Oh! a memória visual Daquela ave o incerto voo
Das coisas que nos são queridas, Depois de f´rida numa asa,
Tão levemente coloridas, Que foi sentido só em casa
Tão cheias d’ alma, d’ irreal! Quando a memória o recordou...
No mar, ao longe, reflectidas Aquel’ navio que saía
A luz trémula de frio... A barra, todo iluminado,
O rumoroso, incalmo rio, E agora sendo recordado
Lembrando sempre, ao poeta, a vida... É belo mais do que par’ cia...
Como suaves nos afagam Ternos motivos de saudade
Os olhos quase diluídas... Que outrora fomos em criança,
E nos refrescam os sentidos E tem agora, na lembrança,
E de ternura nos alagam! Como que mais sinceridade...
O campo, à tarde, quando o verde Oh! a memória visual
Em sombra, lento, se dissolve, Das coisas que nos são queridas
Se ao nosso estar lembrando-o volve, Tão brandamente repetidas.
Como se esvai, como se perde! Tão cheias d’ alma, d’ irreal!
Carlos Queiroz