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outubro 05, 2013

ROSEIRA BRAVA



Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor 
E no teu riso tanta claridade, 
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
 
Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade 
São como a alma a arder do próprio amor! 
 
Nasci envolta em trajes de mendiga; 
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
 
Tua irmã... teu amor... e tua amiga... 
E também - toda em flor - a tua filha, 
Minha roseira brava que é só minha!...
 
Florbela Espanca
In ‘Reliquiae’

É NOITE EM TEU JARDIM, MÃE

É NOITE EM TEU JARDIM, MÃE

Pouca memória.
Tão clara e doída tanta.
Foi recente.
Mas tanto tempo faz que se foi.

Partiu em manhã de chuva.
Minha mãe partiu.
O único momento em que não se repartiu.
A sua morte não repartiu.

Disse um dia:
Viver é um jardim precário.
Mas vejo no meu jardim
a eternidade do jasmim.
Porque é belo o eterno.
E porque é belo o jardim.

Sim! o dia amanhece.
Todos os dias.
Por trás dos montes
que vejo de teu jardim.

E toda manhã
o vizinho passa em frente da casa
e não te acena mais.
nunca mais.

Acena para o jardim vazio,
por hábito, medo da morte, espanto.
E pela luz do dia
que ainda freme
de teu canto.

E mesmo assim
é noite em teu jardim.
Por mais que amanheça,
por mais que amanheça.

Lindolf Bell