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março 04, 2021

PRINCÍPIO DA NOITE


Eu ia em mim perdido, em mim pensando.
A existência deserta.
A rua escura.

Eu sentia a tristeza dos felizes
Vendo a estrela da tarde rir sozinha...

Em que altura ela estava!
O resto era imenso.

Tudo é exílio.



Dante Milano
in Melhores Poemas


Obrigada. Volte sempre.

LITANIA DAS HORAS MORTAS



Por estas horas de silêncio e solidão,
Eu gosto de ficar só com o meu coração.
É nestas horas de prazer quase divino
Que eu me sinto feliz com o meu próprio destino.

Por estas horas é que a cisma me conduz
Por estradas de treva e caminhos de luz.

É nestas horas, quando em êxtase medito,
Que sinto em mim a nostalgia do infinito.

Por estas horas, quando a sombra estende os véus,
A fé me leva além dos mais remotos céus.

É nestas horas de tristeza e de saudade
Que desperta em meu ser a ânsia da Eternidade.

Por estas horas, minhas naus ousam partir
Para Istambul, para Golconda, para Ofir...

É nestas horas, Noite amiga, em teu regaço,
Que eu me difundo pelo Tempo e pelo Espaço.

Por estas horas eu somente aspiro ao Bem,
Que em vida se tornou minha Jerusalém.

É nestas horas, quando o espírito descansa,
Que me depões na fronte o teu beijo, Esperança!

Por estas horas é que eu sinto florescer,
Como os astros no céu, o jardim do meu ser,

É nestas horas de quietude que deponho,
Ó Noite! em teu altar, minha lâmpada — o Sonho.

Por estas horas é que eu gosto de sonhar,
Para ter ilusões brancas como o luar.

É nestas horas de mistério e beatitude
Que a Glória me fascina e a Poesia me ilude.

Por estas horas de tranquila e doce paz,
Quanta serenidade o espírito me traz!

É nestas horas, quando a treva se constela,
Que ouço o teu canto nas estrelas, Filomela!

Por estas horas, a minh'alma anseia por
Teu encanto, Ventura! e teu engano, Amor!

É nestas horas de tristeza e esquecimento
Que eu gosto de ficar só com o meu pensamento.

Por estas horas eu me julgo Parsifal
Para ir pela renúncia à conquista do Graal.

É nestas horas que, como um eco profundo,
Repercute no meu o coração do mundo.

Por estas horas transitórias e imortais
Se desvanecem minhas dúvidas fatais.

É nestas horas de harmonia indefinida
Que eu tento decifrar o teu enigma, Vida!

Por estas horas, meu instinto morre, com
A intenção de ser justo, o anseio de ser bom.

É nestas horas de fantástico transporte
Que eu busco interrogar a tua esfinge, Morte!

Por estas horas, eu me enlevo assim, porque
Vela no lodo humano a luz que tudo vê...

Por tuas horas silenciosas, benfazejas,
Deusa da Solidão, Noite! bendita sejas!


Da Costa e Silva,
in Poesias Completas

Obrigada. Volte sempre.

FLORES DA LUA



Brancuras imortais da Lua Nova
Frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
Dos fantasmas notívagos da Cova.

Da noite a tarda e taciturna trova
Soluça, numa tremula dormência...
Na mais branda, mais leve florescência
Tudo em Visões e Imagens se renova.

Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
Monótono, infinito, estranho e lasso...

E das Origens na luxúria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
Flores amargas do palor da Morte.

Cruz e Souza 


Obrigada. Volte sempre.

EVOCAÇÃO



Oh Lua voluptuosa e tentadora, 
Ao mesmo tempo trágica e funesta, 
Lua em fundo revolto de floresta 
E de sonho de vaga embaladora. 

Langue visão mortal e sedutora, 
Dos Vergéis sederais pálida giesta, 
Divindade sutil da morna sesta 
Da lasciva paixão fascinadora. 

Flor fria, flor algente, flor gelada 
Do desconsolo e dos esquecimentos 
E do anseio, da febre atormentada. 

Tu que soluças pelos céus nevoentos 
Longo soluço mágico de fada, 
Dá-me os teus doces acalentamentos! 

Cruz e Souza  


Obrigada. Volte sempre.

NOTURNO



Andam passos abolidos
pela amurada da lua:

boia o endereço no fundo
da alegoria – não eras;

candelabros esculpidos
com substâncias de lua...

Cancelo encontros com o mundo,
boio em mim mesmo – não eras.


Colombo de Sousa
In: Antologia Poética


Obrigada. Volte sempre.

SOLIDÃO



Este rugido das águas
é uma sem forma:
sobe rochas, desce fráguas,
vem para o mundo, e retorna...

E a névoa desmancha os astros,
- terra e céu - guardando nome.
E os seus longos sonhos sábios
geram a vida dos homens.

Geram os olhos incertos,
por onde descem os rios
que andam nos campos abertos
da claridade do dia.


Cecília Meireles,
in Viagem


Obrigada. Volte sempre.

ORAÇÃO DA NOITE



ORAÇÃO DA NOITE

Trabalhei, sem revoltas nem cansaços,
No infecundo amargor da solitude:
As dores,  - embalei-as nos meus braços,
Como alguém que embalasse a juventude...

Acendi luzes, desdobrando espaços,
Aos olhos sem bondade ou sem virtude;
Consolei mágoas, tédios e fracassos
E fiz, a todos, todo o bem que pude!

Que o sonho deite bênçãos de ramagens
E névoas soltas de distância e ausência
Na minha alma, que nunca foi feliz.

Escondendo-me as tácitas voragens
De males que me deram, sem consciência.
Pelos míseros bens que sempre fiz!...


Cecília Meireles 
in Nunca Mais e Poemas dos Poemas- 1923-


Obrigada. Volte sempre.

APONTAMENTO




Ó noite, ó noite, ó noite!
Luar e primavera
e os telhados cobrindo
sonhos que a vida gera!

Subo por essas horas
solitária e sincera,
e encontro, exausta e pura,
minha alma que me espera.


Cecília Meireles
In: Poesia Completa

Obrigada. Volte sempre.

CERTA PRESENÇA...

 

Certa presença concreta da noite vem
insinua-se infiltra-se e entorpece
de serenidade ou angústia. Ou dupla
embala em sonho em acre e em silêncio
Vem materna e serena mas corpórea
e afaga o descanso e entoa a canção inatingível
Então se avoluma o esquecimento e envolve-me e avança
comigo nos braços para a distância e o sonho perfeito


Bandeira Tribuzi
In: Poesias Completas


Obrigada. Volte sempre.

NOITES AMADAS



Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!

Auta de Souza


Obrigada. Volte sempre.

CHEGARAM AS ESTRELAS



As estrelas chegaram úmidas
E suas frias pétalas pousaram
No meu rosto seco.
As estrelas chegaram trêmulas.
Pareciam flores que o vento esfolhara,
Da noturna árvore.

Murado e exausto,
Que consolo encontro nas estrelas
Que chegaram de repente!
Falaram-me de suas viagens,
Das regiões nuas que atravessaram,
Das fontes que cantam pelos espaços,
Das vozes que se ascendem em caminhos nunca vistos,
Na figura de Aglaia adormecida no céu,
E no sorriso de infância que na sua face flutua.
As estrelas chegaram loucas dos seus infinitos silêncios.
E falavam incessantemente.
Foi o orvalho de suas asas
Que molhou meus olhos!

Augusto Frederico Schmidt
In Um século de poesia


Obrigada. Volte sempre.

AO LUAR



Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o espaço com a minha plenitude!

Augusto dos Anjos

A MINHA ESTRELA



E eu disse - Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
- A sombra deste afeto estiolado.

Disse, e a estrela foi p'ra o Céu subindo,
Minha'alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava,
E quando ela no azul foi-se sumindo

Surgia a Aurora - a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando 
A catedral da Grande Natureza.

Mas a noite chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E nunca mais eu vi a minha estrela!

Augusto dos Anjos
In Poesia/Poemas Esquecidos

SERENATA



Plenilúnio de maio em montanhas de Minas!
Canta ao longe uma flauta e o violoncelo chora,
perfuma-se o luar nas flores das campinas,
subtiliza-se o aroma em languidez sonora.

Ao doce encantamento azul das cavatinas,
nessas noites de luz mais belas do que a aurora,
as errantes visões das almas peregrinas
vão voando a cantar pela amplidão afora...

E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta.
Das montanhas cantando, a névoa se levanta,
banhada de luar, de sonhos, de harmonia.

Com profano rumor, porém, desponta o dia
e, na última porção da névoa transparente,
a flauta e o violoncelo expiram lentamente


Augusto de Lima

SOMBRAS AMIGAS



Sombras da noite, leves como as aves,
Aconchegos e frêmitos de amores,
Que em nossas asas de esquisitas cores
Subam para o Alto os meus anseios graves.

Sombras flébeis, tenuíssimas, suaves,
Emigras de um chão de negras flores,
Levari-me as mágoas e as secretas dores
Pelas mais altas e silenciosas naves...

Ascendendo às alturas das montanhas,
Que os meus anseios de ferais entranhas,
Que todo esse clamor de ansiedade,

Erre junto de nós, sombras da noite,
E numa estrela rútila se acoite,
Em busca de repouso e de piedade.


Araújo Figueiredo,
in Versos Antigos 
 

À NOITE



Todas as palavras são pretas
todos os gatos são tardos
todos os sonhos são póstumos
todos os barcos são gélidos
à noite são os passos todos trôpegos
os músculos são sôfregos
e a máscaras, anêmicas
todos pálidos, os versos
todos os medos são pânicos
todas as frutas são pêssegos
e são pássaros todos os planos
todos os ritmos são lúbricos
são tônicos todos os gritos
todos os gozos são santos

Antonio Carlos Secchin

ACORDANDO



Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta 
Este meu vão sofrer, esta agonia, 
Como sobe cantando a cotovia, 
Para o céu a minh’alma sobe e canta. 

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa, 
Que ao mundo traz piedosa mais um dia... 
Canta o enlevo das cousas, a alegria 
Que as penetra de amor e as alevanta... 

Mas, de repente, um vento úmido e frio 
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio 
Me acorda. — A noite é negra e muda: a dor 

Cá vela, como d’antes, ao meu lado.. 
Os meus cantos de luz, anjo adorado, 
São sonho só, e sonho o meu amor! 


Antero de Quental 
In Sonetos 

HORAS MORTAS



Horas mortas ... silêncio do luar
Descendo sobre as águas;
E os rochedos na sombra a meditar
E o vento adormecendo as misteriosas mágoas.

Horas mortas ... Fantástica paisagem ...
Ó bailado das sombras pelo chão!
É quando me aparece o luar da sua imagem
No sem luz que leva ao coração.

Horas mortas de sonho e de mistério,
Em que as almas e as coisas entristecem;
E os mortos, ao luar, no cemitério,
Se levantam da campa e os vivos adormecem ...

Horas mortas da noite, em que medito;
Paisagem da saudade ...
Horas mortas, perdidas no infinito,
Quando a vida se eleva e alcança a Eternidade ...


Anrique Paço D’Arcos
in "Poesias Completas"

NOITE DESMEDIDA




Por quem se fez a noite do meu canto
fosse talvez pastor dessa ocarina
de muitos sons vibráteis como pranto
de partitura agônica e ferina

em que a medida exata principia
no labirinto negro - infinda hora.
Inevitável noite que em si é dia
mesmo sabendo raio dessa aurora

há de sangrar a inversa tessitura:
rubro poente - líquida ferida
a refletir a dor de tanta agrura

nesses perdidos traços que na vida
vão se forjando em forma de escritura
para a amplidão da noite desmedida. 

DENTRO DA NOITE


De dentro da noite
eu fui te buscar
com palavra tua,
toda nua...
qual pétala em flor!

E encontrei contigo, lá
os meus versos,
teu olhar, teu sorriso,
o paraíso,
onde o silêncio é mistério...

Eu fui te buscar,
na insônia das horas
e assim te buscando,
a vida é tão nossa,
que tudo lá fora pertence a nós dois!

De insônia em insônia,
como ave pequena,
na ânsia do afago ...
consigo sonhar
lá, dentro da noite!

Alvina Tzovenos
In Sonhos e Vivências  

INVENÇÃO DA NOITE



Deste silêncio e desta treva
construo a minha noite
particular e intransferível.
Não preciso inventar as estrelas,
elas nascem e brilham por si mesmas.
E à meia-noite uma lua triste
levanta a cara de prata no horizonte
e verte nos meus olhos um choro, um frio.

Anderson Braga Horta
In Fragmentos da Paixão

XXXV


O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.


Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.


Alberto Caeiro



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ENTARDECR NA PRAIA DA LUZ



Espreguiçados, os ramos
das palmeiras filtram
a luz que sobra
do dia. É já noite
nas folhas. O branco
das paredes recolhe
o sangue e o vinho
de buganvílias
e hibiscos. Bebe-os
de um trago: saberás
que, mais do que cegueira, a noite
é uma embriaguez perfeita.


Albano Martins,
in "Castália e Outros Poemas


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POEMA SONHADO



Se não for pela poesia, como crer na eternidade?
Os ossos da noite doem nos mortos.
A chuva molha cidades que não existem.
O silêncio punge em cada ser acordado pelos cães invisíveis
do assombro.
Os ossos da noite doem nos vivos.
A escuridão lateja como um seio.
E uma voz (de onde vem?) repete incessante, incessantemente:
Se não for pela poesia, como crer na eternidade.

Alphonsus de Guimaraens Filho 

E AO ANOITECER



e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

Al Berto


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SONETO DO ANJO



Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando…
Negros olhos as pálpebras abrindo…
Formas nuas no leito resvalando…

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Álvares de Azevedo

DO AZUL, NUM SONETO

 

Verificar o azul nem sempre é puro.
Melhor será revê-lo entre as ramadas
e os altos frutos de um pomar escuro
- azul de tênues bocas desoladas.

Melhor será sonhá-lo em madrugadas,
fresco inconstante azul sempre imaturo,
azul de claridades sufocadas
latejando nas pedras - nascituro.

Não este azul, mas outro e dolorido,
evanescente azul que na orvalhada
ficou, pétala ingênua, torturada.

Recupero-o, sem ter, e ei-lo perdido,
azul de voz, de sombra envenenada,
que em nós se esvai sem nunca ter vivido.

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Água do tempo

REFÉM DA LUA



Sou refém da lua cheia
ela entra pelo quarto
conhece-me os desejos
os beijos guardados
as sombras e crateras do meu cativeiro
sou refém da meia lua
ela me sabe os pedaços
tristezas e segredos
invade-me à madrugada
assiste o amor arder
sem endereço
sou refém de mim
a lua é pretexto

Alice Ruiz

VIÉS

 


Ó lua, fragmento de terra na diáspora,
desejável deserto, lua seca.
Nunca me confessei às coisas,
tão melhor do que elas me julgavam.
Hoje, por preposto de Deus escolho-te,
clarão indireto, luz que não cintila.
Quero misericórdia e
por nenhum romantismo sou movida.


Adélia Prado



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À BEIRA DA TARDE



Confinado a preencher
a vida com palavras, vivê-la
apenas em parte
e, assim dividida,
ainda sonhá-la
sempre maior.

Confinado à treva
que em minha pele acende
o rude lume de seu horror
- e tortura.

Confinado a tanto
por tão pouco,
ou a nada, por alto preço,
sigo daqui nesta esperança
- nesta certeza -
de que se ilumina
o mundo, lá fora,
numa aventura bem melhor.

Adriano Wintter



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NOTURNO



Prostituta, dá teu corpo
como a árvore sem fruto
dá a derradeira sombra
sobre o leito da calçada...

Teus cios, águas paradas...
Tantas lágrimas vertidas
tantas noites indormidas
tantas mágoas acordadas.

Inverno, colhe-te o frio
das rosas despetaladas...
Ô, as horas de esperança
já no tempo sepultadas...

Corações, soam-te a alma
que é a tua igreja fechada
onde os sinos em silêncio
sem amor tocam por nada...

A. Estebanez 


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A MULHER DENTRO DA NOITE



Foge do seio da noite
Um perfume mais penetrante, mais forte,
Mais ácido e insinuante
Do que o das flores nascidas da morte.
Cai de dentro das estrelas tranquilas
Uma luz tão cintilante
Vazando as minhas pupilas
Que chego a pensar contente que o fim não esta mui distante.
Passam roçando meu rosto, fatigados, os últimos ventos
E deles meus ouvidos tiram
Cânticos e lamentos.
É o momento em que as pastagens do deserto são regadas pela lua
E as colinas se adornam de alegria,
É o instante em que meu espírito deixa que sobre meu corpo influa
A sensação do nada e o tudo da poesia.


Adalgisa Nery
In: Mundos Oscilantes


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UM INSTANTE DO PENSAMENTO




A noite vai inchando no espaço
À espera das coisas, engendrando
A rosa frágil, a lâmina de aço.
A noite vai ungindo seres em seu ventre
Sob o hálito de elementos apodrecidos,
Vai criando átomos de aflições entre
O riso da criança e a presença dos lamentos.
O pranto nasce sobre os ramos,
Sob as sombras apagadas,
Devolve esperas além do tempo,
Desce sobre as faces superpostas,
Movimenta desígnios já mortos,
Grita obscenos desejos nas águas represadas
E canta a sua canção nos vales sem fundo.
A noite inchando no espaço,
Multiplicando a rosa frágil
E a lâmina de aço.

Adalgisa Nery
In Erosão (1973)


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FESTA NOTURNA




O sol
vestiu o entardecer
com rendas douradas,
violetas e azuis...
Para a festa da noite,
a lua cheia
transformou-se
em prateada medalha
e enfeitou
o peito redondo do infinito...

Adélia Maria Woellner 


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BRANCA NOITE DE LUAR




Mal o dia se esgueira e foge entre as árvores do crepúsculo,
insinuam-se os seus finais entre as dúvidas do nascer da noite.
Pára o rio e sua viagem. Cessam as águas a sua voz.
Cantos de pássaros interrompem-se e tombam nos ouvidos da solidão.
Póstumos bois adormecem no relvado as suas sombras,
e um gesto final do ocaso conduz a ovelha derradeira.
Entre os rebanhos recolhidos recolheu-se a tarde
e, enquanto as distâncias se estiram brancamente,
lúcido vinho vai a terra embebedando:
o chão é claro sonho e firmamento.
Verte o céu a sua azul antiguidade
sobre as formas, as ausências e os corações dos homens,
e a lua vai abrindo em leve solo nas alturas
imaginativas ruas de silêncio, de outrora,
de alva tristeza e amoroso pensamento.


Abgar Renault  

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