Paixão da vida já ida,
paixão da vida,
toda me cruzaste acesa
na pungência, na aspereza
de lâminas, Paixão da vida
que à morte incita e convida
a caminhar sob o ardor
de um gosto de exausto amor.
Que à noite leva e destrói
e malbarata e, se dói,
dói como um insulto ou murro
e, em silêncio, é mais que um urro.
É mais que o fogo cremando,
mais que o fogo devastando,
paixão da vida tenaz,
um pobre e temido , mas
adversativamente posto
como um sorriso num rosto
retorcido em tetania.
Paixão que devora, fria,
cruel, feroz, insensata,
e crê salvar, quando mata.
Alphonsus de Guimaraens Filho
In Discurso no deserto
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