Por que chorar de saudade,
se me resta o longo mar sonoro e vário,
a flor perfeita, a estrela certa,
e a canção que o pássaro vai bordando no vento?
Por que chorar de saudade,
se me resta um jardim de palavras,
e os bosques do eco
e estes caminhos da memória me pertencem?
Por que chorar pelo que me levais,
se é maior o que fica:
se a sombra em que vos recordo é mais bela que o vosso vulto,
se em vós morreis e em mim ressuscitais?
É melhor não ficar jamais com quem nos ama.
O amor é um compromisso de grandeza,
o amor é uma vigília incansável
e aparentemente vã.
Passai, parti, deixai-me, vós que, no entanto,
parecestes um momento mais adoráveis
que o mar, que a flor, que a estrela,
que a canção que um frágil pássaro vai bordando no vento...
Éreis o vento, apenas.
Cecília Meireles