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janeiro 25, 2021

TARDE TRISTE

 


Tarde Triste

Chove. A tarde triste está nublada...
E melancólica a chuva cai de leve...
Sutil, silenciosa e embaçada
Como se fosse um grande véu de neve.

Há silêncio no ar. Pela calçada
Desliza o pranto que a esta chuva deve.
Molha as plantas. E a rosa desbotada
Sente fugir a sua vida em breve.

O tempo transformou-se. Escurecendo
Fugiu o sol. E nuvens pesarosas
Derramam lentamente um frio pranto.

O silêncio as lembranças envolvendo
Traz saudade em recordações chorosas
Num cenário de encanto e desencanto.

Pinheiros, São Paulo - 26.12-1989


Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

FUNERAIS


Funerais

Silenciosa a tarde se estremece
Nos estertores de uma dor imensa!
Só murmúrios no ar. Quanto padece
Na agonia mortal, cruel, intensa.

Nem um raio de sol à terra desce!
E os sinos evocam a voz da crença;
Nuvens ajoelhadas fazem prece
Na mais sutil e doce indiferença.

As flores tristemente estão chorando!
E pelo espaço infindo e desolado
Enorme véu de sombras vem descendo.

E do regato as águas vão rolando
Num gemido de dor, angustiado
Tudo porque o dia está morrendo.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

COMO A PRIMAVERA

 


Como a Primavera

Se nasce a flor nos prados verdejantes
Ornamentando as orlas do caminho,
Voltam as andorinhas voejantes
Procurando os beirais do antigo ninho.

Adejam em semicírculos, doidejantes
Buscando o aconchego de um carinho ...
E com as asas ruflando, estonteantes
Chegam se agasalhando de mansinho.

A quem já não mais crê volta a esperança!
Vem a ilusão e os sonhos, a quimera...
Que vão e voltam no passar dos anos...

E como não me foges da lembrança
Quero que voltes como a primavera
Pra florescer meus tristes desenganos.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

MEUS FILHOS

 


Meus Filhos

Pedaços do meu ser que tanto prezo
Por quem vivo, a quem amo, por quem choro
Rosário de minh'alma aonde eu rezo
Uma prece de amor por quem adoro.

Retalhos de minh'alma entristecida
Que é feliz porque sofre e porque ama
Que ao seu lado se sente enaltecida
E enaltece o amor que lhes proclama

São iguais. Todos vivem no meu peito.
Todos brilham no pranto dos meus olhos
E ao meu amor lhes dou igual direito.

Se juntos, lhes dedico igual deidade
Através da distância nos abrolhos
Meus suspiros lhes são de igual saudade.

Dandinha Vilar
De "Meus Versos" 1986


PRECE


Prece

De Deus eu quero a luz que me ilumine,
Do ser humano um pouco de bondade;
Do mal quer fiz, perdão que me redime
E da ilusão a grata realidade.

Do coração eu quero o amor que imprime
N’alma o fulgor da justa caridade;
Do sofrimento a lágrima que exprime
O bálsamo da dor, da acerbidade.

Da inocência a pureza que irradia,
Do pássaro cantor, da voz o encanto
E das campinas o olor inigualável.

Dos felizes, um pouco de alegria...
Dos que sofrem o alívio de seu pranto;
Da humildade e da paz o gosto afável.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)

MEUS CANTOS


Meus Cantos

Aos pés de Deus, humilde, por momentos
Fiz um canto de mística oração.
Juntando a voz das águas e dos ventos
Fiz desse coro um hino, uma canção.

Divulgando com ardor meus pensamentos
Cantei das aves doce entonação;
Do mar ouvindo lúgubres lamentos
Cantei das ondas a acre solidão.

E cantei mais: o hálito das flores...
Da noite escura tétricos negrores
E a transparente alvura do luar.

Mas quando quis cantar meus desencantos
Ao em vez de cantar eu chorei tanto
Que mais nada jamais pude cantar.

Dandinha Vilar
De "Meus Versos" 1986

AMIGO

 


Amigo

Amigo é aquele alguém com quem contamos,
De nossa vida, em todos os momentos;
Que o nosso pranto enxuga se choramos
Partilhando de nossos sofrimentos.

Amigo é a paz tranquila que encontramos
Em meio ao temporal dos desalentos;
É o apoio seguro que acatamos
Para suavizar nossos tormentos.

É a forte mão que para nós se estende,
É o clarão da luz que em nós se acende
Guiando, do amanhã, ao mar profundo.

Força que nos ajuda na subida,
Que faz parte de nós, de nossa vida,
E não trocamos por nada deste mundo.

Dandinha Vilar
De: Meus Versos - 1986

O CISNE


O Cisne

Ele veio de longe, o voo alçando
Sobre as matas em flor, sobre as campinas
Nas suas brancas asas carregando
Das ninfas o mistério das ondinas.

E através do espaço a voz soltando
Como entoando música divina
A saudade dos seus chegou cantando
Na voz traindo a dor que lhe alucina.

E no espelho das águas, majestoso,
Mirando-se imponente e vaidoso
Desliza em semi-círculos a nadar.

Como quem de uma dor vem se escondendo,
Vai pensando, a si mesmo prometendo
As lembranças nas águas afogar.

Dandinha Vilar
De "Meus Versos" 1986

SAUDADE

 


Saudade

Desde o princípio em que foi feito o mundo 
Uma sentença existe, e que não muda: 
Persiste o arraigado mais profundo 
Que o amor é cego e que a saudade é muda. 

 Passam-se os tempos e evolui a vida. 
Há inovações e toda lei se estuda; 
Ninguém remove a instigação antiga 
Que o amor é cego e que a saudade é muda. ...

Talvez se ame a quem não deva amarmos... 
E neste item com rigor me apego, 
Vendo a razão por que o amor é cego. 

 E se sofrermos por silenciarmos 
Do abandono a dor sobeja e aguda, 
Eis a razão por que a saudade é muda. 

 Bernardina Vilar 
de 'Meus Versos' 

SAUDADE

Saudade

Saudade é o longo espaço do momento
Em que murcharam nossas esperanças
É o sonho que restou no pensamento
Como uma apoteose de nuanças.

Saudade é conservar bem vivo, atento
O amor passado, cálida lembrança!
É contemplar sozinho ao desalento
A extrema solidão que em nós descansa.

Saudade é um coração pulsante forte,
Palpitante, ansioso, inconsolável
Por ver o aproximar de uma partida.

E ser logo atingido pela morte
De seu amor tão grande, inigualável,
Consumindo num adeus de despedida.

Bernardina Vilar
de Bom dia, Saudade

SAUDADE

SAUDADE
 
Saudade é a imagem das recordações...
De luz acesa, crepitante chama
Que aquece a alma e gera evocações
E sem querer o desengano engana.

Saudade é um verso feito de emoções...
Acre perfume que a doçura emana
Torpor que entrando em nossos corações
Quanto mais embriaga, mais inflama...

Doce abandono... Ausência merencória...
De um passado distante a viva história
Que em nós conserva uma lembrança pura.

Saudade é o silvo agudo de um lamento
Que escutamos no perpassar do tempo
Como sendo delícia e amargura.


Bernardina Vilar

SAUDADE

 

Saudade

Saudade é a imagem pura, viva, acesa
Fixada no olhar enevoado
Pelo pranto que corre com leveza
Sobre um rosto tristonho, amargurado.

Saudade é o riso pálido... É a tristeza
Que agita o peito, o coração magoado...
A despedida... O adeus e a incerteza
De ver em breve aquele ente amado.

Ver na rua a neblina, deslizando
Na bicicleta um vulto desfilando
Lembrando o neto que está distante.

E sentir logo os olhos rasos d’água,
Sentir no peito uma profunda mágoa
Nesta lembrança perenal, constante.

Bernardina Vilar

SAUDADE


Saudade

Saudade é aquela história do passado
Que o amor criou e o tempo destruiu
Mas que ficou no coração gravado
E da recordação nunca fugiu.

É a tristeza, o sonho desmoronado...
Palpitação que em nós se contraiu.
É um vulto, no olhar nunca apagado,
É um golpe que de chofre nos feriu.

É ver morrer um filho tão amado
Vê-lo partir como se um anjo fosse
Com usas de ouro para Deus subindo.

Deixando-nos perplexo, extenuado
Pelo torpor de um sonho que acabou-se
A nossa vida aos poucos destruindo.

Bernardina Vilar

MAIOR SAUDADE

Maior Saudade

Que noite linda! Sim, mas que tristeza
Abrange o ar e acoberta a serra!
O céu imerso em sideral beleza
Chora um pranto de estrelas sobre a terra.

Paira o silêncio em toda a natureza!...
A cortina das sombras se descerra
E a lua brota como vela acesa
Tudo envolvendo no palor que encerra.

Que paz tranqüila! Que serena calma!
E eu pasma em frente à dor que me apavora
Não te encontro e me cresce a ansiedade...

Do pranto o encanto me anuvia a alma
E nesta angústia que me punge agora
Sinto que és tu minha maior saudade.

Bernardina Vilar

Uma saudade a mais

Uma saudade a mais

Saudade a gente sente a qualquer hora:
Do bem maior que se nos vai deixando.
Saudade de um amor que foi embora,
De alguém que parte a nos deixar chorando.

Das venturas que não se tem agora;
Da flor pendida o prado perfumando
Da voz da fonte que aos soluços chora,
Da luz da lua a terra prateando.

Da igreja iluminada onde em criança
Rezamos com inocência e confiança
Preces a Deus com fé tão incontida!

Mas há sempre um lugar em nós guardado
Para abrigar no coração magoado
Um saudade a mais em nossa vida.


Bernardina Vilar