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março 06, 2021

São velhas as estrelas...




São velhas as estrelas, e elas são
Grandes. Velho e pequeno é o coração,
E contém mais do que as estrelas todas,
Sendo, sem espaço, mais que a imensidão.

Fernando Pessoa,
in Poemas Portugueses

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PRECE



Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil, 
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda. 
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda. 

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia-
Com que a chama do esforço se remoça, 
E outra vez conquistaremos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa! 


Fernando Pessoa
in 'Mensagem'

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INFINITO SILÊNCIO




houve
(há)
um enorme silêncio
anterior ao nascimento das estrelas

antes da luz

a matéria da matéria

de onde tudo vem incessante e onde
tudo se apaga
eternamente

esse silêncio
grita sob nossa vida
e de ponta a ponta
a atravessa
estridente

Ferreira Gullar

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INSÔNIA




Silencio.
Madrugada.
Rua vazia.
Uma lua branca de linho
estendida no escuro,
sobre o nada.
Num momento insone,
conversam confidentes
Presente, Passado, Futuro.
Um pensamento corta o espaço,
versejando a esmo.
Escuto passo:
É meu coração abrindo a porta de mim mesmo.


Flora Figueiredo

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Deixei-ME anoitecer


...

Deixei-ME anoitecer à sombra da ramada;
Entardeci em sonho e em alma floresci...
Entristece-me a paz da noite e a compassada
canção do grilo a rir na trama em que me vi!

Ernani Rosas
In História do Gosto e Outros Poemas 


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Longe uma pálida...




Longe uma pálida Estrela
Sua luz alçou –
A Lua o chapéu de prata
Lívida soltou –
Clara iluminou-se a Noite
No Salão Astral –
Meu Pai, ao Céu me dirijo,
Tu és pontual –

Emily Dickinson

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O MAR DO CREPÚSCULO




Eis a terra que o crepúsculo banha,
Eis as orlas do Mar Amarelo;
Por onde se ergueu e aonde se abala,
São estes os ocidentais mistérios.

Noite após noite, seu tráfego purpúreo
Cargas de opala pelo cais dispersa;
E mercadores ponderam sobre horizontes,
Calculam rumos e somem em barcos de sortilégio.

Púrpura –
A cor das rainhas é esta –
A cor de um sol, no poente;
- Ainda, além dessa, o âmbar;
E o berilo – se o dia vai a meio.

Quando à noite, porém, amplidões de aurora
Atingem, de súbito, os homens –
Essa cor, e o feitiço, Mas, a Natureza
Reserva um lugar, também, para os cristais de iodo.


Emily Dickinson
in Poemas de Emily Dickinson

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PERMANÊNCIA DA POESIA




Quando a luz desaparecer de todo,
Mergulharei em mim mesmo e te procurarei lá dentro.

A beleza é eterna.
A poesia é eterna.
A liberdade é eterna.
Elas subsistem, apesar de tudo.

É inútil assassinar crianças. É inútil atirar aos cães os que,
de repente, se rebelam e erguem a cabeça olímpica.
A beleza é eterna. A Poesia é eterna. A liberdade é eterna.
Podem exilar a poesia: exilada, ainda será mais límpida.

As horas passam, os homens caem,
A poesia fica.

Aproxima-te e escuta.
Há uma voz na noite!

Olha:
É uma luz na noite!



Emílio Moura

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ELEGIA




Somos os grandes solitários,
corpos na noite, vozes sem sentido.
A qualquer hora, a mesma sombra
cai sobre nós.


Podes falar, ninguém te ouve.
Noite tão noite, nunca se viu.
Cada soluço, que vem de longe
chega, mas, de onde, ninguém sabe,
como se fora teu soluço
que vem de longe.)


Somos os grandes solitários.
Soa a morte cresce em nós e deita raízes em nosso espírito.
Corpos na sombra, vozes sem destino,
mudos, erramos sem destino.


E, a qualquer hora, a mesma sombra
cai sobre nós.


Emílio Moura
in "Itinerário Poético"

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À NOITE TOMBA DE REPENTE




Assisto a tudo, serenamente,
como quem nunca viveu.
A noite tomba de repente.

Hora de olhar e não ver nada,
hora discreta, fina, que eu
sinto fugir, abandonada.

Um grito rasga o céu sereno.
Ah! para que anda no infinito
aquele grito?

A noite veio como um doente
que bebe as horas como um veneno.

E eu olho tudo, serenamente.

Mas o grito que rola e enche todo o infinito,
e desce à terra e sobe ao céu,
esse grito, entretanto,
vem de mim mesmo, num desencanto,

é MEU!...


Emílio Moura
in "Itinerário Poético"

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INSÔNIA




Se a noite parasse...
Ela caminha, caminha.

Meus olhos já imaginaram todas as formas:
- Andaram por aí numa peregrinação ingênua e melancólica,
a mesma voz a repetir as velhas banalidades.

Se a noite parasse,
Se tudo parasse...

- Os astros todos numa estagnação rápida, num resfriamento rápido e definitivo.
Que deslumbramento haveria na poeira imobilizada de todos os astros!
E a terra rígida, parda, na sua máscara irremediável.
Meus olhos sorriem, mansamente,
sorriem na esperança voluptuosa desse capítulo sem repórter.

Oh! esta noite que não pára:
Ela trouxe um sabor novo de lágrima aos nossos olhos.


Emílio Moura
in Itinerário Poético


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COMO A NOITE DESCESSE




Como a noite descesse e eu me sentisse só, só e desesperado
diante dos horizontes que se fechavam
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível Aurora! e vi logo
só as estrelas é que me entenderiam.

Era preciso esperar que o próprio passado desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
- É por aqui!

Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
- Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
- Ó doce e incorruptível Aurora...

se só as estrelas é que me entenderiam?


Emílio Moura


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ALMA ESTRANGULADA





Cada um de nós que vai por essa estrada deserta
sente que uma multidão de espíritos vive dentro de si.
Às vezes nos surpreendemos tão diferentes de nós mesmos...

(As sombras na alma pesam tanto, são tão quietas,
como a noite, são tão frias, como o luar).

... tão diferentes, como se, de súbito,
uma multidão de espíritos vivesse dentro de nós.


Emílio Moura
Itinerário Poético



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ANIQUILAMENTO



ANIQUILAMENTO

Impossível disfarçar e dizer que isso não é angústia.
A esta hora da noite qualquer sorriso murcharia nos lábios.
É inútil pôr esse brilho nos olhos e erguer os ombros.
A vida rolará indiferente,
ríspida, indiferente.
Precisas de um caminho? Ora, o melhor é ir derribando logo esses troncos,
arrancando os espinhos, chanfrando a terra, desviando o curso das águas,
e pensar, ah, sobretudo pensar
que, antes de depois de ti,
tudo, tudo está quieto,
estará quieto,
serenamente
quieto.

Emílio Moura

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[...]



[...]
Olhei o céu: Lá estavam todas elas
A tremer, a brilhar! ...
Por certo riam
Da minha ingênua confusão ...
Que importa! ...
As estrelas do céu também se apagam.
 
Poeta:
Terra e céu cabem juntos
Dentro do mesmo sonho e da mesma ilusão ...
 
Emilio Kemp
in Cantos de Amor ao Céu e à Terra

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