Seja bem-vindo. Hoje é
maio 31, 2012
SOLIDÃO
SOLIDÃO
(Luiz Carlos de Oliveira)
Pedra em forma de grito,
que silencia
na turbulência vaga...
Eco perdido nas horas
que sangram...
Sombra refletida na alma.
Dor profunda.
Fuga no apalpar,
desolação no sentir,
inquietude.
Da vasta impressão,
o nada,
ante a imensidade sem resposta...
Vazio.
TU ÉS A ESPERANÇA
Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade,
In: 'As Mãos e os Frutos'
Nasceste nas tardes de setembro
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade,
In: 'As Mãos e os Frutos'
VINHO
A TAÇA foi brilhante e rara,
mas o vinho de que bebí
com os meus olhos postos em ti,
era de total amargura.
Desde essa hora antiga e preclara,
insensìvelmente descí,
e em meu pensamento sentí
o desgôsto de ser criatura.
Eu sou de essência etérea e clara:
no entanto, desde que te ví,
como que desapareci...
Rondo triste, à minha procura.
A taça foi brilhante e rara:
mas, com certeza enlouquecí.
E dêsse vinho que bebí
se originou minha loucura.
Cecília Meireles ,
in Viagem
maio 30, 2012
A CASA DO TEMPO PERDIDO
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.
O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.
Carlos Drummond de Andrade
ESTA SAUDADE
Esta saudade és tu... E é toda feita
de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dos anseios de amor, coagulados.
Esta saudade és tu... É esse teu jeito
de pomba mansa nos meus braços quieta;
é a tua voz tecida de silêncio
nas palavras de amor que ainda sussurram...
Esta saudade são teus seios brancos;
tuas carícias que ainda estão comigo
deixando insones todos os sentidos.
Esta saudade és tu... é a tua falta
viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
... enquanto eu morro no meu pensamento.
J. G. de Araujo Jorge
de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dos anseios de amor, coagulados.
Esta saudade és tu... É esse teu jeito
de pomba mansa nos meus braços quieta;
é a tua voz tecida de silêncio
nas palavras de amor que ainda sussurram...
Esta saudade são teus seios brancos;
tuas carícias que ainda estão comigo
deixando insones todos os sentidos.
Esta saudade és tu... é a tua falta
viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
... enquanto eu morro no meu pensamento.
J. G. de Araujo Jorge
LEIO-TE
Leio-te: — o pranto dos meus olhos rola:
— Do seu cabelo o delicado cheiro,
Da sua voz o timbre prazenteiro,
Tudo do livro sinto que se evola ...
Todo o nosso romance: - a doce esmola
Do seu primeiro olhar, o seu primeiro
Sorriso, - neste poema verdadeiro,
Tudo ao meu triste olhar se desenrola.
Sinto animar-se todo o meu passado:
E quanto mais as páginas folheio,
Mais vejo em tudo aquele vulto amado.
Ouço junto de mim bater-lhe o seio,
E cuido vê-Ia, plácida, a meu lado,
Lendo comigo a página que leio.
Olavo Bilac
maio 29, 2012
AS PEQUENAS PALAVRAS
De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.
De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.
De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.
Rosa Lobato de Faria
maio 28, 2012
SONHO DOMADO
Sei que é preciso sonhar.
Campo sem orvalho, seca
A frente de quem não sonha.
Quem não sonha o azul do voo
perde seu poder de pássaro.
A realidade da relva
cresce em sonho no sereno
para não ser relva apenas,
mas a relva que se sonha.
Não vinga o sonho da folha
se não crescer incrustado
no sonho que se fez árvore.
Sonhar, mas sem deixar nunca
que o sol do sonho se arraste
pelas campinas do vento.
É sonhar, mas cavalgando
o sonho e inventando o chão
para o sonho florescer.
Thiago de Mello
MARIO QUINTANA
maio 24, 2012
O SINAL DA CRUZ
Se é preciso lutar para ser forte,
Se é preciso sofrer para ser puro,
Em luta e sofrimento a vida apuro,
Para tranquilo merecer a morte.
Hei lutado e sofrido de tal sorte
Que, a tantas provações, meu ser impuro
Sonha atingir a perfeição que auguro
Em resignado e místico transporte.
A existência de lutas e de penas,
Como um cardo florindo entre os abrolhos,
Vou bendizendo pelo bem que faço.
E quando a morte vier, resta-me apenas
Juntar as mãos e levantar os olhos
Para o que exista em luz além do espaço.
Da Costa e Silva
Se é preciso sofrer para ser puro,
Em luta e sofrimento a vida apuro,
Para tranquilo merecer a morte.
Hei lutado e sofrido de tal sorte
Que, a tantas provações, meu ser impuro
Sonha atingir a perfeição que auguro
Em resignado e místico transporte.
A existência de lutas e de penas,
Como um cardo florindo entre os abrolhos,
Vou bendizendo pelo bem que faço.
E quando a morte vier, resta-me apenas
Juntar as mãos e levantar os olhos
Para o que exista em luz além do espaço.
Da Costa e Silva
NA TARDE AZUL E TRISTE...
O meu jardim amanhecera
Constelado de brancas margaridas,
Que orvalhadas, ao sol, eram estrelas
Desencantadas e pensativas...
Depois, na tarde azul e triste,
A terra abriu-se para receber-te!
Adormeceste para sempre,
Baixando à terra com as margaridas...
E à noite o céu era um jardim do Oriente
Florindo em luzes pela tua vinda!
Anoitecia no meu pensamento...
Constelado de brancas margaridas,
Que orvalhadas, ao sol, eram estrelas
Desencantadas e pensativas...
Depois, na tarde azul e triste,
A terra abriu-se para receber-te!
Adormeceste para sempre,
Baixando à terra com as margaridas...
E à noite o céu era um jardim do Oriente
Florindo em luzes pela tua vinda!
Anoitecia no meu pensamento...
Da Costa e Silva
maio 23, 2012
ONESTALDO DE PENNAFORT
FERNANDO PESSOA
maio 22, 2012
ESSA MULHER , A DOCE MELANCOLIA
SAUDADE
Saudade é o cantar apaixonado
De um sabiá em tarde branda e linda;
É o espelho indelével do passado
Com a imagem de alguém que se ama ainda.
Saudade é um riso triste, amargurado,
Disfarçando uma dor cruel, infinda...
Bater de um coração descompassado
Na avidez de esperar provável vinda.
É a noite mal dormida, o olhar sofrido;
Dentro de nós o peito dolorido
Prestes a explodir de ansiedade...
É a lágrima discreta, comovente,
Rolando pela face, lentamente
Acolhendo terrível realidade.
Bernardina Vilar
De um sabiá em tarde branda e linda;
É o espelho indelével do passado
Com a imagem de alguém que se ama ainda.
Saudade é um riso triste, amargurado,
Disfarçando uma dor cruel, infinda...
Bater de um coração descompassado
Na avidez de esperar provável vinda.
É a noite mal dormida, o olhar sofrido;
Dentro de nós o peito dolorido
Prestes a explodir de ansiedade...
É a lágrima discreta, comovente,
Rolando pela face, lentamente
Acolhendo terrível realidade.
Bernardina Vilar
FERNANDO PESSOA
maio 21, 2012
VIOLINOS EM FESTA
maio 18, 2012
Á MANEIRA DE...
maio 15, 2012
EU...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
in ‘Mensageira das Violetas’
ERRANTE
Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.
Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura...
Meu coração não chega lá decerto...
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto...
Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!
Florbela Espanca
in ‘Mensageira das Violetas’
NO SILÊNCIO DOS OLHOS
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
José Saramago
In ‘Os Poemas Possíveis
maio 08, 2012
FIM DE OUTONO
Fim de outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...
Tudo seco pelas hortas,
Grandes lágrimas no chão
Nem uma flor pelos montes,
Tudo numa quietação
Soluça numa oração
O triste cantar das fontes.
Fim de outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...
A terra fechou as portas
Aos beijos do sol ardente,
E agora está na agonia...
Valha à terra agonizante
A Santa Virgem Maria!
Fim de Outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...
Fernanda de Castro
maio 06, 2012
RAINER MARIA RILKE
CANÇÃO DA MIRADA SECRETA
Foram-se os amores que tive
ou me tiveram. Partiram
num cortejo silencioso e iluminado.
A solidão me ensina
a não acreditar na morte
nem demais na vida: cultivo
segredos num jardim
onde estamos eu, os sonhos idos,
os velhos amores e os seus recados,
e os olhos deles que ainda brilham
como pedras de cor entre as raízes.
Lya Luft
LYGIA FAGUNDES TELLES
"Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa
e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho.
Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco,
lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento,
abro todos os portões e quando vejo
a alegria está instalada em mim."
e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho.
Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco,
lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento,
abro todos os portões e quando vejo
a alegria está instalada em mim."
Lygia Fagundes Telles
In:As meninas
URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
MEMÓRIA
ESSA LEMBRANÇA QUE NOS VEM
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
MÁRIO QUINTANA
WILLIAM SHAKESPEARE
A vida é...
A vida é uma viagem de trem!
Com estações, cidades e estradas.
Flores em algumas paisagens,
pedras ou espinhos em outras.
Às vezes, numa noite tenebrosa,
um temporal imenso!
Depois, um dia primaveril,
onde tudo nos sorri.
Pode ser uma longa viagem...
Ou apenas um pequeno passeio!
É um trem que nunca para,
ou para apenas para que
uns entrem e outros saiam...
... incessantemente!
Regina Helena
...E eu esqueci teu rosto!
...E eu esqueci teu rosto!
Por um breve momento,
esqueci teu rosto.
A serenidade do teu semblante,
o brilho do teu olhar,
a mansidão do teu falar.
Eu esqueci teu rosto
e entrei em pânico!
Impossível viver
sem a nitidez dessas lembranças!
Mas uma luz se acendeu
e tudo voltou!
- a visão de um anjo,
que nos guiou na infância
e assim permanece, apesar dos anos!
Regina Helena
Por um breve momento,
esqueci teu rosto.
A serenidade do teu semblante,
o brilho do teu olhar,
a mansidão do teu falar.
Eu esqueci teu rosto
e entrei em pânico!
Impossível viver
sem a nitidez dessas lembranças!
Mas uma luz se acendeu
e tudo voltou!
- a visão de um anjo,
que nos guiou na infância
e assim permanece, apesar dos anos!
Regina Helena
maio 04, 2012
QUASE NADA
NO CORAÇÃO ,TALVEZ
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.
José Saramago,
in "Os Poemas Possíveis"
PABLO NERUDA
LOUVAÇÃO PARA UMA COR
LOUVAÇÃO PARA UMA COR
O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa,
o amarelo furável.
Ao meio-dia as abelhas, o doce ferrão e o mel.
Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo.
Este dentro, o minúsculo.
Da negritude das vísceras cegas,
amarelo e quente, o minúsculo ponto,
o grão luminoso.
Distende e amacia em bátegas
a pura luz de seu nome,
a cor tropicardiosa.
Acende o cio,
é uma flauta encantada,
um oboé em Bach.
O amarelo engendra.
O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa,
o amarelo furável.
Ao meio-dia as abelhas, o doce ferrão e o mel.
Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo.
Este dentro, o minúsculo.
Da negritude das vísceras cegas,
amarelo e quente, o minúsculo ponto,
o grão luminoso.
Distende e amacia em bátegas
a pura luz de seu nome,
a cor tropicardiosa.
Acende o cio,
é uma flauta encantada,
um oboé em Bach.
O amarelo engendra.
Adélia Prado
Agradeço sua visita.
Volte sempre e comente!
ROXO
Roxo aperta.
Roxo é travoso e estreito.
Roxo é a cordis, vexatório,
uma doidura pra amanhecer.
A paixão de Jesus é roxa e branca,
pertinho da alegria.
Roxo é travoso, vai amadurecer.
Roxo é bonito e eu gosto.
Gosta dele o amarelo.
O céu roxeia de manhã e de tarde,
uma rosa vermelha envelhecendo.
Cavalgo caçando o roxo,
lembrança triste, bonina.
Campeio amor pra roxeamar paixonada, o
roxo por gosto e sina.
Adélia Prado
Agradeço sua visita.
Volte sempre e comente!
Assinar:
Postagens (Atom)