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março 28, 2012
A flor tem linguagem...
A flor tem linguagem de que a sua semente não fala
A raiz não parece dar aquele fruto
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem
Retirada a linguagem
A semente é igual a flor
A flor igual a fruto
Fruto igual a semente
Destino igual a devir.
E era o que se pedia: igual.
Almada Negreiros
março 22, 2012
RENÚNCIA
RENÚNCIA
Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe,
toda a expressão do humano sofrimento.
A gente esquece assim como se fosse
um vôo de andorinha em céu nevoento.
Anoiteceu de súbito. Acabou-se
tudo... A miragem do deslumbramento...
Se a vida que rolou no esquecimento
era doce, a saudade inda é mais doce.
Sofre de ânimo forte, alma intranqüila!
Resume na lembrança de um momento
teu amor. Olha a noite: ele cintila.
Que o grande amor, quando a renúncia o invade
fica mais puro porque é pensamento,
fica muito maior porque é saudade.
Olegário Mariano
Retrato de Olegário Mariano, por Cândido Portinari
OLEGÁRIO MARIANO
(1889-1958)
Olegário Mariano Carneiro da Cunha, poeta, diplomata, deputado federal e constituinte, nasceu em Recife, Pernambuco, Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Segundo os biógrafos da Academia Brasileira de Letras, da qual foi membro, “sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o "poeta das cigarras", por causa de um de seus temas prediletos
Obra literária: Angelus, 1911; Sonetos, 1912; Evangelho da sombra e do silêncio, 1912; Água corrente, 1918; Últimas cigarras, 1920; Castelos na areia, 1922; Cidade maravilhosa, 1923; Ba-ta-clan, 1924; Canto da minha terra, 1930; Destino, 1931; Teatro, 1932; Vida, caixa de brinquedos; O enamorado da vida, 1937; Da cadeira 21, 1938; Quando vem baixando o crepúsculo, 1945; A vida que já vivi,1945; Cantigas de encurtar caminho, 1949; Tangará conta histórias, 1953; Correio sentimental; Toda uma vida de poesia, 2 volumes, 1957.
Fonte: Site Antônio Miranda
março 21, 2012
Para os erros há perdão...
"Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."
Luis Fernando Veríssimo
março 20, 2012
O que tem de ser...
"O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde. Não se perca, viu?"
Caio Fernando Abreu
Às vezes é preciso
março 14, 2012
E quando a tempestade tiver passado...
“E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa: Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.”
(Haruki Murakami)
março 13, 2012
UM PÔR DE SOL
UM PÔR DE SOL
A natureza se transforma lenta!
Fica o ocaso mais rubro! Mais bonito!...
O sol, na sua marcha sonolenta,
Mergulha na janela do infinito!
Tudo é silente! Nem sequer um grito
Se escuta pela tarde pardacenta...
O mundo todo torna-se esquisito
E a noite desce plácida e friorenta!...
O sol com os raios seus já sem fulgores,
No desespero dos seus estertores,
Solta um beijo de luz, tinge o arrebol!...
O poeta fica no delírio imerso!
Contemplando os mistérios do universo
No quadro divinal de um por de sol!
Jansen Filho
In: Obras Completas
março 12, 2012
Jardim Perdido
Jardim Perdido
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão,
A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava,
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidade e suspensão.
Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
Sophia de Mello Breyner Andresen
março 11, 2012
LÁGRIMAS OCULTAS
LÁGRIMAS OCULTAS
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
março 09, 2012
No momento
março 07, 2012
MADRUGADA
MADRUGADA
No seu leito de plumas alvejantes
Feito de nuvens brancas de algodão
O sol ainda dorme repousante
Mergulhado na paz da imensidão.
O silêncio é completo. E ofegante
O silêncio é completo. E ofegante
A madrugada se estremece, então;
No sepulcral silêncio extasiante
Nem um gemido ecoa na amplidão.
A estrela Dalva vagarosa, lenta,
A estrela Dalva vagarosa, lenta,
Brilha do espaço sideral da altura
Num gesto vislumbrante de magia.
E nesta apoteose se apresenta,
E nesta apoteose se apresenta,
Da passarada, um coro de doçura
Que vem saudar o despertar do dia.
Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)
Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade!’ (1995)
março 06, 2012
Fosse a pedra só...
[...]Fosse a pedra só, e seria desolação, deserto. Mas a vida cresceu sobre a pedra – e vieram os pássaros, as borboletas, as abelhas, os pequenos animais. Coitada da pedra! É inútil reclamar. A vida e a beleza crescem sobre ela, a despeito da sua mesmice pétrea. As sementes – frágeis - são mais fortes que a pedra – dura.
Rubem Alves
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