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agosto 27, 2012

CHAMA



acender uma chama com cuidado
todas as noites
para que vele os sonhos
para que a alma não se apague
para que a poesia não escape
sombra sorrateira rente ao muros
arrumar todas as noites
as miragens ao pé da cama
como um jogo antigo
onde nas pedras vinham escritas
portas secretas.

Roseana Murray
In ‘Poesia Essencial’  

A PAIXÃO



Levanto a custo os olhos da página;
ardem;
ardem cegos de tanta neve.
Faz dó esta paixão pelo silêncio,
pelo sussurro do silêncio,
pelo ardor
do silêncio que só os dedos adivinham.
Cegos, também.


Eugénio de Andrade 

AS MÃOS



Que tristeza tão inútil essas mãos
que nem sempre são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono

Eugénio de Andrade