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março 03, 2021

SEM TÍTULO

 


SEM TÍTULO

Do fundo do crepúsculo,
O vento tombou como uma ave ferida
Sobre os tufos e as palmas verdes
do dormente jardim.

Bateu, raivoso, as possantes asas,
rodopiou exasperado
entre as frondes em pânico.
E miraculosamente recompondo
o perdido equilíbrio,
em brusco, violento arranco
ergueu voo outra vez para o espaço sem fim...

Tasso da Silveira
De: Contemplação do Eterno, 1952


TORRE

 
 TORRE

          Os ventos altos
         vindos das distâncias perdidas
         bateram a torre do meu corpo.
         Bateram a torre esguia e longa
         e puíram-lhe os ornamentos raros,
         desfiguraram-lhe a feição de beleza,
         como o mar milenário
         desastou as arestas vivas dos rochedos
         imemoriais.
         Não apagaram, porém, a lâmpada
         solitária e serena
         que ardia no silêncio...
         e os meus olhos, rosáceas claras, abertas
         para a paisagem
         do teu ser,
         ficaram coando sempre o clarão suave e leve,
         ficaram adolescentes
         para sempre...

Tasso da Silveira
De: Alegria do Mundo, 1940



EFEITO DE LUZ

 

         Sob o silêncio que flutua,
         no crepúsculo
         a angra é um espelho de cristal.
         De súbito, porém, rompendo a superfície polida,
         como um brusco
         reflexo,
         o peixe prateado e liso
         pula no ar
         em esplêndido, caracoleia no crepúsculo
         e retomba no seio da água adormecida,
        que, sonhando, o supõe numa chispa de luar...

 Tasso da Silveira
 (As Imagens Acesas, 1928)

A quatro mãos...

 

A quatro mãos fecundo o poema.
É preciso mais.
Circula sangue vermelho em minha veia poética.
Quebrei as molduras.
Sou da estirpe dos que pegam o mundo
com a esquerda - punhos cerrados -,
 e o vestem de belezas futuras,
edifícios do amanhã,
que não encontro, mas construo.

Moisés Augusto Gonçalves,
in Fragmentos Impertinentes (2013)