Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas
- e não serei eu.
Repetirás o que me ouviste
o que leste de mim e mostrarás meu retrato
- e nada disso serei eu.
Dirás coisas imaginárias,
Invenções sutis, engenhosas teorias,
- e continuarei ausente.
Somos uma difícil unidade,
De muitos instantes mínimos,
- isso serei eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente.
- como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias
transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.
- Que mortal nos poderia prender?”
Cecília Meireles
Em “Poesia Completa – Dispersos (Volume 1)
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