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novembro 18, 2013

para Andréa

para Andréa
(regina helena)

tão pequenina, meu anjo, onde andas?
te vi tão pouco, apenas um momento
e então, te levaram para longe de mim.

precisavas respirar e eu,
ali fiquei, olhando o teu vulto e sem saber,
que era para nunca mais te ver.

céus, estrelas, outras dimensões,
universos paralelos, dobras no tempo e,
quem sabe em um momento, ainda aqui,
se abra uma portinha, meu amor...

...e a gente possa te ver mais uma vez
viver o sonho, acalentar no peito,
nosso primeiro amor, que veio aqui,
como raio de luz, de intenso brilho
...e se apagou.

novembro 13, 2013

Apenas uma chama…

Apenas uma chama…

Uma estrelinha cadente
brilhou por instantes em nosso Céu
Irradiou sua luz, nos deu paz,
nos encheu de esperanças,
deu sentido à nossa vida,
motivos para viver... e Passou!

Refulgiu e apagou na mais longa
e escura noite das nossas vidas.

Levou com ela a esperança,
entristeceu nossa casa,
e calou nosso canto!

Era apenas uma chama...
Tão pequenina e frágil,
mas preciosamente inesquecível.

Estava no nosso destino perder esse sonho,
longamente acalentado no peito...

O seu Céu não era o nosso,
e ela foi brilhar em outros horizontes...
Ou quem sabe ainda,
foi chamada para compor junto aos anjos,
um coro ao Criador.

outubro 16, 2013

XI



O pássaro
conhece o horizonte.
A redondez
da terra.
E a primavera que anuncia
no canto solitário.
E na espera.

O pássaro não sabe
que eu sei, solitário,
atrás da vidraça
estas coisas que ele sabe.

Mas o pássaro
sabe de coisas
que nunca saberei
atrás das vidraças.


Lindolf Bell
In Código das águas 






outubro 10, 2013

DESPEDIDAS



Começo a olhar as coisas
como quem, se despedindo, se surpreende
com a singularidade
que cada coisa tem
de ser e estar.
Um beija-flor no entardecer desta montanha
a meio metro de mim, tão íntimo,
essas flores às quatro horas da tarde, tão cúmplices,
a umidade da grama na sola dos pés, as estrelas
daqui a pouco, que intimidade tenho com as estrelas
quanto mais habito a noite!
Nada mais é gratuito, tudo é ritual
Começo a amar as coisas
com o desprendimento que só têm
os que amando tudo o que perderam
já não mentem.

Affonso Romano de Sant´Anna



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

ASSOMBROS




Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

Affonso Romano de Sant'Anna



Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!

DÁ-ME A FESTA MÁGICA




DEUS – e de onde é que tiras para acender o céu
este maravilhoso entardecer de cobre?
Por ele soube encontrar de novo a alegria,
e a má visão eu soube torná-la mais nobre.

Nas chamas coloridas de amarelo e verde
iluminou-se a lâmpada de um outro sol
que fez rachar azuis as planícies do Oeste
e verteu nas montanhas suas fontes e rios.

Deus, dá-me a festa mágica na minha vida,
dá-me os teus fogos para iluminar a terra,
deixa em meu coração tua lâmpada acendida
para que eu seja o óleo de tua luz suprema.

E eu irei pelos campos na noite estrelada
com os braços abertos e a face desnuda,
cantando árias ingênuas com as mesmas palavras
com que na noite falam os campos e a lua.


Pablo Neruda
Tradução: José Eduardo Degrazia 

outubro 09, 2013

POEMA DA TARDE



A tarde move-se entre os galhos das minhas mãos.
Uma estrela aparece no fim do meu sangue,
Minha nuca recebeu o hálito fino de uma rosa branca.
Todas as formas servem-se mutuamente,
Umas em pé, outras se ajoelhando, outras sentadas,
Regando o coração e a cabeça do homem:

E dentre os primeiros véus surge Maria da Saudade
Que, sem querer, canta.


Murilo Mendes

outubro 08, 2013

CANTATA VESPERAL



CERRAI-VOS, OLHOS, que é tarde, e longe,
E acabou-se a festa a festa do mundo:
Começam as saudades hoje.

Longos adeuses pelas varandas
Perdem-se; e vão fugindo em mármore
Cascatas céleres de escadas.

Pelos portões não passam mais sombras,
Nem há mais vozes que se entendam
Nas distâncias que o céu desdobra.

As ruas levam a mares densos.
E pelos mares fogem barcas
Sem esperanças de endereços.


Cecília Meireles
In Retrato Natural






outubro 07, 2013

DRUMMOND



"Sentimos saudade de certos momentos da nossa vida 
e de certos momentos de pessoas que passaram por ela."

Carlos Drummond de Andrade


MIA COUTO



"Quando chegas 
já não sou senão saudade 
e as flores 
tombam-me dos braços 
para dar cor ao chão 
em que te ergues..."

Mia Couto

DA CERTIDÃO DE NASCER




Nasci onde?
Nasci onde a geografia se faz de sentimento
Ali nasço
Ali nasço ainda.
Cada manhã.
Em cada manhã de medo.
Arremedo.
Degredo a degredo.
Em cada impulso, incompetência.
Na eterna e suave ironia do destino
de mais sentir que saber.
De saber
apenas sei
de quantas palavras
se faz a canoa de afetos.
Embora caminhe torto
por sonhos retos.
Muito aprendi
da palavra engolida em seco.
E da palavra abatida
por palavras de equívoco
e sutis alvenarias de cinismo.
Permaneço aqui
mesmo assim.
Nasço onde a geografia se faz de sentimento.
Entre princípio e fim de mundo.
Aurora a aurora.
Segundo a segundo.


Lindolf Bell,
in O Código das Águas


outubro 06, 2013

SAUDADE


SAUDADE

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

CLARICE LISPECTOR




"A saudade é a prova que o passado valeu a pena."

Clarice Lispector
 in A Paixão Segundo GH



outubro 05, 2013

ROSEIRA BRAVA



Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor 
E no teu riso tanta claridade, 
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
 
Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade 
São como a alma a arder do próprio amor! 
 
Nasci envolta em trajes de mendiga; 
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
 
Tua irmã... teu amor... e tua amiga... 
E também - toda em flor - a tua filha, 
Minha roseira brava que é só minha!...
 
Florbela Espanca
In ‘Reliquiae’

É NOITE EM TEU JARDIM, MÃE

É NOITE EM TEU JARDIM, MÃE

Pouca memória.
Tão clara e doída tanta.
Foi recente.
Mas tanto tempo faz que se foi.

Partiu em manhã de chuva.
Minha mãe partiu.
O único momento em que não se repartiu.
A sua morte não repartiu.

Disse um dia:
Viver é um jardim precário.
Mas vejo no meu jardim
a eternidade do jasmim.
Porque é belo o eterno.
E porque é belo o jardim.

Sim! o dia amanhece.
Todos os dias.
Por trás dos montes
que vejo de teu jardim.

E toda manhã
o vizinho passa em frente da casa
e não te acena mais.
nunca mais.

Acena para o jardim vazio,
por hábito, medo da morte, espanto.
E pela luz do dia
que ainda freme
de teu canto.

E mesmo assim
é noite em teu jardim.
Por mais que amanheça,
por mais que amanheça.

Lindolf Bell

setembro 30, 2013

PRESENÇA




É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com teu retrato...

E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!


Mário Quintana
In: Apontamentos de História Sobrenatural


AS MÃOS DE MEU PAI



As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas as tuas mãos 
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre
cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza 
que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços 
da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los 
contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das 
tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos
nodosas…
essa chama de vida – que transcende a própria vida
…e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.


- Mario Quintana, 
in: Esconderijos do tempo

julho 24, 2013

REGRESSO



Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina

junho 10, 2013

DA SAUDADE



Flor - cristal
a derramar-se dentro das horas
a dar-se em pólen
nos momentos brancos do existir

Recados de muito longe
acordando gestos dormidos!

Espera lenta
com sinal de regresso
Pedaço do sol
abrasando os minutos
Mulher-criança
brincando nos muros do Tempo

no rastro do Tempo
no tempo do Tempo


Lia Corrêa
In Uma Rosa no Tempo



junho 04, 2013

SAUDADE


Saudade

Saudade! É o rio cheio transbordante
Que lembra nossos tempos de criança
É o arvoredo verde, farfalhante
Misturando-se ao verde da Esperança.

Saudade! É o doce canto delirante
Do pássaro que no galho se balança
É a lua cheia vagarosa, andante
Espargindo a luz branca da bonança.

É repassar na mente, do passado
Doces recordações adormecidas
Que não se pode descartar, jamais...

Sentir dentro do peito apaixonado
Um “não sei” que transportam nossas vidas
A tempos idos que não voltam mais.


Bernardina Vilar
de 'Bom dia Saudades'

BOM-DIA, SAUDADE !




Bom dia, meu amor! Tudo desperta
Para um dia de novas esperanças!
E eu vejo o sol pela janela aberta
Do infinito, no início das andanças.

Mas eis que nuvem turva lhe acoberta
E fixa em meu olhar tristes lembranças
Foge o sol, foge a luz, e a a dor me aperta
O coração, que esta tristeza alcança.

Bom, minhas flores que murcharam!
Meus pássaros que tristes se calaram
Envoltos por um véu de soledade.

Bom dia, então, minha tristeza triste
Que dentro de mim, em me magoar persiste...
Bom dia, meu amor, minha saudade!


Bernardina Vilar
de "Bom-dia Saudade"

A MEDIA LUZ



Sempre reneguei o tango
e os entusiastas de Gardel,
(longe de mim a passional postura
eivada de desolação e dor),
o amor sempre em mim um campo
de mais alvos lírios onde não choveu.
Cerrei as tendas, afastei o bruxo,
mas na contrapartida
adiei o fruto, me ceguei à cor.

Violinos eternos , bandoneón ,
toquem-me hoje um tango crepuscular
e tardio, toquem, que desaprendi
o me bastar e o meu cismar sozinho,
à meia-luz meu coração são girassóis
que dançam - todo chama, e torvelinho.


Fernando Campanella


NÃO SEI SE DIGA



Não sei se diga ou não diga,
Nem se o dizer é direito:
Trago-te dentro do peito
Sem nunca sentir fadiga

Emilio Kemp
in Cantos de Amor ao Céu e à Terra

OS DEGRAUS DA VIDA



É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos, nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.


David Mourão-Ferreira,
in Antologia Poética

maio 24, 2013

QUEM AMA INVENTA




Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria.
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!

Mario Quintana
in: A Cor do Invisível

maio 03, 2013

TENÇÃO DE MAL-DIZER



Se eu pudesse desamar,
Que me sempre desamou,
Não me fizera penar
Do mal que penando estou.

Assim me vingara eu
De que por mim não sofreu.

Mas não posso eu desamar,
Quem me sempre desamou,
Por isso quero poupar
Quem a mim nunca poupou:

Rogo a Deus não faça amar,
Quem me sempre desamou.

Martins Fontes
In: Obra Poética



abril 21, 2013

MÁRIO QUINTANA


"Entre a minha casa e a tua há uma ponte
 de estrelas, uma ponte de silêncios."

Mário Quintana

CANTIGA DE RODA



Ao som de ingênua cantiga,
Gira, ligeira, uma roda.

Bailam cabelos de linho,
Brilha a cantiga nos olhos,
Saltam, leves, os pezinhos.

Os grandes cedros antigos,
Também, se põem a bailar:
Cantam os ramos no ar,
Dançam as sombras no chão.


Helena Kolody
in 'Sinfonia da vida".

FELICIDADE



Ela veio bater à minha porta
e falou-me a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada”
e eu respondi: “Bom dia, folha morta”

Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...

Então chamou-me e disse: “Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz”

E foi assim que em plena primavera,
só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!


Guilherme de Almeida
in Sonetos

abril 18, 2013

SAUDADE



Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.

MIA COUTO,
in"Tradutor de Chuvas"

abril 10, 2013

ARCO-ÍRIS




O amor pode ser lilás,
suave e calma fragrância;

o amor pode ser azul,
encharcado de noite e mar;

pode ser vermelho,
fruta madura explodindo
em incêndio:

verde-pássaro
abrindo a gaiola
e tingindo o mundo,

branco-espuma
tecendo renda,

amarelo
derramando ouro,

cor de laranja lavando
os sonhos com fogo.

Roseana Murray,
in Todas as Cores dentro do Branco


abril 08, 2013

CITAÇÃO



Ouvi o grito dos teus olhos
e me fiz silêncios...

Moisés Augusto Gonçalves,
in Fragmentos Impertinentes (2013)

abril 04, 2013

IDÍLIO



Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
 
Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas,
Ao longe, no horizonte, amontoadas:
 
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces ...
 
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Antero de Quental

SE RECORDO




Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.

Fernando Pessoa
 (Ricardo Reis) 

abril 01, 2013

CITAÇÃO


"Há momentos em que só a leitura preenche,
 de forma pura, vazios que a saudade cria..."

Vinicius Gibran Gehlen

CITAÇÃO



“Desejo é relação entre seres humanos carentes.
 Por isso amamos até à loucura e odiamos até a 
morte: nosso ser está em jogo em cada e em todos
 os afetos. Desejo é paixão, diziam os clássicos.”


Marilena Chaui

CITAÇÃO



"Saudade é quando você deita em sua cama vazia
 e no meio da noite um sonho te faz lembrar
 a pessoa amada. Então você acorda na esperança 
de encontrá-la ali, ao seu lado e ela não está.”


Rafael Silveira

LYA LUFT



"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade,
 mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar
 no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."


Lya Luft.

março 26, 2013

LIBERTAÇÃO



LIBERTAÇÃO

NOSSOS desejos se purificaram
e o nosso pensamento
foi subindo, ascendendo, serenando...

Nossas paixões se altearam
como o vento,
que, depois de varrer o pó do chão,
para as estrelas tremulas se eleva,
e, mais alto que a sombra, além da treva,
fica ressoando,
longe e livre, na ignota solidão...

Tasso da Silveira

março 23, 2013

CREPUSCULAR



A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.

Nuno Júdice

março 22, 2013

VISTO A VIDA



Visto-me com a saudade
verde dos teus olhos
e repouso no teu amor
que desdobra com calma sua trilha

Tenho-te no trânsito de olhos
sem destino,
num rosto que nada atinge
ou no tempo que em nós, eu vivo

Da tua alma singular
tenho a calma do amanhecer,
o sabor do reencontro
que aniquila tua ausência

Conceição Bentes

março 21, 2013

JÁ NÃO HÁ DOMINGOS



Todas as vidas gastei
para morrer contigo.

E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.

Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.

Todas as mortes gastei
para viver contigo.

Mia Couto

RUBEM ALVES



"Cartas de amor são escritas não para dar notícias,
 não para contar nada, mas para que mãos separadas
 se toquem ao tocarem a mesma folha de papel."

RUBEM ALVES

A LEMBRANÇA



A lembrança dos teus beijos
inda na minh’alma existe,
como um perfume perdido,
nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
e de tal suavidade,
que mesmo desaparecido
... revive numa saudade!

Florbela Espanca

março 19, 2013

LEMBRANÇAS



Lembro, o fogo aceso
no fundo da caverna
ou na clareira da mata,
o chamado das estrelas,
a lua errante, ensanguentada.
Lembro das palavras murmuradas.
Lembro, enquanto viro as páginas
do livro, da vida, toda lembrança
da humanidade é minha.

Roseana Murray
In Poemas para ler na escola

março 16, 2013

ANTONIO CARLOS F.DE BRITO



Ah se pelo menos o pensamento não sangrasse!
Ah se pelo menos o coração não tivesse 
memória!
Como seria menos linda e mais suave
minha história!

Antonio Carlos F. de Brito 

LENÇOS DE SAUDADE



As praias onde vive e dorme e sonha o mar!
Praias de minha terra, ela são uns regaços
Aos quais a gente atira, ansiosamente, os braços,
Com desejos febris de neles descansar ...

É brio do esplendor que se derrama no ar,
Nesses longes sem fim, nos profundos espaços,
E vem como um amparo a todos os cansaços,
Eu junto às praias, sinto a alma sempre a cantar.

Pelas praias vivi e delas ainda guardo
muitas recordações de amores em que ardo,
Quando as cobre da tarde o áureo fulgor do manto ...

Ah! numa tarde assim, eu te abracei, amada!
À hora do ocaso, à hora suave, à hora calada,
Com lenços de saudade alagados de pranto.

Araújo Figueredo
in Poesias

março 14, 2013

RACHEL DE QUEIRÓZ



"Por que os Doutores, tão ricos em remédios para o 
corpo ofendido, não arranjam algum remédio para 
um ferido coração?"

Rachel de Queiróz

NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI,JÁ NÃO SEI DE SAUDADES



Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.
Feche-se o coração como um livro, cheio de imagens,
de palavras adormecidas, em altas prateleiras,
até que o pó desfaça o pobre desespero sem força,
que um dia, pode ser, pareceu tão terrível.

A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.
Resplandecem os azulejos – é tudo quanto posso ver.
O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário
cismar. Talvez se as pálpebras pudessem
inventar outros sonhos, não de vida...

Ah! rompem-se na noite ardentes violas,
pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.
Por onde pascerão, nestes céus invioláveis,
nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se...
Não só de amor a noite transborda mas de terríveis 
crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros.

Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando,
e os homens da lei sonolentos movem letras 
sobre imensos papeis que eles mesmos não entendem...
Ah! que rosto amaríamos ver inclinar-se da aérea varanda?
Nem os santos podem mais nada. Talvez os anjos abstratos
da álgebra e da geometria. 

Cecília Meireles
In: Poesia Completa

março 12, 2013

E O AMOR TRANSFORMOU-SE...



E o amor transformou-se noutra coisa com o mesmo nome.
Era disto que falavam as mães quando davam conselhos 
às filhas e diziam: o amor vem depois. 
Era isto o depois. 
Uma ternura simples, quase dolorosa, muitos silêncios,
todas as horas do dia e um poema que se dissolve 
dentro de mim e que, devagar, sem rosto, desaparece.
.
José Luís Peixoto, 
in Gaveta de Papéis