Seja bem-vindo. Hoje é

março 12, 2021

A NOITE


A NOITE
(Julia da Costa)

Brilha o céu, mas em vão soluça de brada
A terra ansiosa, com pueril receio!
É densa a treva; nessa paz calada
Funda tristeza nos oprime o seio!

Tudo fenece, embaixo da orvalhada
Repousa o campo de perfumes cheio!
Negro é o mar, a floresta sossegada,
Dormem as aves da espessura em meio!

Embalde a noite traiçoeira e linda
Enche de encanto os bosques e atalhos,
E, enquanto de fulgor o espaço alinda,

Seu manto enfeita de gentis orvalhos:
Mentem os ermos na amplidão infinda!
Mentem as flores a tremer nos galhos!


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



LUNAR


LUNAR
(Mário Quintana)

As casas cerraram seus milhares de pálpebras.
As ruas pouco a pouco deixaram de andar.
Só a lua multiplicou-se em todos os poços e poças.
Tudo está sob a encantação lunar...

E que importa se uns nossos artefatos
lá conseguiram afinal chegar?
Fiquem armando os sábios seus bodoques:
a própria lua tem sua usina de luar...

E mesmo o cão que está ladrando agora
é mais humano do que todas as máquinas.
Sinto-me artificial com esta esferográfica.

Não tanto... Alguém me há de ler com um meio sorriso
cúmplice... Deixo pena e papel... E, num feitiço antigo,
à luz da lua inteiramente me luarizo...


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



NOTURNO

NOTURNO
(Antero de Quental)

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



O CONSELHO DAS ÁRVORES


O CONSELHO DAS ÁRVORES
(Olegário Mariano)

Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes
Que a vida não te alenta nem conforta.
Olha o exemplo das árvores felizes
Dentro da solidão da noite morta.

Que lhes importa a dor, que lhes importa
O drama que há no fundo das raízes?
Não sentem quando o vento os ramos corta
E as folhas leva em várias diretrizes?

Que lhes importa a maldição do outono
E os dedos envolventes da garoa,
Se dão sombra às taperas no abandono?!...

Levanta os braços para o firmamento
E canta a vida porque a vida é boa
Mesmo esmagada pelo sofrimento.


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



SILÊNCIO

 

SILÊNCIO
(Medeiros e Albuquerque)

Cala. Qualquer que seja esse tormento
que te lacera o coração transido,
guarda-o dentro de ti, sem um gemido,
sem um gemido, sem um só lamento!

Por mais que doa e sangre o ferimento,
não mostres a ninguém, compadecido,
a tua dor, o teu amor traído:
não prostituas o teu sofrimento!

Pranto ou Palavra - em nada disso cabe
todo o amargor de um coração enfermo
profundamente vilipendiado.

Nada é tão nobre como ver quem sabe,
trancado dentro de uma dor sem termo,
mágoas terríveis suportar calado!


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



SOL DE UMA PAIXÃO


SOL DE UMA PAIXÃO
(Claudia Dimer)

Eu te preciso, amor, na solidão
E na alegria mais ensandecida...
Em mim, no meu olhar, na minha vida,
Na fantasia pura e na razão.

Na dor, na paz, no riso de emoção,
Em tudo o que é momento e comovida,
Estática de amor e agradecida
Por seres o meu Sol de uma paixão!

Eu te preciso, as vezes e constante,
Nem que eu me torne estrela fulgurante,
Ou me transforme em lua tão bonita;

Vou precisar-te, afirmo tão fiel...
O que será da lua lá no céu
Se não houver um sol que ela reflita?!


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



O MISTÉRIO



O MISTÉRIO
(Tasso da Silveira)

Quem sentiu a angústia verdadeira?
Quem penetrou o fundo dessa dor?
Tomam todos o brilho da lareira
pela estrela (tão alta!) do pastor ...

Soluçando e cantando é que a alma inteira
escondes por orgulho ou por pudor,
para guardá-la, assim, da humana poeira,
dentro desse mistério redentor!

Nunca ninguém te soube ver, disperso
no teu canto sentido, a dor que avulta
dia a dia ... O secreto, íntimo mal,

que é presente e invisível no teu verso,
como o perfume de uma flor oculta
como Deus na grandeza universal! ...



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



SONHOS MORTOS


 SONHOS MORTOS
(Pe. Antônio Tomaz)

Tive sonhos azuis, na mocidade,
Que vinham, como pássaros em festa,
Encher-me o seio – um canto de floresta –
De gratos sons, de viva alacridade.

Mas um dia a cruel realidade
Pôs-lhes em cima a rude mão funesta
E exterminou-os... Nenhum mais me resta
Na minha negra e triste soledade.

Hoje o meu seio inerte, mudo e frio,
Se converte em túmulo sombrio
Por sobre o qual gementes e tristonhos,

Alvejantes fantasmas se debruçam:
São as meigas saudades que soluçam
Sobre o jazigo eterno dos meus sonhos.



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



FLOR DA ALMA


FLOR DA ALMA
(Afonso Estebanez)

Vem desse amor eterno de você
uma canção tangida pelo vento
uma flauta no som do pensamento
que ressoa na alma e não se vê...

Brisa da tarde nos florais do ipê
num cântico de beijos ao relento...
Um feitiço de amor à flor do tempo
que vem sem precisar dizer porquê...

Uma canção de ser tão docemente
percebida... Tão leve se pressente
que a gente nem precisa perceber...

Basta ao amor plural de sua vida
saber-se a alma eterna e resumida
na alma de uma flor no alvorecer...




Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



QUANDO FLORA O IPÊ


QUANDO FLORA O IPÊ
(Jenário de Fatima)

Como é bonito ver o ipê que flora,
Pelo cerrado neste mês de agosto.
Com tanta seca, tanto cinza exposto
E tanta aridez pelo campo afora,

O Amarelo-Roxo, abre, revigora
Feito um doce alento a bater no rosto
Como se Deus ali tivesse posto
Um sopro de vida, num mundo que chora.

Vendo o cerrado, penso agora em mim!
Ando distorcido, ando tão descrente
Como há muito tempo, não me via assim.

Mas minha cabeça, esperançosa vê,
Que no meio de tudo in-sis-ten-te-men-te,
...Flora bem distante... Pequenino ipê...


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



SONETO NOTURNO

SONETO NOTURNO
(Ruy Espinheira Filho)

Penso na noite como um rio profundo
e lembro coisas deste e de outro mundo.
Outros mundos, aliás, que a vida é vasta
como diversa. E mesmo assim não basta,

o que nos faz tecer ainda outras vidas
nas nuvens da alma, e que nos são vividas
com tanta força quanto as outras mais,
em seus sonhos de agora e de jamais

(ou melhor: com mais força, pois que estamos
ainda mais vivos no que nos sonhamos).
Penso na noite como um mar sem fim

quebrando sombras sobre o cais de mim.
E , enfim, sem esperanças e sem prece,
pressinto a noite que não amanhece.


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!



PINGO DE CHUVA



PINGO DE CHUVA

O que penso,
o que digo,
o que sou ...
Pingo de chuva no mar.

Helena Kolody
in Correnteza


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!