Seja bem-vindo. Hoje é

outubro 30, 2021



"Primeiro a Chuva, 
depois o Arco-íris.
Se acostume, 
a ordem é essa"

Caio Fernando Abreu

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junho 15, 2021

Al perderte yo a ti...



Al perderte yo a ti...
(Ernesto Cardenal)

Al perderte yo a ti,
tu y yo hemos perdido:
yo por que tu eres
lo que yo más amaba
y tú porque yo era
el que te amaba más.

Pero de nosotros dos,
tú pierdes más que yo:
porque yo podré amar a otras,
como te amaba a ti,
pero a ti no te amarám
como te amaba yo.



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junho 13, 2021

Bilhete




Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

Mario Quintana
De "Esconderijos do Tempo"


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junho 09, 2021

A VIAGEM DEFINITIVA




A VIAGEM DEFINITIVA

Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do campanário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.

Juan Ramón Jiménez 
Tradução de Manuel Bandeira


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Anjos Meus...



Anjos Meus...
(reginahelena)

Os meus anjos são dois
e estiveram  comigo sempre.
Viveram as minhas alegrias,
choraram as minhas tristezas,
ungiram minhas dores,
preparam meus caminhos,
e ainda me deram em vida
a maior de todas as heranças:
- O amor.
Anjos tortinhos, humanos...
Longe da perfeição,
mas sempre viverão em mim.
E ainda que nada mais me reste,
poderei olhar pra trás
e eles ainda estarão em minha vida!
Esses são os meus anjos:
- Minha Mãe, Meu Pai.


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maio 26, 2021

A morte absoluta



A morte absoluta
(Manuel Bandeira)

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.


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maio 25, 2021

Depois de todas as tempestades...


"Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro."


 Caio Fernando Abreu,
do livro "Ovelhas Negras"


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maio 24, 2021

FANATISMO



FANATISMO
(Florbela Espanca)

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ..."


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BORBOLETAS




BORBOLETAS

Azuis e amarelas
borboletas preenchem o ar
que respiro
suas asas percorrem minha
pele,
entram em meu sangue,
deságuam nas mãos com que escrevo
este poema.

Roseana Murray


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maio 23, 2021

A história é tão leve...



"A história é tão leve quanto a 
vida do indivíduo,
 insustentavelmente leve, 
leve como uma pluma, 
 como uma poeira que voa 
como uma coisa que vai
 desaparecer amanhã" 

Milan Kundera,
em, A insustentável leveza do ser


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FOLHAS





FOLHAS

Era uma folha pousada
no cotovelo do vento;
e pairava, deslumbrada,
entre morte e movimento.

Era uma folha: lembrava,
de tão frágil, o momento
em que a vida ficava
escrava do teu juramento.

Era uma folha: mais nada.
Antes fosse esquecimento!

David Mourão-Ferreira
De: Os quatro cantos do tempo


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maio 22, 2021

A VIDA NA CONTRAMÃO



A VIDA NA CONTRAMÃO
(Afonso Estebanez)

Não me embebedo com nada
porém me embriago de tudo
quanto mais me dão porrada
quanto mais me tenho mudo

Minha alma anda para frente
mas meu eu sempre pra trás
o que eu sonho é indiferente
quando peço o amor me traz

Minha vida anda embriagada
entre a aurora e a escuridão
bate em portas sem entrada
e quando entra é contramão

E esse mundo é tão deserto
que a noite me dorme acesa
com temor de não dar certo
meu despertar sem tristeza

E assim meus dias se calam
como as noites sobre o mar
como as rosas que só falam
quando o amor quer escutar.


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maio 20, 2021

VIDRAÇA


VIDRAÇA 

Foi sem querer que abriste uma janela, 
depois fechaste para o sol de outubro. 
Quero saber, então, se diante dela, 
tu me descobres como eu te descubro. 

A gratuidade é quase cega e apela
à contundência do calor mais rubro 
para fingir o que a razão revela 
quando te cobres e eu também me cubro.
 
Os dois não somos o que desde sempre 
o sol tentou mostrar pela vidraça 
que, a contragosto, diz à luz que entre. 

A claridade, assim, não ultrapassa 
um melancólico e sombrio alpendre 
onde chorar enquanto a vida passa. 

(Rogério Camargo)
Do livro: CAPIM MODESTO


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maio 19, 2021

A sombra do Passado



A sombra do Passado
(reginahelena)

a vida fica lá, na  juventude,
mas as lembranças ressoam dentro de nós
e nos acompanham, sempre,
como nossa sombra!  

conforme o sol,  ela muda de lugar
mas não nos larga.
em alguns momentos, some,
mas quando nasce o sol, volta.

assim é o passado... tão longínquo!
pensamos até que é possível 
desligar-se dele, definitivamente,
de tão distante que parece.  

triste engano! ele nos acompanha, 
como a nossa sombra, e, 
conforme tenha sido, nos trás ternura,
alegria, saudade, medo...

ou trás de volta a certeza de que,
nunca deveria ter existido.


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maio 14, 2021

Eu sou o caule ...



(Excerto)

"Eu sou o caule 
dessas trepadeiras sem classe, 
nascidas na frincha das pedras: 
Bravias. 
Renitentes. 
Indomáveis. 
Cortadas. 
Maltratadas. 
Pisadas. 
E renascendo."

Cora Coralina,
De: Minha Cidade


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maio 13, 2021

Quantas vezes...



... Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca


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maio 11, 2021

Se eu te fosse falar...





Se eu te fosse falar...
 (Rogério Camargo)

Se eu te fosse falar da minha vida 
 não falava metade do que posso. 
 No jogo entre a chegada e a partida, 
 sobra sempre o que é meu e não é nosso.

 Sangrando o coração de uma ferida 
 que meus orgulhos erguem do destroço, 
 eu vou e sei que vou e minha ida 
 não é uma amargura que eu adoço.

 Coloco os pés no chão e eles me doem 
 porque devem doer e são leais 
 à lei que os faz e fez e continua.

 Coloco a mão nas nuvens e elas moem 
 com a delicadeza das vestais 
 qualquer riqueza em mim que seja tua. 


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Amei-te sem saberes



"Amei-te sem saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei"

Mia Couto


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maio 02, 2021

ANTÍQUA

(Imagem do Site: poesia.net)


ANTÍQUA

Ali, entre os juncais,
a face de um deus esquecido
reverberava na tarde.
- Tua alma é antiga, junta-te a nós -
chamavam me os juncos, e tremiam
ao meu silêncio - um vento
que eriçava a memória da água.

Fernando Campanella


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maio 01, 2021

Algumas flores



Algumas flores
teimam em viver
apesar do peso
apesar da morte
apesar de algumas
que teimam em morrer
apesar de tudo

Alice Ruiz


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abril 29, 2021

Como a noite é longa!



Como a noite é longa!

Como a noite é longa!
Toda a noite é assim...
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto.
Vem p’r’ao pé de mim...

Amei tanta coisa...
Hoje nada existe.
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste.

Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...

Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,

Dormir a sorrir
E seja isto o fim.

Fernando Pessoa,
De: "Cancioneiro"


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abril 25, 2021

Escrevo diante da janela aberta

I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando.

Mario Quintana, 
De: A rua dos Cataventos


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abril 24, 2021

Hora lilás...



Hora lilás...

Hora lilás, da cor desta saudade
Que não me deixa mais o coração,
Hora em que a alma toda se me invade
Só de tristeza e de desolação ...

Hora em que eu lembro a minha pouca idade
E a minha tão cruel desilusão ...
Tudo se esvai na bruma da saudade,
Essa tão doce e triste cerração ...

Hora lilás, da cor que me entristece,
Desta saudade que jamais esquece
Meu coração cansado de sofrer;

Hora em que eu vivo a vida já vivida,
Hora lilás, da cor da minha vida,
Pois é saudade só o meu viver.

Anrique Paço D’Arcos
in Poesias Completas




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abril 21, 2021

Biografia




Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas
- e não serei eu.

Repetirás o que me ouviste
o que leste de mim e mostrarás meu retrato
- e nada disso serei eu.

Dirás coisas imaginárias,
Invenções sutis, engenhosas teorias,
- e continuarei ausente.

Somos uma difícil unidade,
De muitos instantes mínimos,
- isso serei eu.

Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente.
- como me poderão encontrar?

Novos e antigos todos os dias
transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos procuramos.

E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.
- Que mortal nos poderia prender?”

Cecília Meireles
Em “Poesia Completa – Dispersos (Volume 1)



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abril 20, 2021

Na insônia da madrugada...



Na insônia da madrugada
eu com nada mais me espanto.
Mesmo em idade avançada
jamais encontrei um canto
em que se possa escolher
entre o grito que dia cada,
e o silêncio que diz tanto.

Jenario de Fátima






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abril 17, 2021

A beleza não está...



“A beleza não está na cara; 
a beleza é uma luz no coração.” 

Khalil Gibran


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abril 16, 2021

Não podemos atingir...


Não podemos atingir a
aurora sem passar pela noite.

Kahlil Gibran





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abril 12, 2021

Chuva



Chuva

A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria, 
Continua a cair pela tarde, lá fora.

Da saleta fechada em que estamos os dois, 
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
se um de nós vai falar e recua depois.

Dentro de nós existe uma tarde mais fria...

Ah! Para que falar? Como é suave, branda,
O tormento de adivinhar — quem o faria? —
As palavras que estão dentro de nós chorando...

Somos como os rosais que, sob a chuva fria, 
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
Chove dentro de nós... Chove melancolia...

Ribeiro Couto 


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abril 03, 2021

Solidão



Solidão
(Juan Ramón Jiménez)

Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!

Juan Ramón Jiménez,
in "Diario de Un Poeta Reciencasado"



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abril 01, 2021

A esperança não é a última...



A esperança não é a última 
que morre: é a primeira 
a nascer quando julgamos que 
está tudo perdido.

(Hayede)


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março 31, 2021

Devora-me a palavra...



Devorava-me a palavra não dita. 
Havia um beco escuro, 
acabando com as minhas certezas.

Ana Sandra


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março 30, 2021

Ando tão presa...


Ando tão presa que 
as asas gritam de dor.

Ana Sandra



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março 16, 2021

A solidão era eterna...



A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.

Juan Ramón Jiménez


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Quando eu estiver com as raízes...


Quando eu estiver com as raízes
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.

Juan Ramón Jiménez


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março 15, 2021

Eu não voltarei...



Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.

Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.

E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.

Juan Ramón Jiménez


Agradeço sua visita. 
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Algumas flores...



Algumas flores
teimam em viver
apesar do peso
apesar da morte
apesar de algumas
que teimam em morrer
apesar de tudo

Alice Ruiz


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março 14, 2021

TODAS AS ROSAS...



Todas as rosas são a mesma rosa,
amor!, a única rosa;
e tudo está contido nela,
breve imagem do mundo,
amor!, a única rosa.

Juan Ramón Jiménez

Agradeço sua visita. 
Volte sempre e comente!




ESQUECI TEU ROSTO



...esqueci teu rosto!
Por um breve momento,
esqueci teu rosto.

A serenidade do teu semblante,
o brilho do teu olhar,
a mansidão do teu falar.

esqueci teu rosto
e entrei em pânico!

Impossível viver
sem a nitidez da tua lembrança!

Mas uma luz se acendeu
e tudo voltou!

- a visão de um anjo,
que  nos guiou na infância
e assim permanece, 
apesar dos anos!

Regina Helena


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março 13, 2021

O POEMA DEVE SER COMO...


O poema deve ser como a estrela que
é um mundo e parece um diamante.

Juan Ramón Jiménez


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ARCO-ÍRIS



ARCO-ÍRIS

Choveu tanto esta tarde
Que as árvores estão pingando de contentes.
As crianças pobres, em grande alarde,
Molham os pés nas poças reluzentes.

A alegria da luz ainda não veio toda.
Mas há raios de sol brincando nos rosais.
As crianças cantam fazendo roda,
Fazendo roda como os tangarás:

"Chuva com sol!
Casa a raposa com o rouxinol."

De repente, no céu desfraldado em bandeira,
Quase ao alcance da nossa mão,
O Arco-da-Velha abre na tarde brasileira
A cauda em sete cores, de pavão.

Olegário Mariano,
em Canto da Minha Terra (1930).



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ARAMES


ARAMES

Minha poesia é cheia de lugares comuns
Com alguns quadros espalhados
Dias quase sempre nublados
Tijolos comuns assentados

Ela navega bem longe da filosofia
Pega algum violão emprestado
Às vezes sorri, às vezes chora
Às vezes tenho vontade de ir embora

De caminhar mundo a fora
Pegar carona numa música
Que me faça bem ao ouvir

Minha poesia é como folha solta no vento
Rasgada pelos arames farpados
Por muros que escondem o outro lado

Arnoldo Pimentel


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VOZ DE OUTONO

 
Voz de Outono 
(Antero de Quental) 

Ouve tu, meu cansado coração, 
O que te diz a voz da Natureza:
 — «Mais te valera, nú e sem defesa, 
Ter nascido em aspérrima soidão, 

 Ter gemido, ainda infante, sobre o chão 
Frio e cruel da mais cruel deveza, 
Do que embalar-te a Fada da Beleza, 
Como embalou, no berço da Ilusão!

 Mais valera à tua alma visionária 
Silenciosa e triste ter passado 
Por entre o mundo hostil e a turba vária, 

 (Sem ver uma só flor, das mil, que amaste) 
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado 
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» 

— Antero de Quental, 
em "Sonetos"


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março 12, 2021

A NOITE


A NOITE
(Julia da Costa)

Brilha o céu, mas em vão soluça de brada
A terra ansiosa, com pueril receio!
É densa a treva; nessa paz calada
Funda tristeza nos oprime o seio!

Tudo fenece, embaixo da orvalhada
Repousa o campo de perfumes cheio!
Negro é o mar, a floresta sossegada,
Dormem as aves da espessura em meio!

Embalde a noite traiçoeira e linda
Enche de encanto os bosques e atalhos,
E, enquanto de fulgor o espaço alinda,

Seu manto enfeita de gentis orvalhos:
Mentem os ermos na amplidão infinda!
Mentem as flores a tremer nos galhos!


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LUNAR


LUNAR
(Mário Quintana)

As casas cerraram seus milhares de pálpebras.
As ruas pouco a pouco deixaram de andar.
Só a lua multiplicou-se em todos os poços e poças.
Tudo está sob a encantação lunar...

E que importa se uns nossos artefatos
lá conseguiram afinal chegar?
Fiquem armando os sábios seus bodoques:
a própria lua tem sua usina de luar...

E mesmo o cão que está ladrando agora
é mais humano do que todas as máquinas.
Sinto-me artificial com esta esferográfica.

Não tanto... Alguém me há de ler com um meio sorriso
cúmplice... Deixo pena e papel... E, num feitiço antigo,
à luz da lua inteiramente me luarizo...


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NOTURNO

NOTURNO
(Antero de Quental)

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!


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O CONSELHO DAS ÁRVORES


O CONSELHO DAS ÁRVORES
(Olegário Mariano)

Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes
Que a vida não te alenta nem conforta.
Olha o exemplo das árvores felizes
Dentro da solidão da noite morta.

Que lhes importa a dor, que lhes importa
O drama que há no fundo das raízes?
Não sentem quando o vento os ramos corta
E as folhas leva em várias diretrizes?

Que lhes importa a maldição do outono
E os dedos envolventes da garoa,
Se dão sombra às taperas no abandono?!...

Levanta os braços para o firmamento
E canta a vida porque a vida é boa
Mesmo esmagada pelo sofrimento.


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SILÊNCIO

 

SILÊNCIO
(Medeiros e Albuquerque)

Cala. Qualquer que seja esse tormento
que te lacera o coração transido,
guarda-o dentro de ti, sem um gemido,
sem um gemido, sem um só lamento!

Por mais que doa e sangre o ferimento,
não mostres a ninguém, compadecido,
a tua dor, o teu amor traído:
não prostituas o teu sofrimento!

Pranto ou Palavra - em nada disso cabe
todo o amargor de um coração enfermo
profundamente vilipendiado.

Nada é tão nobre como ver quem sabe,
trancado dentro de uma dor sem termo,
mágoas terríveis suportar calado!


Agradeço sua visita. 
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SOL DE UMA PAIXÃO


SOL DE UMA PAIXÃO
(Claudia Dimer)

Eu te preciso, amor, na solidão
E na alegria mais ensandecida...
Em mim, no meu olhar, na minha vida,
Na fantasia pura e na razão.

Na dor, na paz, no riso de emoção,
Em tudo o que é momento e comovida,
Estática de amor e agradecida
Por seres o meu Sol de uma paixão!

Eu te preciso, as vezes e constante,
Nem que eu me torne estrela fulgurante,
Ou me transforme em lua tão bonita;

Vou precisar-te, afirmo tão fiel...
O que será da lua lá no céu
Se não houver um sol que ela reflita?!


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O MISTÉRIO



O MISTÉRIO
(Tasso da Silveira)

Quem sentiu a angústia verdadeira?
Quem penetrou o fundo dessa dor?
Tomam todos o brilho da lareira
pela estrela (tão alta!) do pastor ...

Soluçando e cantando é que a alma inteira
escondes por orgulho ou por pudor,
para guardá-la, assim, da humana poeira,
dentro desse mistério redentor!

Nunca ninguém te soube ver, disperso
no teu canto sentido, a dor que avulta
dia a dia ... O secreto, íntimo mal,

que é presente e invisível no teu verso,
como o perfume de uma flor oculta
como Deus na grandeza universal! ...



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SONHOS MORTOS


 SONHOS MORTOS
(Pe. Antônio Tomaz)

Tive sonhos azuis, na mocidade,
Que vinham, como pássaros em festa,
Encher-me o seio – um canto de floresta –
De gratos sons, de viva alacridade.

Mas um dia a cruel realidade
Pôs-lhes em cima a rude mão funesta
E exterminou-os... Nenhum mais me resta
Na minha negra e triste soledade.

Hoje o meu seio inerte, mudo e frio,
Se converte em túmulo sombrio
Por sobre o qual gementes e tristonhos,

Alvejantes fantasmas se debruçam:
São as meigas saudades que soluçam
Sobre o jazigo eterno dos meus sonhos.



Agradeço sua visita. 
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