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julho 10, 2009
Epigrama Número 2
Tela de pissaro
Epigrama Número 2
És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir, e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa.
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo, despovoado e profundo, persiste.
Cecília de Meireles
Viagem, 1938
Valsa
Tela de Pissaro
Valsa
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.
Cecília Meireles
In:"Viagem", 1939.
Embalo
Imagem: Washington Maguetas
Embalo
Adormeço em ti minha vida,
- flor de sombra e de solidão -
da terra aos céus oferecida
para alguma constelação.
Não pergunto mais o motivo,
não pergunto mais a razão
de viver no mundo em que vivo,
pelas coisas que morrerão.
Adormeço em ti minha vida,
imóvel, na noite, e sem voz.
A lua, em meu peito perdida,
vê que tudo em mim somos nós.
Nós! - E no entanto eu sei que estão
brotando pela noite lisa
as lágrimas de uma canção
pelo que não se realiza...
Cecília Meireles
In Vaga Música, 1942
RETRATO ANTIGO
MARÇO
LONGE
RESSONÂNCIA
Vem...
Imagem: John Atkinson
Vem...
vem, me dá tua mão
me aperta junto a ti
esquece por um tempinho só
o impossível...
deixa de olhar pra mim
como se eu pudesse ser o teu passado
para que eu deixe de te olhar
como se pudesses ser o meu futuro...
vem, me toca ao menos uma vez
fecha os teus olhos e me abraça
para que eu possa esquecer
que és tão visivel quanto inatingivel,
embora ocupemos o mesmo espaço...
vem, fica junto a mim,
que importa o tempo?
sendo bom, parecerá sem fim
e será suficiente para que
as nossas almas fiquem marcadas
pelo nosso amor e, silenciosamente,
sussurremos uma prece...
para que então, em outra eternidade,
embora além, bem além,
nos reconheçamos
e vivamos esse amor
no mesmo tempo e no mesmo espaço.
Regina Helena
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