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junho 19, 2011
INTERREGNO
INTERREGNO
Meus ouvidos ouviram
A tua súplica, dormitando
que estavas em mim
Meus olhos te viram na penumbra
E te enlaçaram
postos em ti
Minhas mãos tateando o tempo
Encontraram o vento.
levando a mim e a ti
Minha voz, rouca, acordou
Murmúrios de sonhos
que estavam aqui
Meus lábios entreabertos, então
Na flacidez da manhã
encontraram os teus
E fomos tão somente você em mim
Eu em você...
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
junho 17, 2011
JARDIM SEM ANJOS
JARDIM SEM ANJOS
Essas flores não têm mais perfume
Esqueça as trovas que ouviu nas noites
Enluaradas em que sonhava com um amor
Que poderia haver entre as janelas do quarto
Olhe bem as camadas que escondem as palavras
Que foram jogadas ao vento na intenção de iludir
As mariposas que vagavam perto das luzes de névoa
Sem pergaminhos para escrever o que ouvia no coração
Sinta o gosto da ferida que foi deixada
No corte que não sangrou porque a pele de cimento
Ainda existe na solidão pintada no vidro
Com as mãos que foram tocadas pela ponte sobre o rio seco
O jardim florido está perdendo as asas de anjo
E as rosas vermelhas estão deixando de ser ouvidas
Porque o vento está soprando na direção do leste
E tentando mostrar ao seu coração que jamais existiram flores no quadro
Talvez o mundo do coração não seja ilusório
E as gotas de suor que escorreram pela sombra
Ainda seja a melhor tatuagem para carimbar a estrela cadente
Que partirá do mundo de sombras que iludiu a madrugada com desamor
Eu sei que ainda vou sorrir durante a chuva que cairá na estrada
Mas o sorriso amargo na minha face é a prova que sairei inteiro
Depois do vendaval que fará sucumbir o jardim sem anjos
Onde só ficará quem realmente se deixar enganar depois do amanhecer
Arnoldo Guimarães dos Santos Pim
junho 13, 2011
CANÇÃO OCULTA
CANÇÃO OCULTA
A onda de mar e céu, redonda,
durou nos ares um sorriso.
Nenhum poder claro ou inviso
deteve no ar a débil onda.
Um esvair-se em vácuo e treva
do vôo da ave itercadente.
Música silenciosamente
mergulhada, que o tempo leva.
O sonho côncavo buscando-se
no aço do espelho convexo,
que ria incólume, sem sexo,
sem uma imagem, mas brilhando.
O gesto de nuvens e de águas,
a aragem, a palavra, a rosa,
a intraduzível, soluçosa
sombra de vento sobre as águas.
Abgar Renault
In: Obra Poética
Agradeço sua visita.
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SOLIDÃO
SOLIDÃO
O rio se entristece sob a ponte.
Substância de homem na torrente escura
flui, enternecimento ou desventura,
misturada ao crepúsculo bifronte.
Antes que débil lume além desponte,
a sombra, que se apressa, desfigura
e apaga o casario em sua alvura
e a curva esquiva e sábia do horizonte.
Os bois fecham nos olhos os arados,
o pasto, a hora que tomba das subidas.
Dorme o ocaso, pastor, entre as ovelhas.
Sobem névoas dos vales fatigados
e das árvores já enoitecidas
pendem silêncios como folhas velhas.
29.12.51
Abgar Renault
In: Obra Poética
Agradeço sua visita.
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junho 02, 2011
SONETO EM AMARELO
Deixo-te a fragrância da erva-doce,
As sílabas aladas de um poema,
O conforto seco de uma novena;
Deixo-te tudo que comigo eu trouxe.
Quando nas tuas ideias flutuantes,
Vires minha silhueta no orvalho
Ou na grandiosidade de um carvalho,
Estarei no amor que tu me abranges.
Da ausência que me faz presente em ti,
Florescem surrealismos de Dali
Nos canteiros áuricos de Van Gogh.
Naquela tarde, adiante de um iogue,
Serei eu a retornar sobre os raios de sol,
Silenciosa tal qual um caracol.
(Luciene Lima Prado)
Tristes Memórias
A minha voz não te toca...emudeceu
Sinto a melancolia... de ti...em mim
Nos olhos o vazio...que nos meus esmoreceu
Calados e distantes...vivemos assim
No teu silêncio... és noite fechada
És...estás distante...o amor morreu
Nem te apercebes que sou noite cerrada
Vivi em ti...hoje em mim...a solidão cresceu
Memórias antigas...perdidas no tempo
Nas palavras esquecidas...na boca calada
Sou corpo ausente...fantasma no vento
Nos sentires da saudade...sou vida acabada
Sou vazio...sou silêncio...sombra triste
Sou resto de ti...que ficou em mim
Nesta angustia...que no meu peito resiste
Caminho sem volta... horizonte sem fim
Na fronteira da memória...palavras por dizer
Paro o tempo...no despontar da aurora
Esqueço o pensamento...na raíz do querer
Traços de desgosto...dor que me apavora
Sou alma só...escrevo a vida em verso
Abismo na morte...no abandono de ti
No passar do tempo...nas rimas que esqueço
Nas lágrimas que choro...choro por mim
Sonhadora
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