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março 16, 2009

SILHUETA



SILHUETA
(GenauraTormin)

Abrir o coração,
falar de ti,
cobre-me a alma
de lembranças queridas,
que repasso
feito um rosário.

Você chegou,
marcou meu mundo,
e se foi,
qual revoada de pássaros.

A canção, ainda ouço,
feito soluços guardados,
ou a sonoridade
de uma solidão,
a lembrar
as manhãs do nosso tempo.
Um silêncio,
um olhar
bastaram
para que se fizesse noite.

Um tornado
levou-te para longe.
A inclemência do frio
congelou a alma,
fragmentou a vida.

SE EU QUISESSE...



SE EU QUISESSE...
(Genaura Tormin)

Se um dia
eu quisesse te esquecer,
não poderia.
Se eu pudesse,
jamais quereria.

Porque eu te amo tanto,
que sem ti,
o sentido de viver
se perderia.

Quando estou sozinha,
tu me vens à mente.
E vens lindo,
sorridente e provocante.

E, a cada vez,
estou te amando mais.

Se é loucura,
eu amo essa loucura,
juro, juro!
Prefiro ser louca,
e te amar sempre,
a ter um coração vazio
e um desejo interminável de viver,
e ver passar em brancas nuvens,
essa loucura linda
que me escraviza o peito.

Por isso,
eu te amo muito.
E a cada vez mais,
sinto que se agiganta em mim
este desejo sem limites
de te querer demais.

POEMA/PRECE


POEMA/PRECE

Este poema não é meu. Acho-o maravilhoso e compartilho com vocês. Tenho-o publicado no meu livro "Pássaro Sem Asas". Sua autora é a paranaense Enói Renê Navarro


Obrigada, Senhor,
Pelos dois olhos que Tu nos deste.
Com eles podemos ver os céus,
As nuvens errantes,
O mar verde beijando a areia,
O pôr-do-sol,
Enfim, uma sinfonia de cores.
Mas ao lado da nossa alegria,
Há a tristeza dos cegos.
Nós Te pedimos por eles, Senhor!
Dá-lhes a fé
E a luz interior.

Obrigada, Senhor,
Pelas duas mãos que Tu nos deste.
Com elas podemos irà escola,
E no lar,
Não só escrever,
Mas também trabalhar.
Abençoa as mãos que acalentam o filho ao seio,
E as mãos que acalentam o filho alheio.
Abençoa as mãos que curam,
As mãos que semeiam,
As mãos que constroem,
As mãos que escrevem,
As mãos que, em defesa, batalham,
E todas as mãos que trabalham!

Obrigada, Senhor,
Porque Tu nos deste dois PÉS tão perfeitos,
Que podem andar,
Sem nunca cansar.
Conduze-os, por favor,
Na trilha do bem
E na trilha do amor.
E aqueles que perderam os PÉS
Ou que perderam as mãos,
Nós Te pedimos por eles.
Consola-os, Pai!
Que saibam, também,
Que um dia no além,
Já lá do outro lado,
Serão todos perfeitos,
Nenhum mutilado.

Obrigada, Senhor,
Pelos dois ouvidos que Tu nos deste.
Há tanta música na Terra!
Há o lamento do vento nos pinheiros,
O canto triste dos boiadeiros...
Há o coaxar dos sapos no banhado,
O tamborilar da chuva no telhado
E a música ingênua do povo.
Há as cantigas que descem do morro
E as músicas dos mestres imortais,
Que se ouve uma vez
E não se esquece jamais.

Mas, ao lado dos que vivem isolados,
Nós Te pedimos pelos que não têm ouvidos.
Aumenta-lhes, Pai,
Os quatro sentidos.

Obrigada, Senhor,
Pela voz que Tu nos deste.
Abençoa os que com a voz ensinam,
Também os que com a voz doutrinam.
E os que não têm o dom da linguagem,
Nós Te suplicamos,
Dá-lhes consolo
E dá-lhes coragem!
Porque se na Terra não podem falar,
No teu Reino, até podem cantar.

Obrigada, Senhor,
Porque temos um lar,
Que rico ou modesto,
No mundo inteirinho,
Não há um só lugar
Como esse nosso cantinho!
A Ti, que nos cobres de bênçãos,
A Ti, que nos dás tanto amor,
Obrigada, Senhor!
Obrigada, Senhor!

EU QUERIA ANDAR...



EU QUERIA ANDAR
(Genaura Tormin)

Sentia-me cheia de asas, mais do que precisava. E o meu maior desejo era conseguir andar de muletas para enfeitar o estado de felicidade. Precisava apenas de tempo com menos atividade profissional para dedicar-me aos treinos.

Satisfazia-me pensar que ainda poderia olhar as pessoas testa a testa, alcançar as janelas, mesmo usando o aparelho ortopédico (tutor longo com cinto pélvico). Para isso, fui informada de que precisava emagrecer, o que fiz com muito entusiasmo. Entretanto fui aconselhada por minha médica a desistir do intento, tendo em vista a lesão medular altíssima (logo abaixo dos seios), a faixa etária e a vida profissional agitada.

Explicou-me a Dra. Celi que a cadeira de rodas oferecia-me mais liberdade de movimentos e, conseqüentemente, um cotidiano mais alegre e com menos riscos. Com o aparelho, qualquer deslize levar-me-ia ao chão, além de ficar com as mãos sempre ocupadas com as muletas. “Não combina com o seu temperamento”, disse-me ela a sorrir. Uma queda poderia render algumas fraturas. O esforço exagerado para carregar o corpo poderia comprometer os braços. Era uma questão de aceitação.

Assim foi embora o meu último sonho de andar. Esgazeou-se na amplidão. Escondeu-se entre as nuvens. Derramou-se em lágrimas ante as conjeturas do nada. Mesmo desafiando, como Ícaro, voei em direção ao sol sem perceber que as asas eram de cera. Eu não podia mais voar. O sol derreteu-me as asas e o sonho acordou de olhos vermelhos a procurar novo jeito de ser feliz. Afinal sonhar é preciso.

De acordo com o meu tempo disponível, ainda uso o tutor longo com cinto pélvico para ficar de pé. Costumo chegar às janelas e varandas e fico feliz ao sentir-me grande, vendo as árvores, o movimento das ruas, os transeuntes... Por vezes, a saudade fica mais forte do eu e as lágrimas insistem em fazer-me companhia, atrapalhando o meu exercício. Meu corpo é paralítico, mas o meu espírito é andante, faceiro, dançarino, fazendo-se enfeitar pela auto-estima e pelo desejo de viver, pois não tenho algemas nem porteiras.

ENERGIA TAMBÉM É AMOR


ENERGIA TAMBÉM É AMOR
(Genaura Tormin)

Era dezembro e chovia muito. A vida diferenciava-se das outras estações. Para mim, excelente! Sempre achei que a chuva motiva-me a escrever. O matizado da coloração, o cheiro de terra molhada, a vida nascendo por todos os lados, mexem com a minha sensibilidade. Vejo tudo mais bonito e o Deus dentro de mim tem cabelos molhados e feições de aconchego, de ternura...
Na Delegacia de Crimes de Acidentes de Trânsito, as ocorrências se intensificavam.

Ainda estava de lua-de-mel com a 2ª edição do meu livrinho, e era comum o recebimento de cartas, visitas, telefonemas... Um telefonema marcou-me muito naquela época. Era de uma senhora, também paraplégica.

— Ganhei de presente o livro Pássaro Sem Asas de sua autoria e já o li três vezes. Fiquei pasmada como você consegue relacionar-se sexualmente com o marido. Desde a fatalidade que me ocorreu nunca mais fizemos amor. Choro todos os dias. Tenho bolsões sob os olhos. Penso muito em suicidar-me. A vida não tem sentido. Tomo tranqüilizante e tenho uma moça para cuidar de mim. Meu marido saiu de casa sob a alegação de trabalho. Só retorna nos fins de semana. Ele se irrita ao me ver chorar. Acho que quer separar-se de mim — disse-me ela, sentida.

— Você deve ler o meu livro mais vezes e tentar imitar-me. A vida não é fácil! Você tem que achar uma maneira de comandar-se, tomar as rédeas de sua casa. Na minha, continuo sendo a dona da casa. Não tenho moça para cuidar de mim. Sou eu quem cuida de todos. Tudo como antes, embora as pernas não marquem passadas no chão.

Por que tranqüilizantes, choro, pessimismo? Ninguém vai resolver o seu problema a não ser você mesma! Ninguém gosta de ficar perto de pessoas assim. Aja enquanto é tempo! Arrume-se! Tome gosto pela vida. Assuma a sua casa! A mente não sofreu defasagem. Ponha um sorriso no rosto! Reconquiste O seu marido! Caso contrário, vai perdê-lo, e breve!

Lógico que ela não esperava essa resposta. Foi como se eu botasse água na fervura. Mas precisava ser assim. Teria que haver um choque para uma tomada de consciência. Senti que ela ficou desapontada e, simplesmente, despediu-se.

Dias depois, um mês talvez, telefonou-me dizendo haver seguido as minhas orientações.
— Estou outra! Joguei a tristeza fora, dei uma ajeitada no visual, reconquistei o marido e já fizemos amor! Valeu a "dura" que você me deu! Fiz do seu livro uma cartilha!

Fiquei feliz com as palavras da colega. Juro que da nossa primeira conversa restou-me um sentimento de culpa por haver sido tão dura. Sei que ela queria um ombro para chorar, mas a situação estava tão acentuada que o tratamento de choque seria a única solução. Energia, também, significa amor.

Tempos depois, noutra ligação, ela estava tão bem que queria arranjar um emprego. Queria sair de casa, atuar, trabalhar, participar... Orientei-a como pude. Afinal, tratava-se de uma pessoa erudita, o que facilitava a realização do seu desejo.

Contudo é preciso ter garra para enfrentar, pois, o preconceito é uma realidade que não podemos negar. Pouco se sabe sobre a nossa capacidade de trabalho, sobre o nosso direito à cidadania.

ELE QUERIA ME MANDAR GERÂNIOS...


ELE QUERIA ME MANDAR GERÂNIOS
(Genaura Tormin)

Havia lançado a primeira edição de Pássaro Sem Asas. Entre as muitas demonstrações de carinho, estampadas das mais variadas maneiras, um telefonema ao meu local de trabalho, de cuja identidade não sei precisar, mas gostaria muito, dizia o seguinte:
— O seu livro é maravilhoso! É uma lição de vida! Não poderia terminar de lê-lo sem ouvir a sua voz! Ele é um testamento público! Gostaria de mandar-lhe gerânios. Onde posso encontrar gerânios? — disse a voz, firme e muito agradável.
— Sinto-me muito cativada pelo carinho. Gosto de todas as flores. Se o senhor sentiu vontade de mandar-me flores, faça de conta que as recebi, pois o desejo de amar já é amor — expliquei.
A voz insistia em me mandar gerânios. Finalmente encerrou o seu discurso dizendo que eu era uma flor.
Emocionada com o que ouvira, senti vontade de poetar. Como a última pessoa intimada para aquele dia havia sido atendida, pus-me no trabalho, dei vazão ao que dizia o coração:

APENAS UMA FLOR

Sou uma flor
diferente:
sem adubo
nem canteiro.

Mas
chamaram-me de flor!
E eu quero ser flor,
embora haja tristeza,
desenganos...
Uma flor de paz,
sempre de amor, vermelha.

Flor,
unicamente flor.
Sem primavera
nem inverno.

Flor no desalento,
flor nas madrugadas,
no frio,
no tempo,
nas lágrimas
e nas tormentas.

Flor-rosa,
de espinhos agudos.
Flor-mulher,
esperança cansada,
direito negado,
liberdade tomada.

Mas
amavelmente
ou gentilmente,
chamaram-me de flor.

E eu sou uma flor!
Nada mais.

Fico feliz,
por ser ainda,
apenas uma flor.


PS.: Hoje, esse livrinho já está em sua 6ª edição.

PLURALIDADE DE EXISTÊNCIAS



PLURALIDADE DE EXISTENCIAS
(Genaura Tormin)

Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, esta é a Lei. Esta inscrição encontra-se no túmulo do codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, no cemitério do "Pere Lachaise", em Paris.

As simpatias ou antipatias estampadas aleatoriamente, significam a qualidade das relações anteriores que se religam agora, unindo a grande família de todos os tempos, semeando a fraternidade universal, uma vez que a caridade é o estandarte maior dessa Doutrina Consoladora.

A pluralidade das existências no corpo físico não se constitui apenas numa afirmação evangélica, mas uma verdade científica e filosófica, explicada pela Lei do Progresso, claramente estampada nas diferenças sociais, nas doenças congênitas, além de muitos acontecimentos atribuídos a fatalidades.

A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória! Só colhemos o que plantamos. É a justeza de Deus. Pensar diferente é desprezar a Justiça Divina, na sua função de dar a cada um segundo as suas obras, como ensinou o Cristo. Se Jesus pode simplesmente apagar todos os nossos erros passados, qual seria então o sentido das nossas ações na Terra?

Deus nos deu, para nosso adiantamento aqui, justamente o que nos é necessário: a voz da consciência e as nossas tendências instintivas, e nos tirou o que poderia nos prejudicar, lançando um véu de esquecimento sobre as nossas existências passadas, embora, ao nascer, o homem traga o que nelas acumulou.

Se o homem aceitasse e compreendesse melhor a lei da reencarnação, não teríamos hoje tanta violência, tanta corrupção, tanta avareza: ricos enganando pobres, líderes religiosos enganando os mais humildes com promessas impossíveis, a troco de dinheiro, como se houvesse transporte de malotes de grana na rota Terra/Céu.

O que é o amor



O que é o amor

Talvez brisa sutil, cujo toque acalanta
o botão a florir, em promessa de vida...
Ou será minuano, que, hostil, aquebranta
a palmeira que, em prece, se eleva, incontida?

Arrebenta, revira, destroça, desplanta...
Há de ser vendaval, em loucura homicida?
Ou, bem mais, tempestade, que o peito agiganta
e desperta o queimor da paixão reprimida?

Ah, o amor! Explicá-lo é tarefa impossível...
As lembranças sussurram baixinho: é factível...
Tomo lápis, papel, e me entrego ao labor.

Um silêncio... Saudade... Uma lua tão cheia...
E o poeta que, errante, em minh´alma vagueia,
um soneto plangente começa a compor!

- Patrícia Neme -

A NOITE NEGRA DA ALMA


A NOITE NEGRA DA ALMA

A noite negra d'alma é a agonia
do pássaro flechado no infinito;
não há regresso... O corpo se esvazia
da vida... E a morte é o santo veredito.

A noite negra é o nada... É dor... Conflito
entre a esperança e o canto de elegia...
Entre o alento e o ar, que não sacia...
Entre o sorrir do sol e o fim do dia.

A noite negra d'alma é dor perene,
é o sofrimento em rito mais solene...
É dor, a dor maior, dentro de mim!

E só resta pedir por miserere,
que o céu acalme a dor, que tanto fere...
E a paz... A paz me acolha... Sempre... Enfim!


- Patrícia Neme -

ALFORRIA


ALFORRIA
(Genaura Tormin)

Tenho que reinventar a vida
Para espantar o medo,
Aprisionar a agonia.

Vou decretar alforria
Para a solidão!
Não a quero por companhia!
Prefiro o vento, a brisa,
Mistério, magia,
E os enlevos de ventania.
Quero um vendaval de sorrisos,
Escancarados, atrevidos,
Para gargalhar a vida!

Quero esquecer a saudade,
Na conquista da alegria.
Tenho que encontrar saída,
Para não acelerar
O relógio do tempo.
Não quero a vida vazia!
Estou pedindo alforria!

AMOR CONSCIENTE



AMOR CONSCIENTE
(Genaura Tormin)

A vida se conta pelos anos,
Pelas experiências...
Pelo plantio e pela colheita...
É uma construção em terreno árido.

O arroubo da paixão
Dispersa-se pelo caminho,
Em retalhos esquecidos,
Levado pelo temporal.

Em troca,
Um amor maduro,
Consciente.
Companheiro,
Alicerçado
Em cuidados, respeito,
E muito aconchego.

Encanecem os cabelos,
Muda-se a silhueta.
Mórbidos,
Arquejam os desejos.
A labareda já não existe,
Apenas a brasa moribunda
Continua alerta, de sentinela.

Pela janela,
O horizonte tão longe,
Tão distante,
A esculpir a história
De um GRANDE AMOR.
Um filme para reviver!