas no ar
se chamará melancolia.

Escreverei no vinho rubro um nome:
o teu nome que esteve junto a minha'alma
sorrindo entre violetas.

Agora olho ao longe, absorto,
esta mão que andou por teu rosto,
que sonhou junto a ti.

Esta mão distante, de outro mundo,
que conheceu uma rosa e outra rosa,
e o tépido, o lento nácar.

Um dia irei buscar-me, irei buscar
meu fantasma sedento entre os pinheiros
e a palavra amor.

Te chamarás silêncio doravante.
Eu o escrevo com a mão que aquele dia
ia contigo entre os pinheiros.

Eduardo Carranza

VAZIO



Há certos dias
Que sinto em min’alma
Um vazio infinito,
Um vazio sem sentido,
Um vazio indefinível,
Vazio dos ventos e procelas,
Vazio que vem de longe
Cuja origem desconheço,
Maior,
Muito maior que a solidão...

Há certos momentos
Que sinto dentro de mim
Um vazio talvez originário das vagas,
Dos grandes mares
E que às vezes me inunda,
Quase me faz soçobrar...

Há certas horas
Que sinto dentro de mim
Um vazio que se agiganta,
Diante do qual me sinto pequenino
E comparo este vazio tão grande
Ao vazio da hora do adeus...

Mas existe, sim,
Um vazio,
Muito maior do que todos os vazios,
E que se alojam no âmago dos corações,
O vazio imenso da saudade!...

Olympiades Guimarães Corrêa

UM CANÇÃO





Por detrás dos meus olhos há águas
Tenho de as chorar todas.

Tenho sempre um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.

Respirar cores com os ventos
Nos grandes ares.

Oh, como estou triste...
O rosto da lua bem o sabe.

Por isso, à minha volta há muita devoção aveludada
E madrugada a aproximar-se.

Quando as minhas asas se quebraram
Contra o teu coração de pedra,

Caíram os melros, como rosas de luto,
Dos altos arbustos azuis.

Todo o chilreio reprimido
Quer jubilar de novo

E eu tenho um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.

Else Lasker-Schüler