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janeiro 28, 2021

CHEIRO DE OUTONO



CHEIRO DE OUTONO 

 Mais uma vez é um verão que nos abandona, 
agonizando num temporal atrasado: 
tranquila a chuva rumoreja, enquanto um cheiro 
amargo e tímido vem do bosque molhado. 

 Na relva pálida a liliácea se retesa 
em meio a grande profusão de cogumelos; 
tem-se a impressão de que se esconde e se retrai o
 nosso vale, ontem ainda imenso e belo. 

 Retrai-se e cheira a timidez e a amargura 
o mundo, com toda a claridade perdida: 
prontos, olhamos o temporal atrasado, 
pois acabou-se o sonho de verão da vida! 

 Hermann Hesse 
In Andares

A CHUVA

 


A CHUVA

Bruscamente a tarde se clariou
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que sem dúvidas acontece no passado.

Quem escuta cair há recobrado
O tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor chamada rosa
E a curiosa cor do vermelho.

Esta chuva que cega os cristais
Alegrará em perdidos arredores
As negras uvas de uma videira certamente

Pátio que já não existe. A molhada
Tarde me trai a voz, a voz desejada,
De meu pai que retorna e que não morreu.

Jorge Luis Borges

AMO VOCÊ

 

AMO VOCÊ

O dia amanheceu chuvoso.
A natureza chora.
Chora também meu coração.
A saudade
que sua ausência me trás,
Aperta-me o peito.
Sufoca em mim a voz
Que teima em querer
Gritar alto e para todos,
o quanto amo você.
Mas o grito fica retido
No vazio da solidão
Em que me encontro.
Resta-me apenas o consolo
De poder molhar meu rosto
Nas águas da chuva
E misturar minhas lágrimas
Às lágrimas da natureza
Deixando-as, juntas, caírem
Fertilizando o solo que nos sustenta.

Marisa Nieri®