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março 05, 2021

LUAR DE ABRIL






Branco luar de Abril, falena aurifulgente
que espalmas no infinito as asas ideais,
teu lívido fulgor revive-me na mente,
o tempo que passou e que não volta mais ...

Cismando à tua luz, calma e serenamente,
um dia longe ouvi sonoros madrigais ...
Então, eram minh’alma um lago transparente
refletindo o esplendor das plagas siderais.

Crisântemo do azul, inspiração do poeta,
contemplando-te assim, dentro da noite quieta,
o mago rouxinol do Sonho ouvi cantar:

De um momento feliz a gente não se esquece,
branco luar de Abril, a alma não envelhece
e dentro de minh’alma esplende outro luar.


Emiliana Delminda
in ‘Folhas Caídas’




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DESEJO ESTÉTICO


A noite vem descendo ...
É a sombra de um mistério
que estende as asas no infinito do ar.
Na fímbria do horizonte,
qual branco lírio do jardim sidéreo
aparece o Luar.

Silêncio. A voz do sino
perdeu-se na amplidão. A sensitiva
reza, reza baixinho
para não despertar a patativa
que, entre as folhas do arbusto pequenino,
em doce embriaguez
dorme e sonha, talvez,
na volúpia do ninho.

O luar solitário
segue, tranquilo, o curvo itinerário,
nas célicas regiões.
E eu sinto uma tristeza lancinante
ouvindo, a cada instante,
o adeus de nunca mais, das ilusões.

Passam auras em lânguidos queixumes,
doidejam pelo campo – os vaga-lumes,
o bosque emudeceu.
Só o rumor longínquo da cascata
repercute na mata
e a lua brilha no cetíneo céu.

Noite! Poema de estrelas! quem me dera
pelo azulado espaço,
entre as visões radiosas adejar
e, volvendo à remota primavera,
cingi-la, num supremo e longo abraço,
ao clarão do luar!


Emiliana Delminda
in Folhas Caídas


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EXPLOSÃO




Nesta noite,
eu quero da psicose as alucinações,
da neurose toda a angústia,
e da psicopatia eu quero
a ausência de escrúpulos.

Nesta noite,
quero me projetar em você
feito delírio,
quero explodir dentro de você
num surto só de paixão.

Por que, meu Deus,
nesta noite
eu estou sózinho?

Edival Perrini,
em Poemas do Amor Presente.

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NOTUNO I



Estrelas pendem da noite,
videira delirante.
Coroada de espelhos e ametistas
transmutas a carne em nudez

guardiã, sacerdotisa,

nos vales da distância
rumina em silêncio
teu rebanho tranquilo.


Dora Ferreira da Silva,
in Poesia Reunida 


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NOITE APRESSADA



Era uma noite apressada
depois de um dia tão lento.
Era uma rosa encarnada
aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a casa perdida
no meio do vendaval;
imensa, a linha da vida
no seu desenho mortal;
imensa, na despedida,
a certeza do final.

Era uma haste inclinada
sob o capricho do vento.
Era a minh'alma, dobrada,
dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada,
mas que cheirava a incenso.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a luz proibida
no centro da catedral;
imensa, a voz diluída
além do bem e do mal;
imensa, por toda a vida,
uma descrença total!

David Mourão-Ferreira,
in "À Guitarra e à Viola" 


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