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outubro 31, 2012

UMA PAIXÃO


Em minha pátria há um monte.
Corre em minha pátria um rio.
Vem comigo.
A noite sobe ao monte.
A fome desce o rio.
Vem comigo.
Quem são os que padecem?
Não sei, sei que são meus:
Vem comigo.
Não sei, porém me chamam e me dizem: "Sofremos".
Vem comigo.
E me dizem: "Teu povo, teu povo deserdado, entre o monte e o rio,
com fome e com dores, não quer lutar sozinho,
te está esperando, amigo."

Oh tu, a que amo, pequena, grão vermelho de trigo,
a luta será dura,
a vida será dura,
mas tu virás comigo.

PABLO NERUDA

ME ENCANTE




Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar...

Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser...
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar...

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar...

Me encante com suas palavras...
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade...
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o seu primeiro namorado...
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva....

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre...
Mas, me encante de verdade, com vontade...

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias...
Pelo resto das nossas vidas!!!

PABLO NERUDA

outubro 30, 2012

POEMINHA AMOROSO



Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

outubro 29, 2012

HÁ EM TEUS OLHOS...


***

Há em teus olhos, dados ao momento,
uma tristeza de água reprimida,
que é como o pressentimento
duma próxima despedida.
Tristeza que faz lembrar
dias perdidos de outono
com luz pálida a incidir
nas folhas mortas de sono.
Deixa que a esperança os molhe,
os inunde de alegria.
Cada noite passa e colhe
o gosto dum novo dia.

Albano Martins



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

DÊEM-ME




um arco e recriarei a infância,
os tordos sob a neve,
o rio sob as tábuas.
Dêem-me
a chuva e a gávea
duma figueira,
a flor dos eucaliptos,
um agapanto de água.


Albano Martins
in:Vertical


Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

CUIDADO



Ó namorados que passais, sonhando, 
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo... E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando...

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem nunca ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!


Guilherme de Almeida

outubro 28, 2012

outubro 25, 2012

HILDA HILST


Naquele momento
o riso acabou
e veio o espanto
e do meu choro
o desentendimento
e das mãos unidas
veio o tremor dos dedos
e da vontade de vida
veio o medo.

Naquele momento
veio de ti o silêncio
e o pranto de todos os homens
brotou nos teus olhos translúcidos
e os meus se afastaram dos teus
e dos braços compridos
veio o curto adeus.

Naquele momento
o mundo parou
e das distâncias
vieram águas
e o barulho do mar.
E do amor
veio o grande sofrimento.

E nada restou
das infinitas coisas pressentidas
das promessas em chama.
Nada.

Hilda Hilst,
in Baladas

outubro 23, 2012

ALDOUS HUXLEY



“Depois do silêncio, o que mais se aproxima
 de expressar o inexprimível é a música.”
 
―Aldous Huxley




Agradeço sua visita. 
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FREUD



“Quando a dor de não estar vivendo for maior que 
o medo da mudança, a pessoa muda.” 

―Sigmund Freud

CAIO FERNANDO ABREU



“Quero estar perto de pessoas que sabem colocar 
palavras maduras nas minhas frases verdes.” 

―Caio Fernando Abreu



MARGUERITE YOURCENAR



“As outras pessoas vêm a nossa presença,
 os nossos gestos, a maneira pela qual
 as palavras se formam nos nossos lábios,
 mas somente nós vemos a nossa vida.”
 
―Marguerite Yourcenar

outubro 22, 2012

SAUDADES




Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de magoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.

Então - Proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
Saudades - Dos meus amores
Saudades - Da minha terra!


Casimiro de Abreu

A CANÇÃO DA SAUDADE



Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas... Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.

Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!

Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!

Nunca mais te verei... Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!


Olegário Mariano

PASSAGENS



Poderia ter sentido
o perfume da vida
passando entre as flores
que se encantam,
dissimulando asperezas
nas pétalas umedecidas

Prenderia tua imagem
no acústico de uma sonata,
no calor do sol ressacado
de um verão

O vento em suas rajadas afiadas,
cortará a saudade insuportável,
falando do amor
como quem fala da sede,
da fome, da dor.

Conceição Bentes

CANÇÃO EM CAMPO VASTO



Deixa-me amar-te com ternura, tanto
que nossas solidões se unam,
e cada um falando em sua margem
possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura, ambos
cavalgando mares impossíveis
em frágeis barcos e insuficientes velas,
pois disso se fará a nossa voz.

Ajuda-me a amar-te sem receio:
a solidão é um campo muito vasto
que não se deve atravessar a sós.

Lya Luft

outubro 21, 2012

A SOLIDÃO E SUA PORTA




Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha,
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


Carlos Pena Filho 

A VERDADEIRA ART DE VIAJAR




A gente sempre deve sair à rua como quem foge
de casa,
como se estivessem abertos diante de nós todos
os caminhos do mundo...
Não importa que os compromissos, as obrigações,
estejam logo ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o
coração cantando!

Mario Quintana
in A cor do invisível 

outubro 15, 2012

FLOR DA PAIXÃO



Sei agora
que a paixão
é azul e coroada
como o sangue e a cabeça
das rainhas. Que tem
nome de flor
e é ímpar. Porque,
se o não fosse,
não seria paixão.


Albano Martins
de "Castália e Outros Poemas"



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

outubro 04, 2012

CANTIGA PARA NÃO MORRER




Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.


Ferreira Gullar

DEVIAS ESTAR AQUI



Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um.

Eu vi a terra pura no teu rosto,
só no teu rosto e em mais nenhum…


Eugénio de Andrade

BILHETE



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Mario Quintana
In Nariz de Vidro

outubro 03, 2012

SAUDADE



A saudade deixa a alma inquieta.
E quando a ausência se torna eternidade,
vem a alucinação de procurar asas
nos braços do vento,
nas folhas que voam sem rumo.

Assim sou eu, folhas perdidas!

Glória Dantas

outubro 02, 2012

A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Carlos Drummond de Andrade

SAUDADE



Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…
Saudade é sentir que existe o que não existe mais…
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda

PRESENÇA



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Mario Quintana,
In: Apontamentos de História Sobrenatural

outubro 01, 2012

ENTARDECER



Um marco de melancolia
na aridez das escarpas,
debruçadas no ocidente
e um marulhar de lembranças
nos grotões da saudade.

Helena Kolody 
in Viagem no Espelho