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outubro 23, 2009

Paula






Paula

Cigana, o teu dançar embala a vida,
o som do teu pandeiro anima o vento 
Teu negro olhar é luz que à paz convida,
no teu sorriso resplandece o firmamento 

Cigana, mãe querida, meu alento...
ainda me dói a dor da despedida.
min'alma não vê fim a esse tormento
Sem ti perdi meu porto de acolhida.

Contemplo o céu... Te busco... Onde andarás?
Em qual brilho de estrela, agora, estás?
Naquela que precede o Criador?

Por certo ELE te fez estrela guia,
pois foste essência pura da alegria,
a fonte do mais verdadeiro amor!

- Patrícia Neme -

outubro 16, 2009

'Dia de chuva'


'Dia de chuva'

Nunca mais esta chuva,
nem essa fresta de luz
sobre o penhasco,
nem na beirada
daquela nuvem...
Nem teu imóvel sorriso,
fugitivo...
Nunca mais esse momento
em que teus olhos
já me dizem adeus ...

Claribel Alegria
(Tradução livre por Maria Madalena)

outubro 14, 2009

Crepúsculo de mi misma



Crepúsculo de mi misma

El sol se levanta en un nuevo día:
- Los pájaros saludan el amanecer
Las flores y los ríos cantan
Las aguas parecen más cristalina
Y el vivir es más intenso!

Así fue mi vida.
Apasionada, jamás pensaba
Que en la soledad, podía ver
la salida del sol o las estrellas en el cielo !

Yo no tengo un nuevo comienzo!
En el crepúsculo de mi vida,
sin brillo, sin luz.
Los niños no cantan,
Y no hay transbordo en los ríos!

Los pájaros están volando en adiós ,
Como si no quisieran ver el final del día.
Como yo no quiero,
Nen puedo tolerar mi final ...

Regina Helena
Tradução de Maria Madalena

PARA ATRAVESSAR...


PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Onde me levas...


'Onde me levas, rio que cantei'

(Eugenio de Andrade)

Onde me levas, rio que cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me leva?, que me custa tanto.

Não quero que conduzas ao silêncio
duma noite maior e mais completa.
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.

Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos.
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.

Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra fase na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.


Canção breve


Canção breve

Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.


Eugénio de Andrade

outubro 13, 2009

Ocaso de mim...


Ocaso de mim...

Raia o Sol de um novo dia:
- Os pássaros saúdam a alvorada,
as flores se abrem e os rios cantam.

As águas parecem mais cristalinas
e o viver mais intenso!

Assim também foi a minha vida.
Amando loucamente não pensei
que um dia, sozinho, contemplaria
o amanhecer ou as estrelas no Céu.

Já não há um novo começo!
No ocaso da minha vida,
já não há brilho, já não há luz.
As crianças não cantam,
e nem os rios transbordam!

A passarada se despede em bandos,
como se não quisesse ver o fim do dia.
Assim como eu não quero,
nem posso, suportar o meu fim...

Regina Helena

“Sem esperanças”


“Sem esperanças”

A noite se aproxima,
e com ela, o vento frio da dor.

Nem sei o que mais temo,
se à noite, ou o novo amanhecer...

Tudo é igual...
Sempre a sensação de perda,
da falta de esperança
que para mim não renascerá,
pois já não há tempo...
Eu te perdi!

Dentro de mim te busco
desesperadamente,
na lembrança da tua pele
da tua boca,
do teu sorriso...

Mas só encontro o mesmo frio,
do medo e da solidão,
que preenchem o vazio
que você deixou.

Se eu pudesse,
transformaria essa dor em canto!
Um canto cheio de nostalgia,
de tristeza e desesperança...

Um canto de apenas três acordes:
- Dor, saudade e solidão!

Regina Helena

Sem você


Sem você

Como será a manhã
do desalento de ver você partir?
Como será esse caminhar
sem esperança?
Como será amanhã ao anoitecer,
quando as luzes se ascenderem
e já não tiverem brilho?
Como será o dia após a dor,
o dormir sem esperança,
o acordar sozinha?

Como vou fazer no amanhã?
Você me deu tantas diretrizes,
mas não me ensinou
como eu viveria sem você!
Planejamos tanto, amamos tanto!
E agora, o que me resta?
- Carregar a dor, olhar sem ver...
Suportar a vida sem você!


Regina Helena

Eu te amo...


Eu te amo...

Como um raio de luz que invade as trevas,
entraste em minha vida.
E eu, sobrevivente do medo e da dor,
reconheci em ti o meu anjo,
aquele me conduziria pela mão
para uma vida mais amena.

Chegaste de mansinho, timidamente,
e aos poucos, foste conquistando espaços,
até que te tornaste o dono de todos eles.

Substituíste com tua presença
a escuridão da minha vida pela luz da tua.

E eu, rica do teu amor e pobre de mim mesma,
apenas te dou a certeza do que,
sempre te amei... E te amarei
para todo o sempre!

Regina Helena

Pânico


Pânico

É pela noite que me chegas,
com a face da morte me enfrentas
e me arremessas num inferno,
num porão sem fim...

colocas-me a vida em cheque,
em minhas mãos... e me emudeces...
sem chance... louca e sem vida,
nem me deixas aniquilar a consciência!

Uma brincadeira cruel do meu destino,
morrer mil vezes em tuas mãos!
Não há para onde fugir... não há saida...

de que me valem mil horas de alegrias
se passo um só minuto contigo?
ou, que me adiantaria viver mil anos
se tivesse que ver tua morte uma única vez?

De que mundo vens, quem te criou?...
tu, que tens o poder de me deixar em pânico
e me levar à lividez das faces
ante à própria sensação de EXISTIR?!!!

Regina Helena

Sua presença tão Amada...


Sua presença tão Amada...

E banho-me nas gotas
Orvalhadas desse querer
Tão cúmplice nos momentos
Em que sua ausência
Machucava o olhar e
Lágrimas gritavam de
Saudade...

(®Cida Luz)

Gotas de amor...


Gotas de amor...

Sinto a brisa do
Seu amor acariciando
Meus desejos...
E no coração vestido
De esperança, sentimentos
Começam a sorrir...

Na leveza da paz, tristezas vão
Se definhando, cedendo lugar
Para alegria a muito
Almejada...

(®Cida Luz)

Ecos...


Ecos...

Foram palavras
Machucadas...
O coração ardeu diante
Da mágoa e a despejou
Na boca molhada por
Lágrimas...

E agora somente
O sussurro de um adeus
Ecoando na solidão...

(®Cida Luz)

Parte de mim...


Parte de mim...

Eu queria tocar aquele
Crepúsculo…

Eu pensava ser
Alguma parte da
minha
Solidão perdida
Em algum
Recanto triste...

Eu só queria trazê-lo
De volta
Ao meu peito,
Enquanto o admirava
Entremeio lágrimas
De uma saudade
Infinda...

(Cida Luz)

Pedaços

Pedaços...

Senti o amor esvaindo-se
No silêncio de uma
Saudade...

E no meu olhar,
Pedaços do coração
Molhavam-se,
Procurando abrigo
Na solidão...

(Cida Luz)

setembro 24, 2009

Huye del triste amor



Huye del triste amor, amor pacato,
sin peligro, sin venda ni aventura,
que espera del amor prenda segura,
porque en amor locura es lo sensato.

Ese que el pecho esquiva al niño ciego
y blasfemó del fuego de la vida,
de una brasa pensada, y no encendida,
quiere ceniza que le guarde el fuego.

Y ceniza hallará, no de su llama,
cuando descubra el torpe desvarío
que pedía, sin flor, fruto en la rama.

Con negra llave el aposento frío
de su tiempo abrirá. ¡Despierta cama,
y turbio espejo y corazón vacío!


Antonio Machado

NOCTURNO


NOCTURNO

A Juan Ramón Jiménez


berce sur l'azur qu' un vent douce effleure
l'arbre qui frissonne et l'oiseau qui pleure.
Verlaine

Sobre el campo de abril la noche ardía
de gema en gema en el azul... El viento
un doble acorde en su laúd tañía
de tierra en flor y sideral lamento.

Era un árbol sonoro en la llanura.
dulce cantor del campo silencioso.
que guardaba un silencio de amargura
ahogado en el ramaje tembloroso.

Era un árbol cantor, negro y de plata
bajo el misterio de la luna bella,
vibrante de una oculta serenata,
como el salmo escondido de una estrella.

Y era el beso del viento susurrante,
y era la brisa que las ramas besa,
y era el agudo suspirar silbante
del mirlo oculto entre la fronda espesa.

Mi corazón también cantara el almo
salmo de abril bajo la luna clara,
y del árbol cantor el dulce salmo
en un temblor de lágrimas copiara
que hay en el alma un sollozar de oro
que dice grave en el silencio el alma,
como un silbante suspirar sonoro
dice el árbol cantor la noche en calma-
si no tuviese mi almo un ritmo estrecho
para cantar de abril la paz en llanto,
y no sintiera el salmo de mi pecho
saltar con eco de cristal y espanto.

Antonio Machado

setembro 22, 2009

En medio de la multitud


En medio de la multitud


En medio de la multitud le vi pasar, con sus ojos tan rubios como la cabellera. Marchaba abriendo el aire y los cuerpos; una mujer se arrodilló a su paso. Yo sentí cómo la sangre desertaba mis venas gota a gota.

Vacío, anduve sin rumbo por la ciudad. Gentes extrañas pasaban a mi lado sin verme. Un cuerpo se derritió con leve susurro al tropezarme. Anduve más y más.

No sentía mis pies. Quise cogerlos en mi mano y no hallé mis manos; quise gritar, y no hallé mi voz. La niebla me envolvía.

Me pesaba la vida como un remordimiento; quise arrojarla de mí. Mas era imposible, porque estaba muerto y andaba entre los muertos.

Luís Cernuda

setembro 21, 2009

Poema


Poema

Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores
blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz,
te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz,
voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago
y cintas que dormían en la lluvia.
No quiero que tengas una forma, que seas
precisamente lo que viene detrás de tu mano,
porque el agua, considera el agua, y los leones
cuando se disuelven en el azúcar de la fábula,
y los gestos, esa arquitectura de la nada,
encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.
Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo,
pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco
con ese pelo lacio, esa sonrisa.
Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino
es también la luna y el espejo,
busco esa línea que hace temblar a un hombre
en una galería de museo.
Además te quiero, y hace tiempo y frío.


Julio Cortázar

setembro 07, 2009

FALLING STAR

Foto de Daniel Paiva - Fortaleza

FALLING STAR

Cast thy wish on me
I sparkle when the day is asleep
And frolicking birds are lain -

Wish, wish, never tire
Even when mirrors are blinded
And solid moons seem to wane -

Wish, on the very mercy of a jailer
Who sensing the wants of your heart
Would leave somber cells unattended
And massive night portals ajar.

Fernando Campanella

Poema


Miniatura do nosso quintal. Foto de Jevan.

Poema

Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores
blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz,
te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz,
voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago
y cintas que dormían en la lluvia.
No quiero que tengas una forma, que seas
precisamente lo que viene detrás de tu mano,
porque el agua, considera el agua, y los leones
cuando se disuelven en el azúcar de la fábula,
y los gestos, esa arquitectura de la nada,
encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.
Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo,
pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco
con ese pelo lacio, esa sonrisa.
Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino
es también la luna y el espejo,
busco esa línea que hace temblar a un hombre
en una galería de museo.
Además te quiero, y hace tiempo y frío.


Julio Cortázar

SIEMPRE EMPEZÓ A LLOVER...


Plantinhas do nosso quintal. Foto de Jevan siqueira

SIEMPRE EMPEZÓ A LLOVER...

Siempre empezó a llover
en la mitad de la película,
la flor que te llevé tenía
una araña esperando entre los pétalos.

Creo que lo sabías
y que favoreciste la desgracia.
Siempre olvidé el paraguas
antes de ir a buscarte,
el restaurante estaba lleno
y voceaban la guerra en las esquinas.

Fui una letra de tango
para tu indiferente melodía.




Julio Cortázar


Miniatura do nosso quintal by Jevan.

Num deserto sem...


Miniatura do nosso quintal by Jevan.


Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

agosto 27, 2009

Ajuda-me...

Beija-me...



Beija-me
Sobre a areia fria, úmida do mar,
No sal da espuma alada
Que afaga de onda em onda os nossos pés,
No cintilar das estrelas álgidas, solitárias na noite,
Sobre os ossos lisos de corpos esfacelados e sangrentos.
Ajuda-me a lutar,
Envolve-me em teus braços
E deixa-me chorar a minha solidão
E a tua.

Teresa Balté

agosto 15, 2009

THE NIGHT IS DARKENING ROUND ME

(Tela de John Atkinson Grimshaw)

THE NIGHT IS DARKENING ROUND ME

The night is darkening round me,
The wild winds coldly blow ;
But a tyrant spell has bound me,
And I cannot, cannot go.

The giant trees are bending
Their bare boughs weighed with snow ;
The storm is fast descending,
And yet I cannot go.

Clouds beyond clouds above me,
Wastes beyond wastes below ;
But nothing drear can move me :
I will not, cannot go.


Emily Bronte

PASIÓN

(Tela de John Atkinson Grimshaw)

PASIÓN

Tú tienes, para mí, todo lo bello
que cielo y tierra y corazón abarcan;
la atracció estelar -¡de esas estrellas
que atraen como tus lágrimas!

La sinfonía sacra de los seres,
los vientos y los bosques y las aguas,
en el lenguaje mudo de tus ojos
que, mirándome, hablan;

Los atrevidos rasgos de las cumbres
que la celeste inmensidad asaltan,
en las gentiles curvas de tu seno...
¡Oh, colina sagrada!

Y el desdeñoso arrastre de las olas
sobre los verdes juncos y las algas,
en el raudo vagar de tu memoria
por mi vida de paria.

Yo tengo, para ti, todo lo noble
que cielo y tierra y corazón abarcan;
el calor de los soles, -¡de los soles
que, como yo, te aman!

El gemido profundo de las ondas
que mueren a tus pies sobre la playa,
en el tapiz purpúreo de mi espíritu
abatido a tus plantas.

La claridad celeste de los besos
de tu madre bendita, en la mañana,
en la caricia augusta con que tierna
te circunda mi alma.

¡Tú tienes, para mí todo lo bello;
yo tengo, para ti, todo lo que ama;
tú, para mí, la luz que resplandece,
yo, para ti, sus llamas!

Pedro Bonifacio Palacios
(Almafuerte)

agosto 11, 2009

Crepúsculo de mi misma

Tela de John Atkinson Grimshaw

Crepúsculo de mi misma

El sol se levanta en un nuevo día:
- Los pájaros saludan el amanecer
Las flores y los ríos cantan
Las aguas parecen más cristalina
Y el vivir es más intenso!

Así fue mi vida.
Apasionada, jamás pensaba
Que en la soledad, podía ver
la salida del sol o las estrellas en el cielo !

Yo no tengo un nuevo comienzo!
En el crepúsculo de mi vida,
sin brillo, sin luz.
Los niños no cantan,
Y no hay transbordo en los ríos!

Los pájaros están volando en adiós ,
Como si no quisieran ver el final del día.
Como yo no quiero,
Nen puedo tolerar mi final ...

Regina Helena
Tradução de Maria Madalena

agosto 07, 2009

e nunca mais...




e nunca mais eu te vi...
restou somente a lembrança do olhar,
da furtiva lágrima que caiu
enquanto tentavas disfarçar

restou a promessa
- feita para não ser cumprida -
de que ainda nos veríamos

restou a dor do caminho
percorrido, consciente
de que não haveria volta...

restou a saudade
daquele último instante,
a despedida, o adeus
disfarçado de até logo...

... e nunca mais eu te vi


regina helena

agosto 06, 2009

Esperança



Esperança... É loucura... Devaneio...
O apogeu que há em minha insanidade
de arrancar de minh'alma todo freio
e, sem bridas, gritar minha saudade.

Esperança é o cantar do meu anseio,
meu rogar, suplicando a eternidade
encontrada em teus braços... No permeio
dos carinhos da nossa liberdade.

Esperança... É o pulsar, atroz, fremente,
é o desejo explodindo, intransigente,
de fundir-se, entregar-se, sem pudor!

É viver e morrer, a cada instante...
É perder-se e encontrar-se... É dor errante...
É o vazio... O luar... É o tom do amor!


- Patricia Neme -

julho 24, 2009

VAZIO




Todo o mar nos meus olhos, e não basta!
Enche-nos mais uma lágrima furtiva ...
Neste banquete azul, há um só conviva
Farto e feliz.
É o céu, que se debruça sobre as ondas
Sem amargura.
É ele, que não procura
Por detrás da verdade outra verdade.
Serenamente, lá da eternidade,
Bebe e come
A imagem refletida do seu nome.

Miguel Torga
In Antologia Poética

julho 23, 2009

Aparecimento

Aparecimento

Divide-se a noite, para que me apareças
e prolongues tua presença entre sonhos cortados.

Vejo o céu que ao longe caminha.
As montanhas respiram a luz das estrelas,
e, na ausência dos homens,
o caule do tempo sobe com felicidade.

Sobre a noite que resvala,
conservo-te imóvel entre meus olhos e a vida.
Penso todos os pensamentos,
e nenhum me auxilia.
E escuto sem querer as lágrimas
que germinam sozinhas,
e seguem sozinhas um subterrâneo curso.

Ah, meu sorriso morreu por tristezas antigas.
Como te hei de receber em dia tão posterior?

Cecília Meireles
in: Mar absoluto

julho 20, 2009

SAUDADE



SAUDADE

Saudade é uma dor suave e forte!
Cicatriz a sangrar dentro da gente. . .
E a vida em flor com sensação de morte;
Amanhecer com sombras de poente.

Saudade! Insônia de quem não se importe
De sonhar envolvido em sono quente.
Nuvem de sol, calor que desconforte
A alma gelada, tiritante e ardente.

Saudade é a expressão indefinida. . .
Verso incompleto de canção dorida...
Minuto que se fez eternidade!

Recado extraviado no caminho. . .
A paz da ave que perdeu seu ninho...
Melodia de pranto é o que é Saudade.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia Saudade’ (1995)

SAUDADE


SAUDADE

Saudade é aquela estrela cintilante
Que fugiu, se apagou tão de repente
E no percurso de um vagar errante
Fez da nossa alegria, dor latente.

Saudade é a ilusão do eterno instante
Vibrando forte, audaz, dentro da gente,
Sentimento ferino, estonteante,
Em nosso íntimo agindo docemente.

Saudade é um silêncio tenebroso,
Frio, agreste, fatal, misterioso
Que nos fere, maltrata e acalenta.

Saudade é a tristeza de um momento
Rodopiando em nosso pensamento
Tornando nossa vida em morte lenta.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia Saudade’ (1995)

Saudade


SAUDADE

Saudade. Lua cheia se elevando
Pelos azuis dos céus em noite mansa
Prateando os espaços e espalhando
Sobre a terra a luz branca da bonança.

Saudade. Estrada longa procurando
Achar na mata o verde da esperança.
E o seresteiro ao violão cantando
De um mistério insondável, uma lembrança.

Saudade. O grito agudo de um lamento
Que se mistura ao sibilar do vento
E bate em cheio em nosso coração...

... A sublime visão de quem amamos
Que fugindo de nós nunca alcançamos
Mesmo retida na recordação.


Bernardina Vilar

SAUDADE


SAUDADE

Saudade é a oração que nós rezamos
Com os olhos presos na recordação
Avivando as lembranças que guardamos
Bem no escrínio do nosso coração.

Saudade é a melodia que entoamos,
De uma ária, doce emoção
Angústia dolorosa que provamos
Num momento de atroz separação

Saudade é um lenço branco tremulando
Uma palavra – adeus – na despedida,
Uma lágrima a brilhar em nossos olhos.

Saudade é o dia-a-dia transformando
Um sonho acalentado em nossa vida
Num pesadelo feito só de escolhos.

Bernardina Vilar

SAUDADE


SAUDADE

Saudade! Um campo santo palmilhado
De cruzes toscas entre pobres flores...
Um quadro de amarguras retratado
Na tristeza, na dor, nos dissabores.

Saudade! A voz de um sino pendurado
Na torre da igrejinha, em estertores
E um jasmineiro branco, recurvado,
Flores pendentes, emanando olores.

Saudade! Um ser transpondo de mansinho
A vereda silente de um caminho
Que o conduz ao mais árduo desencanto.

E ali tremente em palpitante anseio
Sente pulsar as convulsões do seio
Que o faz rolar um copioso pranto.

Bernardina Vilar

SAUDADE


SAUDADE


Saudade é um sino triste bimbalhando
Na igrejinha branca de uma aldeia;
E um violão sonoro dedilhando
De uma noite, ao clarão da lua cheia.

Saudade é um rio cheio transbordando
Lançando ao longe turbilhões de areia;
É a cachoeira se precipitando
Jogando as águas no furor que ateia.

Saudade é uma manhã de sol nascente
Com gotinhas de orvalho ornamentando
As flores de um jardim, desabrochadas...

E a gente a contemplá-las docemente
Percebendo que em nós estão faltando
Todas as alegrias desejadas.

Bernardina Vilar

Saudade


SAUDADE

Saudade é o longo espaço do momento
Em que murcharam nossas esperanças
É o sonho que restou no pensamento
Como uma apoteose de nuanças.

Saudade é conservar bem vivo, atento
O amor passado, cálida lembrança!
É contemplar sozinho ao desalento
A extrema solidão que em nós descansa.

Saudade é um coração pulsante forte,
Palpitante, ansioso, inconsolável
Por ver o aproximar de uma partida.

E ser logo atingido pela morte
De seu amor tão grande, inigualável,
Consumindo num adeus de despedida.

Bernardina Vilar

A VOZ DA SAUDADE


A VOZ DA SAUDADE

Se cai a noite plácida, serena,
Tão branca de luar — doce magia...
A carícia da brisa torna a cena,
Num requinte envolvente de poesia.

O azul do céu de uma beleza extrema
Povoado de estrelas irradia,
E qual o encantamento de um poema
Faz palpitar sutil melancolia.

No Coração da mata um mocho pia
Rompendo a solidão num tom dolente,
Como um canto de amarga soledade.

E o coração da gente silencia
Porque mais alto que sua voz ardente
Fala a voz merencória da saudade.

Bernardina Vilar

julho 19, 2009

INQUIETUDE


INQUIETUDE

Tarde cálida e mórbida... Angustiante...
Um silêncio mortal. Nem uma voz
Levanta-se no vácuo. Torturante
O ar pesado paira sobre nos.

O calor abrasado, sufocante
Já me importuna de maneira atroz
E nesta alegoria delirante
Triste lembrança se me faz algoz.

Dentro em meu peito, o coração soluça!
E genuflexo triste se debruça
Sobre um passado que já vai distante.

Chora contrito uma recordação,
Revive um sonho que perdido em vão
Pra mim tornou-se um padecer constante.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

OUSADIA


Tela: John Atkinson

OUSADIA

Na ânsia de atingir o ignorado
Vai-se o tempo voraz, audacioso
Nas brumas de um enigma mergulhado
Não para de correr, misterioso.

Qual rio a transbordar agigantado
Investe sem cessar, tempestuoso,
Contra tudo que atira no passado
No mais terrível gesto, corajoso.

Com ele tudo passa: a dor, a vida
A alegria, o amor, as esperanças
No arrojo invulgar desta corrida.

Não olha para trás nem retrocede...
E vai deixando apenas as lembranças...
. . . Como quem parte que não se despede!

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

DERRADEIRA SAUDADE


Tela do Pino

DERRADEIRA SAUDADE

PAIXÃO fugaz... Ventura passageira...
Rosa que não colhemos da roseira,
Mas que esteve, no galho, ao nosso alcance.
Ah! Quanta vez, num desespero mudo,
Eu quedo-me a cismar naquilo tudo,
Que encheu de sol nosso cruel romance!

Bendigo ainda os beijos que maldizes,
Que abriram na minh’alma cicatrizes,
Que encheram de ambrosias nossa boca;
Só me consola, nesta dor pungente,
Lembrar que te adorei perdidamente,
Lembrar que me adoraste como louca!

Mudaste muito, eu sei... Mas, com certeza,
Nas horas de saudade e de tristeza,
Em que a alma chora e o coração nos trai,
Hás de pensar em mim de quando em quando,
Com lágrimas nos olhos relembrando
- Toda essa história que tão longe vai!

Paulo Setúbal

Só tu


Tela do Pino

Só tu

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram,
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste! –
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Paulo Setúbal


INQUIETUDE


Tela: John Atkinson

INQUIETUDE

Tarde cálida e mórbida... Angustiante...
Um silêncio mortal. Nem uma voz
Levanta-se no vácuo. Torturante
O ar pesado paira sobre nos.

O calor abrasado, sufocante
Já me importuna de maneira atroz
E nesta alegoria delirante
Triste lembrança se me faz algoz.

Dentro em meu peito, o coração soluça!
E genuflexo triste se debruça
Sobre um passado que já vai distante.

Chora contrito uma recordação,
Revive um sonho que perdido em vão
Pra mim tornou-se um padecer constante.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

ANALOGIA


Tela: John Atkinson

ANALOGIA

Aos albores bucólicos da aurora
De púrpura é matizado o azul do espaço
E o arrebol tão rápido descora
O infinito, abrangendo em leve embaço.

Vem a neblina. A natureza chora
Um pranto como orvalho tênue, baço,
Mas um rasgão de luz se rompe agora
A terra acobertando num abraço.

Surge o sol, chega o dia e vai passando
Entre pouca alegria e muitas dores,
Sem uma trégua, o incansável tempo.

Nas brumas do passado assim jogando
As nossas ilusões em estertores
Da saudade em passivo desalento.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)


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O ÚLTIMO VERSO


Tela: Ernesto Condeixa

O ÚLTIMO VERSO

E quanto pode a ingênua brejeirice
Dum coração de moça, encantador:
- A um gesto teu, sem que eu o pressentisse,
Nasceu-me esta canção de sonhador,
Como um botão que por acaso abrisse
Numa roseira que não dá mais flor...

Paulo Setúbal

julho 18, 2009

LEMBRANÇAS DO LUGAR


Imagem: Alexis de Leeuw


LEMBRANÇAS DO LUGAR

Querida, vê no pranto que extravasa
o coração quando a lembrança aflora...
Os gerânios... As rosas... Como atrasa
o tempo entre o crepúsculo e a aurora!

Há sonhos que ainda vagam pela casa
em meu rústico albergue da memória...
E ainda um lírio que a min’alma vaza
de saudade do amor que ainda chora...

Nos beirais da varanda as andorinhas
bailam, querida, e as ninfas seminuas
das ribeiras em flor bailam sozinhas...

Beirando a vida nos beirais das ruas,
tu vives de sentir saudades minhas
e eu morro de sentir saudades tuas...

A. Estebanez



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