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maio 20, 2021

VIDRAÇA


VIDRAÇA 

Foi sem querer que abriste uma janela, 
depois fechaste para o sol de outubro. 
Quero saber, então, se diante dela, 
tu me descobres como eu te descubro. 

A gratuidade é quase cega e apela
à contundência do calor mais rubro 
para fingir o que a razão revela 
quando te cobres e eu também me cubro.
 
Os dois não somos o que desde sempre 
o sol tentou mostrar pela vidraça 
que, a contragosto, diz à luz que entre. 

A claridade, assim, não ultrapassa 
um melancólico e sombrio alpendre 
onde chorar enquanto a vida passa. 

(Rogério Camargo)
Do livro: CAPIM MODESTO


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