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julho 29, 2012

A VOZ DA SAUDADE



Se cai a noite plácida, serena,
Tão branca de luar — doce magia...
A carícia da brisa torna a cena,
Num requinte envolvente de poesia.

O azul do céu de uma beleza extrema
Povoado de estrelas irradia,
E qual o encantamento de um poema
Faz palpitar sutil melancolia.

No Coração da mata um mocho pia
Rompendo a solidão num tom dolente,
Como um canto de amarga soledade.

E o coração da gente silencia
Porque mais alto que sua voz ardente
Fala a voz merencória da saudade.

Bernardina Vilar

SAUDADE



Saudade é o longo espaço do momento
Em que murcharam nossas esperanças
É o sonho que restou no pensamento
Como uma apoteose de nuanças.

Saudade é conservar bem vivo, atento
O amor passado, cálida lembrança!
É contemplar sozinho ao desalento
A extrema solidão que em nós descansa.

Saudade é um coração pulsante forte,
Palpitante, ansioso, inconsolável
Por ver o aproximar de uma partida.

E ser logo atingido pela morte
De seu amor tão grande, inigualável,
Consumindo num adeus de despedida.

Bernardina Vilar

SAUDADE


Saudade! Um campo santo palmilhado
De cruzes toscas entre pobres flores...
Um quadro de amarguras retratado
Na tristeza, na dor, nos dissabores.

Saudade! A voz de um sino pendurado
Na torre da igrejinha, em estertores
E um jasmineiro branco, recurvado,
Flores pendentes, emanando olores.

Saudade! Um ser transpondo de mansinho
A vereda silente de um caminho
Que o conduz ao mais árduo desencanto.

E ali tremente em palpitante anseio
Sente pulsar as convulsões do seio
Que o faz rolar um copioso pranto.

Bernardina Vilar

SAUDADE



Saudade é a oração que nós rezamos
Com os olhos presos na recordação
Avivando as lembranças que guardamos
Bem no escrínio do nosso coração.

Saudade é a melodia que entoamos,
De uma ária, doce emoção
Angústia dolorosa que provamos
Num momento de atroz separação

Saudade é um lenço branco tremulando
Uma palavra – adeus – na despedida,
Uma lágrima a brilhar em nossos olhos.

Saudade é o dia-a-dia transformando
Um sonho acalentado em nossa vida
Num pesadelo feito só de escolhos.

Bernardina Vilar

SAUDADE



Saudade. Lua cheia se elevando
Pelos azuis dos céus em noite mansa
Prateando os espaços e espalhando
Sobre a terra a luz branca da bonança.

Saudade. Estrada longa procurando
Achar na mata o verde da esperança.
E o seresteiro ao violão cantando
De um mistério insondável, uma lembrança.

Saudade. O grito agudo de um lamento
Que se mistura ao sibilar do vento
E bate em cheio em nosso coração...

... A sublime visão de quem amamos
Que fugindo de nós nunca alcançamos
Mesmo retida na recordação.


Bernardina Vilar

SAUDADE



Saudade é aquela estrela cintilante
Que fugiu, se apagou tão de repente
E no percurso de um vagar errante
Fez da nossa alegria, dor latente.

Saudade é a ilusão do eterno instante
Vibrando forte, audaz, dentro da gente,
Sentimento ferino, estonteante,
Em nosso íntimo agindo docemente.

Saudade é um silêncio tenebroso,
Frio, agreste, fatal, misterioso
Que nos fere, maltrata e acalenta.

Saudade é a tristeza de um momento
Rodopiando em nosso pensamento
Tornando nossa vida em morte lenta.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia Saudade’ (1995)

julho 26, 2012

SAUDADE



Saudade . . .
Melodia perdida
no espaço . . .
Nostalgia
envolvente
na solidão
do quarto . . .
Diálogo
com o tempo
que já foi . . .
Saudade . . .
Tela do cinema
da vida . . .

Delores Pires
In: A Estrela e a Busca

FRAGMENTO VIDA



Postais,
envelopes,
letras,
capitulo
de história
vivida,
amigos
à distancia. . .
A vida
se compõe
de pedacinhos
de saudade. . .

Delores Pires
In: A Estrela e a Busca

julho 25, 2012

A GENTE SEMPRE SE AMANDO



A gente sempre se amando
nem vê o tempo passar.
O amor vai-nos ensinando
que é sempre tempo de amar.

Carlos Drummond de Andrade
In Poesia Errante

O MISTÉRIO


O MISTÉRIO

Quem sentiu a angústia verdadeira?
Quem penetrou o fundo dessa dor?
Tomam todos o brilho da lareira
pela estrela (tão alta!) do pastor ...

Soluçando e cantando é que a alma inteira
escondes por orgulho ou por pudor,
para guardá-la, assim, da humana poeira,
dentro desse mistério redentor!

Nunca ninguém te soube ver, disperso
no teu canto sentido, a dor que avulta
dia a dia ... O secreto, íntimo mal,

que é presente e invisível no teu verso,
como o perfume de uma flor oculta
como Deus na grandeza universal! ...


Tasso da Silveira
in Poemas


Obrigada pela visita.
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julho 24, 2012

O QUE ME DÓI NÃO É



O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.


Fernando Pessoa
In ‘Cancioneiro’ 

ALBERT CAMUS



Amar é...
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!

Albert Camus



Agradeço sua visita. 
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julho 23, 2012

SAUDADES



Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.

Helena Kolody,
in Viagem no Espelho

julho 22, 2012

ESPELHO II



O espelho sujo
deforma a imagem: do rosto.
Não o rosto
diante do espelho.

Porque o espelho dentro do rosto
é inimigo apropriado.
Eterno e breve.
Transcende a convivência consigo mesmo
e o tempo marcado.

O espelho dentro do rosto
como o rosto espesso, diverso, esparso,
estúpido, estranho,

é estrune do tempo
e ouro da morte.

Lindolf Bell
In ‘Código das Águas’


LIMITES DO AMOR


Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.
Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar.


Affonso Romano de Sant’Anna



Agradeço sua visita. 
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julho 21, 2012

IMPROVISO



Minha canção não foi bela:
Minha canção foi só triste.
Mas eu sei que não existe
Mais canção igual àquela.

Não há gemido nem grito
Pungentes como a serena
Expressão da doce pena.

E por um tempo infinito
Repetiria o meu canto
- saudosa de sofrer tanto.


Cecília Meireles
In Retrato Natural

CANTATA VESPERAL



CERRAI-VOS, OLHOS, que é tarde, e longe,
E acabou-se a festa a festa do mundo:
Começam as saudades hoje.

Longos adeuses pelas varandas
Perdem-se; e vão fugindo em mármore
Cascatas céleres de escadas.

Pelos portões não passam mais sombras,
Nem há mais vozes que se entendam
Nas distâncias que o céu desdobra.

As ruas levam a mares densos.
E pelos mares fogem barcas
Sem esperanças de endereços.


Cecília Meireles
In Retrato Natural

julho 20, 2012

ENIGMA



Decifrar teus olhos
é como ler em pergaminhos
uma escrita desconhecida,
é como ler na superfície
do mar
um navio enterrado,
o segredo das conchas.
Decifrar teus olhos
como se teus olhos fossem
o lado oculto da lua.

Roseana Murray
In Recados do Corpo e da Alma

ENTRE TEUS CAMINHOS



Entre teus caminhos vaguei, meio incerto.E ainda hoje incerto
busco-me em teus caminhos.Sei que estás, não alheio, apenas
no teu silêncio que me povoa de estranhas claridades.

Nem digo teu nome; não o invoco em vão; prefiro aprender
no fundo de não sei que noite as centelhas dos teus passos.
E a súbita fulgurância que deve ser a tua voz.

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Discurso no Deserto

julho 17, 2012

RELÍQUIAS



Nesta velha caixinha abandonada,
que a ação do tempo fez mudar de cor,
retalhos de minh’alma emocionada
guardei, outrora, com carinho e amor ...

Relíquias ... Eram cantos de alvorada,
e hoje traduzem nostalgia e dor.
Restos mortais de uma ilusão dourada,
vago perfume de sidérea flor.

Ai, Tudo o vento do destino leva:
A luz se apaga e, a divagar em treva,
erram lembranças que doridas são!

Na vida é tudo assim! Tudo envelhece
mas, dentro d’alma o sonho não fenece
e o coração ... é sempre o coração.


Emiliana Delminda
in Folhas Caídas  

julho 14, 2012

SE É PAIXÃO , ME NEGO




Se é paixão, me nego.
Já resvalei a alma em pêlo,
nesse áspero despenhadeiro.
Se é paixão, não quero.
Conheço seus espinhos de mel,
sei aonde conduz
embora prometa os céus.

Se é paixão, desculpe-me, não posso.
Conheço suas insônias
e a obsessão.

Se é paixão me vou, não devo...
não adiantam teus apelos.
Resistirei, porque aí
morri mil vezes.
Paixão é arma de três gumes,
e ao seu corte estou imune.

Se é paixão, me nego
e não receio que me acuses
de medo. Do desvario
conheço todos os segredos.

Se é paixão recuso-me
e sinto muito,
pois foi há custo
que saí do labirinto.

Affonso Romano de Sant’Anna



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julho 13, 2012

SAUDADE



Saudade é uma dor suave e forte!
Cicatriz a sangrar dentro da gente. . .
E a vida em flor com sensação de morte;
Amanhecer com sombras de poente.

Saudade! Insônia de quem não se importe
De sonhar envolvido em sono quente.
Nuvem de sol, calor que desconforte
A alma gelada, tiritante e ardente.

Saudade é a expressão indefinida. . .
Verso incompleto de canção dorida...
Minuto que se fez eternidade!

Recado extraviado no caminho. . .
A paz da ave que perdeu seu ninho...
Melodia de pranto é o que é Saudade.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia Saudade’

julho 12, 2012

BEIJO MALDITO



Da Fantasia nos itinerários
Beijei teu lábio de veneno e insídias...
- Rosa de outono aberta em dois nectários,
- Mirra enganosa dos turibulários,
- Vaso de Sévres recendendo a orquídeas.

Beijei teu lábio de veneno e agruras
E o beijo trouxe-me o fatal ressábio
Dos desesperos e das amarguras...
E vou rolando para as sepulturas
E nunca mais hei de beijar teu lábio!

Augusto dos Anjos

SAUDADE



Ó!
o lírio branco se tingiu de roxo
ao som da valsa da melancolia.

Colombo de Sousa
In: Estágio

julho 11, 2012

TUAS CARTAS



Tuas cartas rasguei uma por uma:
Cento e quatorze páginas e tiras
De confissão e juramento: em suma,
De perfídias, de enganos, de mentiras.

E chorei, ao rasgá-las! Tinha alguma
Cousa implorando contra as minhas iras
Em todas; e, hoje, irritação nenhuma
Neste peito verás, por mais que o firas.

Eram mentiras, eu bem sei... No entanto,
Cada rompida página era um cardo
Que enterrava do peito em cada canto.

E eis porque, pelo chão, após instantes,
Os pedaços juntei... e agora os guardo
Com mais amor do que os guardava dantes!


Humberto de Campos,
In: Poesias Completas 

ALICE RUIZ


Tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

Tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

E tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado

Alice Ruiz




ALICE RUIZ



Sim.
Todos os poemas
São de amor
Pela rima,
Pelo ritmo,
Pelo brilho
Ou por alguém,
Alguma coisa
Que passava
Na hora
Em que a vida
Virava palavra.

Alice Ruiz

julho 10, 2012

PAIXÃO



Paixão da vida já ida,
paixão da vida,

toda me cruzaste acesa
na pungência, na aspereza

de lâminas, Paixão da vida
que à morte incita e convida

a caminhar sob o ardor
de um gosto de exausto amor.

Que à noite leva e destrói
e malbarata e, se dói,

dói como um insulto ou murro
e, em silêncio, é mais que um urro.

É mais que o fogo cremando,
mais que o fogo devastando,

paixão da vida tenaz,
um pobre e temido , mas

adversativamente posto
como um sorriso num rosto

retorcido em tetania.
Paixão que devora, fria,

cruel, feroz, insensata,
e crê salvar, quando mata.

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Discurso no deserto

SE A SAUDADE QUE VEM É PASSAGEIRA...



Se a saudade que vem é passageira
E o amor é fogo a arder em breve instante,
Deixa que eu leve ao coração sangrante
Minha palavra amiga e companheira

Deixa que eu chore e sofra e ria e cante
E colha a paz na lágrima primeira,
Pois a loucura é como uma fogueira
Que me desvaira em música incessante.

Deixa que eu sofra nas corolas, ria
Nas madrugadas, me desfolhe em sinos,
E me perca no céu como no mar...

Deixa que eu me desfaça em melodia,
Que eu me alucine em risos de meninos,
Que eu me procure para não me achar!

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Sonetos da Ausência

FLOR DECORATIVA



Você desliza à tona da vida e das mágoas,
Como flor sem raiz, flutuante em densas águas.
Não imagina sequer
A angústia de sondar a profundeza
Do misterioso abismo colorido,
A lúcida beleza exterior.
Flor de superfície, deixa-se embalar
Pelo incessante ondular da existência...

Helena Kolody 

AMOR VIOLETA



O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge o meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco.Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida.

Adélia Prado
In Bagagem


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Volte sempre e comente!

O SEMPRE AMOR



Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
sou de pedra-sabão.
Alegre ou triste,
amor é coisa que mais quero.

Adélia Prado
In Bagagem


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